Capítulo XXVIII

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Gattaz sempre achou as quartas-feiras muito estranhas.

É, exatamente, o meio da semana. Não tem a tensão de segunda, nem a excitação de sexta. Sem emoção alguma. Não que isso realmente importasse para uma cirurgiã que precisava ficar em modo alerta em todos os sete dias da semana, mas ainda assim. Caroline acha a quarta um dia tão... sei lá!

E isso não era a única coisa que estava estranha, sem emoção e sei lá. Rosamaria estava fora de seus padrões desde domingo. As mensagens eram respondidas de uma maneira estranha, ela não contestava as terríveis piadas de Carol e fugia sempre que era perguntada sobre planos futuros. A médica resolveu não perguntar nada sobre, mas sabia que, sem dúvidas, havia algo de errado.

Elas mal tiveram tempo de ficar juntas nesses quatro dias que se passaram. Caroline estava se atualizando nos trâmites do hospital como empresa e no status de seus pacientes. Alguns, em sua maioria os mais urgentes, foram transferidos para hospitais próximos, que tinham um cirurgião competente, e outros estavam com o tratamento em pausa, esperando até que Carol pudesse voltar ao atendimento clínico, pelo menos. O que, por sinal, ela já estava autorizada a fazer. Depois de mais uma avaliação geral e de algumas horas no laboratório de habilidades cirúrgicas, Garay concedeu a autorização para que a neurocirurgiã voltasse, oficialmente, ao centro cirúrgico. Fato que foi comemorado com pizza e vinho (de verdade, dessa vez) na segunda-feira, em companhia de Rosamaria, que foi também quando Gattaz começou a notar a estranheza fora do normal de sua namorada.

Assim, todas as estranhezas presentes naquela quarta fizeram com que a manhã de Carol se arrastasse de uma forma tediosamente estressante. Talvez fosse só a fase sofrida de voltar a trabalhar que ela não estava tão acostumada a vivenciar – nunca tinha ficado tanto tempo afastada de suas funções dessa maneira –, mas ela precisou de muita força de vontade para concluir a primeira parte de seu dia. Contudo, quando finalmente conseguiu dar uma pausa para o almoço, mandou uma mensagem para Rosa, perguntando se ela estava livre para almoçarem juntas. A mais nova respondeu que sim e, em poucos minutos, elas estavam sentadas em uma mesa no canto do refeitório do hospital.

— E ai, muito trabalho? — Rosa perguntou.

— Nossa, nem me fale! — Carol desabafou. — Tanta coisa que tem hora que eu fico é perdidinha.

A outra mulher riu. — Eu tô' trabalhando em um caso complicado agora também. Já não aguentava mais ficar sem fazer nada pra lá e pra cá.

Gattaz pensou no que dizer por alguns segundos. — É por isso que cê' tá' estranha esses dias, então?

Rosa franziu as sobrancelhas e terminou de mastigar antes de responder.

— Eu não tô' estranha — mentiu. Ela sabia que estava.

— Hum — Carol resmungou. — Eu acho que cê' tá'... Aconteceu alguma coisa?

— Nada. Coisa tua, Carol.

A médica decidiu não dizer mais nada e, ainda contrariada, continuou a comer.

Por fim, elas mudaram o assunto e terminaram o almoço depois de algum tempo. Quando já estavam se levantando, Caroline perguntou se elas iriam embora juntas novamente. Rosamaria lhe deu um sorriso amarelo e respondeu que não, pois não sabia que horas ficaria livre para sair do hospital, mas avisaria caso o cenário mudasse. Fez um carinho nas mãos de Carol, se despediu e se pôs a andar, deixando uma namorada desconfiada no refeitório.

Andando pelos corredores do hospital, Rosamaria tinha um rosto sério que escondia seus pensamentos. Nervosa, mas decidida, ela andou com destino certo até o elevador e pressionou o botão do último andar. Caminhou mais um pouco, passando por diversas salas de departamentos e pela mesa de café, chegando até a sala principal dali. A placa na porta era um aviso de que assuntos sérios eram tratados ali dentro – o nome de Fernanda Garay estava estampado em letras grandes e pretas para todos que soubessem lê-lo.

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