Capítulo XXXI

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Rosamaria estava de pé antes mesmo de seu celular despertar pela manhã.

Era uma manhã ensolarada de terça-feira e ela precisou se concentrar em sua respiração – seu coração batia meio fora de ritmo ao acordar. A catarinense nunca teve muitos problemas com primeiros dias ou com mudanças significativas, mas o frio na barriga e certa irregularidade dentro do peito sempre a acompanhavam nessas ocasiões. E no primeiro dia de sua especialização, é claro, não seria diferente.

Há três dias ela estava em Uberlândia. Caroline havia dirigido com ela e suas malas até o apartamento que ficaria alugado pelo período de um ano, até ela voltar para Belo Horizonte. As duas arrumaram, juntas, as coisas de Rosamaria o máximo que conseguiram antes de começar todo o processo de despedida. Elas sabiam, naquele momento, que não seria definitivo. Mas também estavam com medo do que aquele ano afastadas teria reservado ao relacionamento ainda verde das duas mulheres. Não houve lágrimas, nem nada do tipo, mas muitos últimos abraços apertados de quem já sentia a saudade arrepiar os pelos da nuca. Gattaz desejou boa sorte, boas aventuras e pediu que ela compartilhasse todos os surtos com as coisas novas que ela aprenderia por lá; o que a namorada, certamente, faria. Rosa, desejando aproveitar o máximo de sua especialização quanto era possível, não conseguia decidir se trezentos e sessenta e cinco dias eram muita ou pouca coisa.

Contudo, sem querer pensar muito em tudo isso, Rosamaria começou a se arrumar para o seu primeiro dia de trabalho no Instituto. Uma calça jeans de lavagem escura, uma blusa branca com motivos de uma série qualquer e um tênis igualmente branco com alguns detalhes em preto vestiam a residente. Decidiu deixar o cabelo cair por seus ombros até que precisasse prende-lo quando chegasse ao hospital. Como ainda não conhecia nada da cidade, optou por cozinhar um café da manhã rápido, contendo ovos mexidos e umas torradas, em sua própria cozinha. O único caminho que ela tinha a intenção de aprender antes do final de semana era o de seu apartamento até o seu local de trabalho. Fora esse, tudo o mais poderia esperar até seu primeiro dia de folga.

Depois de empurrar a comida estômago a dentro e tomar uma quantidade considerável de café, a loira deu alguns toques na tela de seu celular, colocou o endereço de destino e esperou até que o aplicativo mostrasse o modelo do carro que a buscaria. Rosamaria aproveitou os vinte minutos que passou no trânsito para responder as mensagens que a esperavam – algumas de Caroline, outras de suas amigas. Também havia uma ligação perdida de sua mãe, à quem ela enviou uma mensagem dizendo que retornaria a ligação no fim do dia.

Após a corrida, Rosa pagou ao motorista, pegou sua bolsa e saiu do carro. Na calçada, ela viu que não tinha mesmo como confundir o lugar. Um prédio enorme, tanto em altura como em extensão territorial, com as paredes parcialmente tingidas de um verde que a residente julgou ser estranho e o nome da unidade em letras garrafais no topo. Clínico, quase elegante, ela pensou. Ainda gostava mais do azul em Belo Horizonte. Contudo, não pôde deixar de notar o sentimento de satisfação e orgulho que invadiu seu peito ao encarar a porta de entrada.

Com olhos brilhando e os pelos da nuca arrepiados de excitação, Rosamaria respirou fundo e cruzou as portas do Instituto. Lá dentro, o estilo se manteve igual – paredes lisas, em tons de branco, bege e verde. O lugar cheirava a produtos de limpeza – com certeza vinha do homem que andava com um carrinho cheio deles no fundo do salão, Rosa notou – e exalava uma energia muito mais acadêmica do que hospitalar. A catarinense pensou que essa impressão se devesse aos seus próprios intentos naquele lugar. Afinal, ela estava ali para pesquisar e achar algo com que gostasse de trabalhar para o resto da vida. As fantásticas cirurgias cardíacas e os mais modernos aparelhos tecnológicos seriam apenas um bônus, é claro.

Assim, depois de tomar suas primeiras conclusões sobre seu novo local de trabalho, ela decidiu que precisava começar a se encontrar ali. Então, segurando firme a alça da bolsa que estava pendurada em seu ombro direito, ela caminhou até a recepção e não demorou muito para que uma morena relativamente alta  fosse atendê-la.

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