Capítulo XIX

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— Porra! — exclamou. — Que susto do caralho!

O celular, que vibrava suavemente pela segunda vez naquela manhã, acordou uma Rosamaria com o coração acelerado. Ela estava dormindo tão profundamente que o despertador, que nem sequer tinha som, a assustou ao mandar sua vibração pela cama.

A mulher tomou o cuidado de abrir seus olhos bem devagar, não sabia se tinha esquecido alguma luz acesa e não queria uma enxaqueca pelo resto do dia. Para a sua surpresa, a cortina da janela estava levantada, de modo que a luz do sol entrasse pela janela e a encontrasse na cama de casal, esquentando seu braço e bochecha direitos, mas as luzes do quarto estavam apagadas. Ela também não se lembrava de ter colocado seu celular perto de si antes de cair no sono.

Levantou a cabeça lentamente, apoiando-se em seus cotovelos, e olhou para o lado esquerdo da cama. Com uma careta, encarou um emaranhado de lençóis brancos e azuis. Cadê? Se espreguiçou e, finalmente, olhou a hora na tela do celular – estava atrasada. Relutante e com o peso da preguiça nos ombros, saiu da cama.

Rosamaria vestia apenas uma blusa e uma calcinha. Não sabia em que momento as peças de roupa acharam o caminho de seu corpo. Assim, descalça e com os cabelos bagunçados, ela caminhou até sua sala de estar e encontrou, novamente, o vazio. Passou as mãos pelo rosto e varreu o cômodo mais uma vez, verificando se não havia deixado passar despercebida uma mulher de um e noventa e dois esparramada em algum canto por ali. Não deixou, ela não estava lá, mas Rosa tinha certeza que não havia dormido sozinha aquela noite.

Com as sobrancelhas franzidas, deu os passos que faltavam para chegar à cozinha, a fim de tomar um copo de água. Na porta da geladeira, no entanto, algo chamou sua atenção.

Um quadrado azul de papel estava grudado ao lado de uma polaroid de Naiane, Rosa e Carolana e apoiava letras escritas em caneta preta. A mulher tomou a nota em sua mão e a leu.

"Esqueci de uma reunião e tive que sair correndo. Deixei o celular e o sol pra te acordarem"

Os dois períodos foram o suficiente para provocar um sorriso em Rosamaria que, lendo o bilhete, entendeu porque acordara com o sol no quarto. Ela virou o bilhete para olhar o verso e encontrou uma última parte.

(Espero que cê' não se atrase)

É, pensou Rosa, quase funcionou.

Ainda sorrindo e entendendo melhor o cenário daquela manhã, ela fez o caminho de volta ao seu quarto e entrou no banheiro. No banho, as memórias da madrugada invadiram sua mente e ela foi obrigada a esfriar a água do chuveiro, o que contribuiu para um banho mais rápido. Afinal, estava mesmo atrasada.

***

Rosamaria chegou ao hospital às oito e quarenta da manhã, com mais de uma hora de atraso. É verdade que a hora de entrada dos residentes não importava tanto naquele período, em que as cirurgias estavam suspensas e eles estavam concentrados somente nas provas (a única coisa que faziam além disso era acompanhar os pacientes que já tinham antes do comunicado de Garay da redução de horas no centro cirúrgico. Eles só estavam permitidos no andar em caso de extrema necessidade). Mas, ainda assim, ela estava atrasada.

A residente foi até sua sala e trocou de roupas, prendendo os cabelos em um coque baixo e logo saiu em busca de algo para comer – só agora ela se deu conta de que não tinha, nem mesmo, jantado na noite anterior. Andou até o refeitório e não pensou muito antes de entrar na fila do pão de queijo. Quando olhou para frente, se deparou com Naiane.

— Bom dia, Nai — cumprimentou, mas logo fez uma careta. Naiane?

A morena olhou para trás, também com as sobrancelhas franzidas.

The brain's heartWhere stories live. Discover now