Capítulo XX

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Escuridão.

De olhos fechados e presa em um lugar que ela não sabia onde era, a escuridão era tudo que via.

Um barulho incessante também chamava sua atenção.

Pling, pling.

Mais uma vez, não soube o que era.

Sua garganta seca e dores nos braços era o que podia, de fato, sentir naquele momento. Com os pensamentos turvos em uma cabeça que parecia flutuar, decidiu que tentaria abrir os olhos.

Devagar e com muito esforço, ela conseguiu fazer com que eles ficassem entreabertos. O suficiente para que ela enxergasse parte do cômodo.

Ainda estava escuro, mas agora ela sabia que era pela iluminação amena do quarto, que por pouco não era aconchegante. Seus olhos ardiam conforme movimentavam-se dentro dos globos, mas ela queria entender onde estava.

Reconheceu o lugar, era o hospital. O meu hospital. Mas, não satisfeita, moveu a cabeça, lentamente, para a esquerda. Lá, ela enxergou o lado de fora do quarto – paredes de vidro.

Mas no canto, entre uma parede de vidro e um armário de suprimentos, tinha alguma coisa que ela não conseguia entender o que era.

Piscou.

Quando seus olhos conseguiram um foco um pouco melhor, a imagem se formou, ainda que borrada.

Uma mulher estava encolhida em uma poltrona de acompanhantes muito pequena para o seu tamanho e em uma posição que não parecia muito confortável. Sua identidade foi revelada pelo modo como as mechas loiras estavam presas – metade delas em um coque (que, dessa vez, estava bagunçado).

Com os braços cruzados, as pernas emboladas o quanto podiam em cima da poltrona e com a cabeça apoiada no jaleco dobrado, Rosamaria dormia.

Ao constatar quem era, a mulher tentou se mexer para alcançá-la, mas sem sucesso. Seu braço esquerdo estava tomando por faixas e coisas que ela não soube o que eram e o direito estava amarrado em dezenas de fios e alguns acessos (dolorosos). Sem forças para falar, ela suspirou.

E se arrependeu imediatamente. Uma pontada percorreu seu abdômen quando o ar entrou em seus pulmões, ela não sabia o porquê. Decidiu que não faria aquilo de novo.

Olhou mais uma vez para a loira que dormia. Tudo que queria, naquele momento, era olha-la nos olhos. Lindos, pelo que ela se lembrava.

Mas, embalada pelas dores – que vinham de lugar nenhum, e por todos os lados – e pelo nevoeiro em seus pensamentos, Carol sucumbiu.

***

Tudo acontece muito rápido.

Médicos correndo de um lado para o outro, em volta de Carol, os monitores apitam sem parar.

Mari trabalha em parceria com as mãos ágeis de Gabriela, que estão cobertas de vermelho com a tentativa da residente de estancar o sangue da ferida aberta.

Os grampos que soltaram da cirurgia anterior estão espalhados pelos chão, junto com as inúmeras gases ensanguentadas. O quarto tem um cheiro metálico fortíssimo, que deixa Rosamaria enjoada.

A catarinense encara sua amiga e seu corpo inteiro se arrepia. Gabriela tem um olhar desesperado em seu rosto – os grampos soltaram, tem sangue por todo lado, os medicamentos não funcionam, os apitos das máquinas aceleram.

Deu tudo errado.

Rosa sente o ímpeto de ajudá-las a fazer alguma coisa, qualquer coisa, para salvar Caroline, mas não consegue. Seus pés não se movem.

The brain's heartWhere stories live. Discover now