Capítulo XXV

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A terça-feira começou muito, muito lenta.

Rosamaria só havia preenchido papéis e mais papéis desde que o dia começara. Toda aquela monotonia não ajudava a manter acordada uma mulher que já estava cansada do final de semana intenso que passou.

A turma de residentes teve, concedida por Garay, a segunda-feira de folga para colocarem a cabeça e os corpos no lugar após as avaliações e logo depois, enquanto esperavam os resultados oficiais, continuarem trabalhando no Centro Médico.

Depois de ser completamente derrubada e humilhada por uma variedade – bem extensa, segundo suas amigas – de bebidas alcoólicas no domingo, Rosamaria passou sua folga em sua própria casa, recuperando-se e tentando lembrar se tinha feito algo de muito péssimo, como ela mesma disse. Contudo, como nenhuma das meninas que estavam com ela havia manifestado nenhum tipo de vergonha alheia, Rosa assumiu que não tivesse feito nada fora do normal e, quando não estava curvada sobre o vaso sanitário, ela dormiu o dia inteiro.

Sua primeira refeição decente foi o café da manhã de terça, assim que voltou ao trabalho. Resolveu comer no refeitório do hospital, pois seu único esforço seria o de pagar pela comida. Rosa detestava cozinhar e fugia daquilo sempre que possível, então ficava satisfeita em pagar por tudo pronto.

Depois de comer e esperar alguns minutos até que tudo se acomodasse – seu estômago agradeceu, genuinamente, pelo carinho que estava recebendo depois de dias de má alimentação –, a catarinense passou na recepção e pegou uma pilha de papéis que esperavam para ver a cor de sua caneta. Eram dezenas de relatórios, prontuários e fichas de acompanhamento de casos que ela participara que precisavam ser revisados. Alguns estavam muito mal feitos e outros careciam de sua assinatura. E resolver essas coisas era muito chato.

Meu Deus, como era chato! E ela desconfiava que fosse ser assim pelo resto do ano. Esse limbo entre provas finais e especialização são sempre muito tediosos. Geralmente, pouca atividade e muitos – muitos! – papéis. Rosamaria se sentia extremamente mal por estar quase rezando para que surgisse uma emergência que precisasse de todos os médicos disponíveis.

Ela estava no meio da leitura de um prontuário que precisava ser refeito quando Roberta entrou pela porta da sala.

— Ah, você também tá' com essas chatisses pra fazer?

— Pois é — Rosa respondeu. — Não aguento mais.

— Tô fugindo das minhas aqui com você — declarou, enquanto puxava uma cadeira para se sentar ao lado de Rosa. — E aí, tudo bem?

— Sim, ué. Por que não estaria?

Betinha deu de ombros. — Você tava muito nervosa quando saímos do Instituto. Imagino que esteja pensando no resultado. Ou em depois do resultado.

A outra loira na sala balançou a cabeça. — Não. Ainda não. Não faço ideia de nada.

— Entendi — Roberta falou. — Eu acho que vou ficar por aqui mesmo. Mesmo que venham propostas; gosto de trabalhar aqui.

— Aqui é muito bom, realmente. Mas eu não sei — Rosamaria revelou. — E prefiro deixar pra pensar nisso só quando eu precisar. Vamos ter um tempo, depois do resultado, pra decidir.

— É justo — concordou. — Quer ir tomar um capuccino?

Rosamaria soltou um gemido de afirmação e, com um sorriso que contagiou Betinha, levantou da mesa. Juntas e conversando sobre os acontecidos de domingo, elas andaram até a cafeteria, perseguindo o famigerado capuccino.

Enquanto esperavam que as bebidas ficassem prontas, Roberta contou como foi a encenação de Romeu e Julieta que Anne e Carolana fizeram dois dias antes. Por mais que sua amiga dissesse o contrário, Rosa afirmou que não tinha visto nada daquilo e riu até se curvar ao passo que via e ouvia os relatos de Betinha.

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