Capítulo XV

2.7K 244 52
                                    

— Mulher, pare de drama — ordenou Carolana. — Você é de áries, drama não combina com você.

Rosamaria bufou.

— Mas é muito chato — falou, com a testa franzida. — Todo mundo tem alguém pra estudar junto, só eu que não.

— Você é a estrela da cardiologia, pensa assim — Carolana tentou ajudar.

— Pessoal da pediatria tem até grupo de estudo. Gru-po — reforçou o seu ponto, separando a última palavra e gesticulando com as mãos. — E eu seria uma estrela de qualquer jeito, só queria alguém pra estudar comigo.

— Ah, amiga. Quer um abraço de consolação? Eu te dou — A morena zombou.

Rosamaria estalou a língua e afastou a amiga, que tinha a agarrado. Elas seguiram juntas até o hall principal para pegar seus tablets e começar as tarefas do dia, mas logo se separaram – Carol foi em direção à ala pediátrica encontrar com Priscila Daroit e Rosamaria partiu para a emergência.

É verdade que a catarinense estava enfatizando mais que o necessário o fato de não ter um parceiro de estudos na área de cirugia cardiotorácica, mas ela realmente detestava estudar sozinha. Não que ela fosse preguiçosa e precisasse de um incentivo, nem nada do tipo. Pelo contrário, sempre gostou de aprender e sua parte favorita era grifar e fazer anotações pelos livros. Mas neste momento raro de insegurança, ela sentia falta de alguém com quem pudesse compartilhar as mesmas dúvidas.

No entanto, Carolana tinha um ponto. Se Rosamaria escolhesse, de fato, permanecer no Centro Médico Dr. José Roberto Guimarães, ela não teria concorrência quando terminasse o seu ano de especialização. Ficaria sob a doutora Jaqueline, é claro, mas havia fortes rumores que ela daria uma pausa em sua carreira para tentar ser mãe, o que deixaria um palco ainda maior para Rosamaria mostrar seu talento.

Sendo assim, e pensando a longo prazo, era bom que só ela aspirasse à cirurgia cardiotorácica. A única competição era a dela contra ela mesma. Mas, naquele momento, ela só queria alguém para se reunir aos finais de semana e se empanturrar de comidas rápidas compradas em aplicativos enquanto estudavam. Como não tinha, Rosamaria se via no pleno direito de reclamar com seus amigos sobre isso.

Enquanto andava até a emergência, entrou com seu login e visualizou toda a sua programação para o dia: duas cirurgias marcadas e dezena de acompanhamentos pós-operatórios. Era uma cronograma leve, os dias de todos os residentes estavam mais livres de cirurgias justamente pelo período de provas. Fernanda era muito consciente quanto à isso e fazia questão de não sobrecarregá-los em momentos importantes como esse, acompanhando o planejamento de perto.

A residente olhou rapidamente as cirurgias que teria no primeiro dia de volta ao serviço de Jaqueline e lamentou silenciosamente pela segunda. Ela detestava tratar tumores. Por mais interessantes que fossem de estudar e operar, ela achava o câncer a doença mais injusta que existia. Muitas das vezes ele chega silencioso, sem avisar, e não tem critérios de escolha. Ele simplesmente aparece.

Com um suspiro, voltou à tela inicial e conferiu o leito que deveria ir na emergência. Chegando lá, Thales já a esperava para começar a consulta.

O paciente era um homem de meia idade que alegava dores no peito e dificuldade na respiração. Rosamaria deixou o estagiário realizar a ausculta primeiro, ela faria o mesmo depois para confirmar o diagnóstico ou corrigi-lo caso fosse preciso. Ela se direcionou ao lado esquerdo da maca, ficando de frente para o paciente, e coletou os números que apareciam nas telas através dos fios ligados ao homem enquanto Thales fazia o seu trabalho.

Quando ela terminou de digitar no prontuário, colocou a mão direita no bolso do jaleco e esperou o menino acabar o processo, observando-o. Normalmente, ela teria se irritado com a demora, mas lembrou que ele estava no hospital há menos de seis meses, o que explicava a falta de experiência. Então, ela apenas deixou que ele tomasse seu tempo.

The brain's heartWhere stories live. Discover now