Capítulo XXXII

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A neurocirurgiã estacionou o carro alugado em frente ao prédio já conhecido e o desligou. Alcançou o celular que estava no banco do carona e abriu o aplicativo de mensagens.

Quer vir aqui em baixo me ajudar com as malas?

A resposta veio em menos de um segundo. Não.

Caroline riu e não respondeu, saindo do carro ao invés disso. Sabendo que a resposta não se concretizaria, ela não se incomodou em tirar nenhuma de suas bolsas de dentro do veículo. Ao contrário, só fez apoiar seu corpo na porta do carro preto e, com as mãos nos bolsos de uma calça de tecido maleável, esperou.

Não muito tempo depois, algo como três ou quatro minutos, ela passou pelas portas do hall de entrada. Usando um chinelo de tiras coloridas e uma camiseta de alças finas, Rosamaria caminhou até ela. Sorrindo, a catarinense não esperou muito mais para puxar a mulher mais alta, pela cintura, para um abraço apertado. Gattaz apertou ainda mais os seus braços ao redor da namorada quando sentiu um sorriso contra seu pescoço. Também não fez cerimônias ao enterrar o nariz nas mechas loiras e cheirosas de na cabeça de Rosamaria.

Elas afrouxaram o abraço somente para juntar os lábios em uma série de selinhos demorados e cheios de saudade. Não aprofundaram as coisas ali porque, em algum lugar no subconsciente das duas que ainda não estava tomado pela presença da outra, elas sabiam que estavam no meio fio de uma rua pública às três da tarde de um sábado. Então, selinhos e carinhos no rosto tiveram de ser suficientes. Já com a mão direita sobre a bochecha de Rosamaria e a outra descansando sobre seu quadril, Gattaz a encarou nos olhos.

— Tava com saudades de você.

— É, eu também tava — Rosa respondeu, sabendo que seu nariz já estava assumindo tons de rosa àquela altura. — Achei que ia demorar mais até te ver, mas ainda bem que não.

— É, foi difícil arrumar as cirurgias no calendário pra descolar esse fim de semana pra vir aqui, mas consegui.

Rosa torceu o nariz. — Descolar? que coisa de velho.

Gattaz revirou os olhos.

— Parou, vai. Não sou velha.

— Só um pouquinho né, Carol? — Rosa insistiu, recebendo um aperto suave em suas costelas que pretendia provocar cócegas. Sem sucesso dessa vez. No entanto, e de repente, a catarinense franziu as sobrancelhas e se afastou da namorada. — Quié' que tu tá' fazendo encostada no carro dos outros, mulher?

Gattaz ficou confusa e se endireitou, desencostando do carro.

— Uai, mas é meu — esclareceu. — Na verdade, só um pouco meu. Eu aluguei pra vir pra cá.

Um ponto de interrogação enorme surgiu no rosto de Rosamaria.

— E por que um Audi?

— Qual o problema com Audi?

— Eu prefira a BMW, sinceramente.

— Então cê' compra uma, uai! Eu quis um Audi, não gostou cê' pode ir de Uber também, sem problemas — Carol rebateu, arrancando uma careta de Rosa. — Agora me ajuda a carregar minhas bolsas porque eu sou velha!

Foi a vez de Rosamaria revirar os olhos. Mesmo com as implicâncias mutuas entre as duas – o que era, mais ou menos, o cotidiano daquele relacionamento –, Rosa esperou que ela abrisse a mala para que elas pudessem retirar as coisas de lá.

— Misericórdia, mas achei que tu tinha vindo pra quatro dias só! — exclamou, observando a quantidade exagerada de bolsas que a namorada tinha na mala do carro.

The brain's heartWhere stories live. Discover now