— Não, Rosamaria. Não é abuso.
Como não?
— Doutora Fernanda, ela não pode simplesmente mexer no rod-
— Nada foi feito da maneira errada — Garay começou — Ela veio falar comigo e pedir a minha permissão.
— E a senhora concordou com isso?
— Concordei, sim — confirmou. Vendo a confusão estampada em suas cores mais vivas no rosto de Rosamaria, continuou: — Eu acho que é uma ideia ótima. Esse período vai ser bom pra você.
— Com todo o respeito, Fernanda, bom como? Mais do que todos tu sabe que eu nunca pensei em outra especialidade na vida — Rosamaria insistiu.
— Ah, eu sei sim — concordou, ajeitando-se na cadeira — Mas eu não tô' falando academicamente. Você é, com certeza, uma das residentes mais promissoras que eu já vi por aqui.
— Se não é nenhuma questão acadêmica, o que, então? — Garay suspirou.
— Te falta... tato — disse, por fim.
— É o que?
— Você é brilhante, não há como negar — pausa — Mas, às vezes, você esquece que pacientes são pessoas. Pessoas de outras pessoas.
Rosamaria ficou séria. — Eu sei que você tem a sensibilidade, só não sabe quando usá-la.
— E eu vou aprender com a Caroline? — Fe Garay sorriu.
— Rosamaria, vai pra casa. Descansa. — A loira coçou a nuca, nervosa.
Pegou sua bolsa de volta - tinha deixado na cadeira - e jogou no ombro. Foi em direção à porta, mas antes de abrir, virou-se para a outra mulher na sala e tentou uma última vez.
— Ela te disse que são vinte dias? Tipo, quase dois rodízios inteiros?
— Rosamaria — Garay disse com tom de aviso. A conversa acabou.
— Ok, então — desistiu. Saiu da sala do mesmo jeito que entrou: como um furacão e com a cara amarrada.
Que história é essa de tato e sensibilidade? A Caroline tá' achando que eu sou uma pedra?
Com esse - e outros - pensamentos, ela se dirigiu novamente ao estacionamento. Porém, quando viu que teria que esperar o aplicativo carregar de novo ela decidiu ir a pé. Seu apartamento não era tão longe assim, a passos largos ela chegaria rápido. O ar fresco do começo de setembro seria bem-vindo, de qualquer forma.
No final de tudo, a mulher não teve forças para comer. Apenas atirou-se na cama e dormiu.
***
Rosamaria só se deu conta de que tinha dormido quando o alarme do celular tocou às cinco e quarenta e cinco. Detestava quando isso acontecia, pois ficava com a sensação de que não tinha dormido nada. Enrolou quinze minutos na cama, até ouvir seu aparelho tocar novamente.
Eu, definitivamente, taquei pedra na cruz, pensou. Suspirou e levantou da cama.
Quando percebeu que estava pronta para chamar o carro e ir ao hospital, sentiu-se a maior guerreira dos últimos tempos. Preparava-se para tudo, mas nem mesmo sabia o que esperar.
Como de costume, o carro fez uma parada na padaria para ela comprar seu café da manhã – só para si, desta vez – e logo seguiu seu caminho. Enquanto pagava, decidiu que, para passar o tempo, contaria quantas "doses" de café ela tomaria até o fim do trágico período com Caroline. A loira riu sozinha ao voltar para o carro.
![](https://img.wattpad.com/cover/295184005-288-k839511.jpg)
ESTÁS LEYENDO
The brain's heart
FanficCarol e Rosa se conhecem em um ambiente hospitalar, no qual nenhuma das duas está muito interessada em algo diferente de seus pacientes. Mas entre muitas diferenças, muitas discussões e muitos plantões juntas, elas descobrem que são exatamente como...