Capítulo XXX

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— Gabriela!

A morena levantou rápido, com olhos arregalados e as mãos juntas atrás do corpo. As gêmeas, Liz e Ninna, engatinharam sobre os joelhos o mais rápido que puderam saindo dali juntas e deixando Gabi sozinha.

— Oi, amor! Tá precisando do que? — tentou disfarçar.

— Você não tava espiando os presentes em baixo da árvore junto com as meninas de novo, né? — Sheilla indagou, com os olhos semicerrados de quem sabia o que estava acontecendo.

Eu? De novo? Claro que não! A gente só tava arrumando a bagunça que o... vento fez. É, o vento desarrumou tudo — mentiu, olhando para a parte de trás do sofá, onde as meninas estavam escondidas da mãe.

Sheilla piscou. — Tá' um calor de quarenta graus lá fora, Gabriela. Não corre vento nem pra varrer as folhas do chão.

— Foi o vento mesmo, Sheillinha, eu vi! — Gattaz resolveu entrar na conversa, defendendo Gabi.

Guimarães apontou o dedo indicador na direção da única loira na sala em um gesto de "tá vendo?!". Sheilla bufou.

— Não quero ninguém mexendo nessa árvore antes da meia noite! — falou mais alto para que as gêmeas pudessem ouvir. — Ninguém, tá me ouvindo, Gabriela?

— A gente vai fazer o possível, senhora. Esse vento tá demais! — continuou brincando. Sheilla desistiu de obter uma resposta séria e chamou Caroline para ajudá-la com o pisca-pisca na área externa da casa. A médica aceitou prontamente o chamado e deixou uma Gabi, que usava uma touca de papai Noel na cabeça e uma roupa leve no corpo, cuidando de suas enteadas na sala.

Metade da véspera de Natal já tinha passado e o sol, em seu ponto mais alto, estava fazendo muito bem o seu trabalho de aquecer a Terra. Por isso, Sheilla e Carol estavam com shorts de tecidos frescos e a parte de cima de seus biquínis enquanto arrumavam a decoração da festa. Caroline estranhou quando a anfitriã disse que ficaria encarregada de tudo – Castro não era, realmente, envolvida nessas coisas. Ela preferia contratar alguém para cuidar desses detalhes –, mas não hesitou nem um segundo quando foi convidada para chegar mais cedo e ajudar na preparação do evento natalino. A verdade era que ela estava adorando aquela coisa toda de Natal com amigos.

Sua própria família nunca foi muito de comemorações muito elaboradas nessas datas. Era sempre um jantar meio monótono, com uma música ambiente, em que as pessoas tentavam não começar um assunto tão polêmico que desencadeasse uma discussão generalizada. A única parte das reuniões familiares que Caroline realmente aproveitava era a que ela se juntava à suas irmãs para falar sobre a vida umas das outras. Então, o evento natalino, organizado por Sheilla, com pessoas que ela gostava de verdade e podia ter conversas descontraídas estava sendo ótimo.

Contudo, ela mesma não tinha lá todas essas habilidades com decoração de espaços – todas as casas que teve na vida foram decoradas por sua irmã, que sempre cobrou a mais nos seus projetos arquitetônicos porque, segundo ela, a família deve apoiar o negócio. Sendo assim, ela só seguiu os passos de Sheilla, segurando os fios que a morena mandava no lugar, pendurando fitas aqui e ali, distribuindo objetos com motivos natalinos para lá e para cá e obedecendo as diversas ordens-que-não-eram-ordens.

— Ah, esqueci de te dizer — Castro falou, enquanto elas organizavam as louças na área da churrasqueira, que funcionaria como uma estação de bebidas (considerando que a ceia seria servida dentro da casa). — Vocês podem colocar seus presentes na árvore também, se quiserem. Quanto mais cheia, mais bonita.

Caroline sorriu. Estava achando engraçado e bonitinho o modo como Sheilla estava nervosa – e animada – para o primeiro natal com Gabriela. Ela não dizia nada sobre, mas era óbvio que o seu controle excessivo sobre os preparativos era para que tudo saísse perfeito naquele ano. — Ah, tudo bem. Ainda não decidi se o presente que eu tenho pra dar vai ser entregue antes ou depois da meia noite.

The brain's heartWhere stories live. Discover now