Capítulo XXIX

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A Coca-Cola zero borbulhou dentro do copo assim que Caroline a derramou da lata. Ela esperou a espumar baixar e deu o primeiro gole. Fechou os olhos e apreciou o líquido gelado descer por sua garganta, soltando uma exclamação de satisfação logo depois.

— Isso tudo é abstinência? — Sheilla indagou, claramente implicando com a amiga.

Carol balançou a cabeça positivamente.

— Sim. Ficar longe das minhas coisas favoritas é difícil demais da conta.

Sheilla riu e aproveitou para fazer um drama, dizendo que Carol ficava vários dias sem falar com ela e que aquilo só podia significar uma coisa. A neurocirurgiã ignorou todo o chororô canceriano e concentrou-se em seu refrigerante.

Estavam Caroline, Sheilla, Gabriela e Pri Daroit na área externa do hospital, sentadas em bancos de madeira e aproveitando a tarde de quarta-feira. Incrivelmente, todas conseguiram um intervalo ao mesmo tempo e reuniram-se para colocar o papo em dia. Ou, como Caroline preferiu dizer, para fofocar.

Com o pôr-do-sol ao fundo, as quatro engataram em uma conversa sobre o fim de ano que se aproximava. Priscila disse que não poderia, como sempre, viajar para lugar algum – não tem, realmente, como prever se uma grávida entrará em trabalho de parto ou não –, então ficaria na cidade. Sheilla contou que ficaria com as gêmeas no natal e queria fazer uma coisa bem bacana para elas naquele ano; "alguma coisa com significado" foram as palavras dela. Caroline, que não tinha plano algum para as festas, ofereceu sua ajuda à Sheilla, que prontamente aceitou e complementou a ideia, sugerindo que elas comemorassem o feriado na casa dela e com todas as outras que quiserem participar. Então, como verdadeiras ansiosas que são, começaram a colocar as ideias que tinham para jogo. Priscila gostou da coisa de natal entre amigos e juntou-se às outras duas, enquanto Gabriela estava distraída roubando pães de queijo da sacola de papel que sua namorada segurava.

— Mas e você, Gabi? — Daroit chamou. A morena arregalou os olhos e parou com um pãozinho na metade do caminho até sua boca. — Vai passar o natal com suas enteadas? — completou, com um ar divertido no rosto.

Gabriela devolveu o pão de queijo à sacola, sob um olhar não muito amistoso de Sheilla e deu um gole em seu café antes de responder.

— Sim! Já tínhamos conversado sobre isso e eu tô' bem animada — ela disse, com um sorriso no rosto. Castro não resistiu e sorriu também, ainda que mais tímida, ao ver sua namorada brilhar ao falar de suas filhas. — Até comentei com as meninas no sábado, antes da Rosa ir embora, que decidi ficar em Belo Horizonte por elas e tudo. Elas são uma graça, de verdade.

Caroline sorriu e franziu o cenho ao mesmo tempo. Ela nem mesmo sabia que essa combinação de expressões era possível. Mas ela estava encantada com a animação de Gabriela ao falar das gêmeas e... confusa.

— Antes da Rosa ir embora? — resolveu confirmar o que pensou ter ouvido.

— É, se não me engano foi antes, sim — Gabi disse, com certa dúvida. Levou uma mão ao queixo para pensar. — A Sheillinha falou dos e-mails, eu comentei com elas e ela foi pra casa quando a gente começou o bolão. Isso, isso mesmo.

Gattaz murmurou qualquer coisa que tivesse a ver com ela estar entendendo a linha do tempo construída por Guimarães e não falou mais nada. Então, era isso.

No sábado, Rosamaria havia dito, em ligação, que tinha ficado para dormir na casa de Carolana. Recusando, inclusive, um convite dela. O que, de acordo com Gabriela, não aconteceu. Rosa mentiu. Não estava lá. Carol respirou fundo.

Se ela não estava mais na Carolana e foi para casa, por que não disse? Se ela realmente foi para casa e, simplesmente, por algum motivo, queria ficar sozinha, por que não disse? A menos que...

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