Capítulo XXVII

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— Vamo' lá, galera — Gabriela começou. — Fazer a residência pela segunda vez não pode ser pior do que a primeira.

Tudo bem. Ela tem um ponto. Foi o que Rosamaria pensou enquanto encarava suas amigas.

Era sábado. era sábado. Dia do resultado. Ou dia do Apocalipse, como os residentes do Centro Médico estavam chamando.

Rosamaria e suas amigas combinaram, no dia anterior, de se encontrarem na sala de residentes para descobrirem seus destinos juntas. A maioria delas chegou apressando umas às outras e reclamando o quanto fora difícil esperar até o meio da manhã para conferir. O e-mail chegou às sete em ponto, mas todas foram capazes de segurar a ansiedade até que todas estivessem reunidas.

A catarinense, contudo, esperaria tranquilamente o resto do dia. O não saber, de repente, era uma alternativa melhor do que o fracasso.

Mas ela já estava ali. A um toque na tela de seu celular de saber se tudo valera a pena. Tantos anos, tanto dinheiro, tantos amores que passaram por ela para esse e-mail ser bem-vindo.

Rosa respirou fundo. A tensão era quase palpável na sala. O silêncio soava alto e as deixava estáticas, olhando a tela dos aparelhos, esperando alguém tomar algum tipo de iniciativa. Surpreendendo à todas, Anne foi quem falou.

— No três e a gente abre? — sugeriu. As outras foram concordando aos poucos, com palavras de afirmação e acenos de cabeça. Carolana entrelaçou seus dedos nos da namorada e posicionou o cursor do computador em algum lugar da tela.

Tá' bom. É agora. Rosamaria, que estava sentada em um dos tantos bancos distribuídos pela sala, endireitou a coluna, apresentando a postura perfeita que nunca teve.

Gabriela fechou os olhos por um momento e respirou fundo. Roberta secou o suor das mãos e segurou firme o celular.

— Um.

Anne começou a contar.

Rosa soltou uma lufada de ar dos pulmões.

— Dois.

Ela sentiu seu coração disparar e um calafrio percorrer toda a sua espinha. De repente, o ar parecia pouco para todas as mulheres na sala.

— Três!

Como se fosse sua última missão de vida, ela clicou no primeiro e-mail da caixa de entrada.

***

Com passos largos, o coração acelerado e o celular em mãos, Rosamaria saiu andando pelos corredores do hospital.

Passou por Sheilla e Brait fofocando em um carrinho de café e ignorou quando foi chamada pela enfermeira. Seguiu andando rápido em direção à sala dos atendentes. Rosa precisou se controlar para não sair entrando de qualquer maneira pela sala, mas conseguiu se conter e bateu os nós dos dedos urgentemente no móvel branco. Quem atendeu era justamente quem a residente procurava.

— Vem aqui, preciso falar contigo. Rápido!

Caroline franziu as sobrancelhas por estranhar a urgência na voz da namorada, mas obedeceu e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.

— Que foi, Rosa? Cê' tá' bem?

Rosamaria não disse nada. Ao invés disso, colocou a tela do celular na frente do rosto de Carol. Para falar a verdade, ela quase golpeou o rosto da namorada com o celular aceso, de tão ansiosa que ela estava para mostrar o conteúdo da tela. Gattaz, depois de se recuperar do susto de quase receber um cruzado de direita direto em seu rosto, precisou afastar um pouco o aparelho de seus olhos para entender o que a namorada queria lhe mostrar.

The brain's heartWhere stories live. Discover now