Capítulo II

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No meio da madrugada, Rosamaria se mexeu desconfortável em uma cama que por pouco não deixava seus pés para fora. Não precisou se esticar muito para alcançar seu celular e conferir a hora que mostrava a tela - quatro e quarenta e três da manhã.

"Merda" pensou.

Sem chances de passar em casa antes de ir para o hospital, por conta do horário apertado, tentou se desenrolar dos lençóis com o mínimo de movimento possível para não acordar a mulher ao seu lado. Vestiu suas roupas o mais rápido que pôde enquanto tentava, em vão, se lembrar do nome da morena que estava deitada na cama. Quando chegou nos tênis e nenhum nome que veio à sua mente parecia combinar com o rosto que ela via, desistiu. Tudo o que Rosa sabia é que a moça era uma enfermeira no mesmo lugar onde ela trabalhava. Pegou suas coisas e saiu correndo da casa totalmente desconhecida.

Enquanto esperava um Uber, pensou no tamanho da sua irresponsabilidade em dormir na casa de uma completa estranha. Poderia facilmente ter sido assassinada e ninguém iria descobrir.

A loira franziu a testa. Era uma desconhecida ou ela só não se lembrava da enfermeira?

"Agora quem é que liga, né. Não morri, tá ótimo!" foi seu último pensamento sobre a noite que mal tinha o que falar.

O motorista fez um trajeto de pouco mais de meia hora até o Centro Médico, fazendo uma parada em uma padaria, onde Rosamaria comprou dois cafés (um ela deu para o motorista) e alguns pães de queijo. A médica achou graça da reação de surpresa do moço quando recebeu, de bom grado, o café. O ato não era algo que fizesse com frequência, apenas ficou com vontade de fazê-lo naquele dia. Às vezes as pessoas se confundem quanto a quem é a Rosamaria por esses lapsos de gentileza espontânea, ela mesma tinha dificuldades de se decifrar em alguns momentos.

Rosamaria é uma mulher inteligente, extremamente focada em conquistar seus objetivos. A loira não tem lembranças de não ter cumprido algum de seus planos. Fora do ambiente profissional, é fácil de fazer amigos e de se relacionar, mas dentro do hospital até sua postura é diferente. A maior parte de seu círculo de amigos é fruto da carreira médica e trabalham junto com ela, alguns a acompanham desde a faculdade. Mas todos eles sabem que a prioridade inegociável de Rosa é a sua carreira em cirurgia cardiotorácica e que ela está disposta a abdicar de muitas outras áreas da sua vida para alcançar o sucesso. Contudo, sem o jaleco e fora do período de provas, a mulher não tem problemas em relaxar e aproveitar o tempo com seus amigos e, inclusive, agradar um completo estranho com um copo de café em altas horas da madrugada.

Satisfeita, deu um pequeno sorriso para si mesma enquanto passava pela porta do hospital, em direção à sala dos residentes. Mal deu tempo de se trocar e a residente foi chamada para a emergência - trauma chegando.

– Ué, mas cadê a Mariana? — perguntou Rosa a uma enfermeira.

— Não chegou ainda, então a ordem é chamar você. — A loira acenou positivamente e se juntou às outras que esperavam a ambulância: Natália, Gabriela e Gattaz.

— Eita, mas o que esse cara tava' fazendo essa hora da madrugada que precisa de todo mundo? — Natália exclamou ao ver Rosa se aproximar calçando as luvas.

— Numa sexta-feira dessa? Coisa boa não era. — constatou Gabi.

Os paramédicos retiraram a maca do carro assim que este foi estacionado e a correria começou. Rosamaria foi fazendo notas mentais enquanto o socorrista passava todas as informações que elas precisavam saber de imediato. Havia uma fratura exposta no fêmur, sangue e hematomas por todo o homem. Com a ajuda de dois enfermeiros, elas levaram o paciente para a primeira sala de atendimento disponível e começaram a tratá-lo. Natália se concentrou em estabilizar a fratura, enquanto Gabriela e Rosa avaliavam os danos gerais, já que Carol estava ali para fazer todo o exame neurológico.

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