Capítulo VI

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— Não, Rosamaria. Não é abuso.

Como não?

— Doutora Fernanda, ela não pode simplesmente mexer no rod-

— Nada foi feito da maneira errada — Garay começou — Ela veio falar comigo e pedir a minha permissão.

— E a senhora concordou com isso?

— Concordei, sim — confirmou. Vendo a confusão estampada em suas cores mais vivas no rosto de Rosamaria, continuou: — Eu acho que é uma ideia ótima. Esse período vai ser bom pra você.

— Com todo o respeito, Fernanda, bom como? Mais do que todos tu sabe que eu nunca pensei em outra especialidade na vida — Rosamaria insistiu.

— Ah, eu sei sim — concordou, ajeitando-se na cadeira — Mas eu não tô' falando academicamente. Você é, com certeza, uma das residentes mais promissoras que eu já vi por aqui.

— Se não é nenhuma questão acadêmica, o que, então? — Garay suspirou.

— Te falta... tato — disse, por fim.

— É o que?

— Você é brilhante, não há como negar — pausa — Mas, às vezes, você esquece que pacientes são pessoas. Pessoas de outras pessoas.

Rosamaria ficou séria. — Eu sei que você tem a sensibilidade, só não sabe quando usá-la.

— E eu vou aprender com a Caroline? — Fe Garay sorriu.

— Rosamaria, vai pra casa. Descansa. — A loira coçou a nuca, nervosa.

Pegou sua bolsa de volta - tinha deixado na cadeira - e jogou no ombro. Foi em direção à porta, mas antes de abrir, virou-se para a outra mulher na sala e tentou uma última vez.

— Ela te disse que são vinte dias? Tipo, quase dois rodízios inteiros?

— Rosamaria — Garay disse com tom de aviso. A conversa acabou.

— Ok, então — desistiu. Saiu da sala do mesmo jeito que entrou: como um furacão e com a cara amarrada.

Que história é essa de tato e sensibilidade? A Caroline tá' achando que eu sou uma pedra?

Com esse - e outros - pensamentos, ela se dirigiu novamente ao estacionamento. Porém, quando viu que teria que esperar o aplicativo carregar de novo ela decidiu ir a pé. Seu apartamento não era tão longe assim, a passos largos ela chegaria rápido. O ar fresco do começo de setembro seria bem-vindo, de qualquer forma.

No final de tudo, a mulher não teve forças para comer. Apenas atirou-se na cama e dormiu.

***

Rosamaria só se deu conta de que tinha dormido quando o alarme do celular tocou às cinco e quarenta e cinco. Detestava quando isso acontecia, pois ficava com a sensação de que não tinha dormido nada. Enrolou quinze minutos na cama, até ouvir seu aparelho tocar novamente.

Eu, definitivamente, taquei pedra na cruz, pensou. Suspirou e levantou da cama.

Quando percebeu que estava pronta para chamar o carro e ir ao hospital, sentiu-se a maior guerreira dos últimos tempos. Preparava-se para tudo, mas nem mesmo sabia o que esperar.

Como de costume, o carro fez uma parada na padaria para ela comprar seu café da manhã – só para si, desta vez – e logo seguiu seu caminho. Enquanto pagava, decidiu que, para passar o tempo, contaria quantas "doses" de café ela tomaria até o fim do trágico período com Caroline. A loira riu sozinha ao voltar para o carro.

The brain's heartDonde viven las historias. Descúbrelo ahora