Capítulo VIII

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- ...e daí que eu respiro e tô' sendo arrogante, tô desobedecendo, e não sei mais o q-

- Rosamaria! - exclamou Carolana - Eu juro que se, depois que o jogo começar, você continuar reclamando de trabalho eu te jogo pra fora desse apartamento na base do chute! - afirmou.

A loira calou a boca imediatamente, olhando surpresa para a amiga, que estava em pé em sua frente.

- Já não basta que só trouxe dois pacotes de batatinha, ainda vai ficar falando igual a uma matraca? - Carol completou.

- É a tua batata preferida! - Rosa se defendeu.

- Você trouxe dois pacotes pra oito pessoas! - Gabi entrou na conversa - E se tirar o ar fica um pacote só.

Rosamaria revirou os olhos.

- Vocês não sabem apreciar meus esforços, sinceramente - disse, abrindo uma garrafa de cerveja.

- Ninguém entende o trabalho que dá passar dez minutos no mercado amiga, não liga pra elas - Brait defendeu.

- Pois é - Rosamaria concordou.

Elas continuaram discutindo sobre o que cada uma havia levado para comer até a partida iniciar. Foi um jogo tenso, com cinco sets, mas, felizmente, com vitória brasileira. No último ponto, Brait distribuiu, sem querer, vários socos nas costelas das amigas enquanto comemorava, dando seus pulinhos.

Assim que o jogo terminou, Carolana se apressou em juntar as bagunças e começar o processo de expulsão das outras meninas, exceto Anne. Todas entenderam o que ela pretendia. A única que realmente relutou foi Camila, que precisou ser levada para casa, pois não estava mais em condições de dirigir.

Contudo, mesmo com as implicâncias das outras e todo o estresse do jogo, Rosamaria se sentiu feliz. Durante as horas em que estava reunida com suas melhores amigas, ela desligou totalmente seu lado profissional - não precisava medir suas palavras, nem cronometrar o seu tempo. Ela se deixou divertir.

E, enquanto ia para a sua própria casa - depois de deixar Brait na cama -, sentiu que precisaria de mais momentos como aquele ao longo de seus próximos dias.

***

De olhos fechados e com um longo suspiro, ela se conformou.

Rosamaria estava há cinco dias sob as ordens de Caroline Gattaz. Cinco dias de teimosia e provocações - este último estava sendo muito bem aproveitado pelas duas mulheres -. Durante esse primeiro quarto do serviço, a residente precisou, constantemente, respirar várias vezes antes de responder à alguma pergunta feita pela neuro-cirurgiã. O esforço também foi grande para não dizer nada que não devesse aos pacientes, que não tinham nada a ver com aquilo.

Mas, depois de cinco dias e 17 doses de café, Rosamaria desistiu de tentar entender o por quê. Esse, sem dúvidas, era um esforço em vão. Gattaz era muito difícil de ler, impossível saber o real motivo de certas perguntas, com duas frases ela fazia um elogio e dava um esporro. Tudo isso deixava sua cabeça girando e olhos ardendo em chamas. Então, ela desistiu.

Estava conformada. Não valia a pena. Ela tinha um único objetivo: sobreviver aos quinze dias restantes. Sem matar, nem morrer, como havia dito a Naiane. Sem discussões, sem teimosia, sem contestações. Só queria ver os dias passarem por ela.

E, com a convicção de que ela era totalmente capaz de ignorar as provocações de Carol, saiu da sala dos residentes para dar início ao seu sexto dia na neurologia.

A parte da manhã, incrivelmente, estava quase livre. A maioria das cirurgias estava marcada para depois do horário do almoço, então ela poderia fazer as visitas aos pacientes de pós-operatório com mais tranquilidade. Olhando tudo o que tinha para fazer antes de almoçar, percebeu que teria tempo de ir ao laboratório de Sheilla - precisava praticar algumas suturas.

The brain's heartWhere stories live. Discover now