Capítulo V

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Rosamaria achou que sua cabeça fosse explodir com o tanto de perguntas que surgiram após o episódio com Carol Gattaz.

Estava certa de que tinha tomado a decisão correta na cirurgia — o paciente não teria sobrevivido. A própria doutora Jaqueline concordou que alguns segundos a mais seria fatal. Mas essa era a única coisa de que ela tinha certeza.

Depois da cirurgia — da qual metade do hospital ficou sabendo e cochichando durante todo o dia —, Rosa voltou sua atenção para a paciente que estava antes. Não era mais a médica principal do caso, mas ainda seria a residente de Jaque. Ficou calada durante todo o tempo em que ela e mais duas enfermeiras preparavam a mulher para a cirurgia; tinha medo de que, com o turbilhão que estava dentro de si, falasse (mais) alguma besteira.

A loira estava cheia de dúvidas. Muitas delas não eram nem sobre sua vida profissional. Nunca antes ela tinha escutado a palavra arrogância associada a ela. E isso, para uma primeira vez, não foi legal.

Rosa sabia que era uma pessoa diferente quando estava trabalhando. Seus amigos também sabiam. Era assim desde a época da faculdade. Enquanto seus colegas sumiam do radar todo final de semana, ela era facilmente encontrada no mesmo lugar que estaria numa segunda-feira — esparramada no chão da sala, com dezenas de papéis espalhados, estudando algum tópico de dificuldade. Ela sabia que, talvez, não fosse boa lembrança para as pessoas com que se envolveu romanticamente, pois ao mínimo sinal de seriedade e compromisso ela parava qualquer forma de contato existente. Recusou muitos pedidos de namoro, inclusive os que ela queria aceitar, para focar única e exclusivamente em sua carreira. Muitas amizades acabaram mal resolvidas por conta da sua falta de tempo — nem todo mundo entende que ela é a sua prioridade.

Ela sabia que não era, exatamente, um docinho de coco. Mas nunca tinha se questionado se era uma pessoa boa.

Sou uma boa profissional? As pessoas realmente gostam de mim, ou só me toleram? Ela me acha arrogante porque eu a questiono ou eu a questiono porque sou arrogante?

Todas essas questões apareciam uma atrás da outra. Rosa precisou limpar sua mente de tudo isso antes de entrar novamente em cirurgia, dessa vez, com Jaqueline.

— Que foi, Carolana? — Rosa perguntou. Carol hesitou.

— Nada, amiga.

— Sempre que tu fica quieta assim, tem alguma coisa — falou — Então, que é?

Carol bufou. — É aquela tal de An-

— Que tal a gente falar da Rosa malcriada, hein? Desobedecendo os mais velhos, fala sério! Achei péssimo — Rosa riu.

— Nada disso. Quero distância desse assunto.

— Mas é sério, como foi? Só sei o que tão' falando por aí, quero ouvir de você.

— Aí, sei lá. Eu desobedeci uma superior, não sei o que tô' fazendo aqui ainda — respondeu, com os olhos baixos. Carol pensou um pouco antes de continuar.

— Também ouvi que rolou gritaria depois...

— Não foi gritaria e eu não quero falar sobre isso — disse, resoluta. Carolana soube, pelo olhar no rosto da amiga, que não era hora de insistir.

— Tudo bem — acatou o pedido. Rosamaria reparou que a morena ainda estava inquieta, suas pernas não paravam por nada.

— Fala sério, Carol. O que houve? — segurou as pernas da outra — Tu é a Carol que eu tô' disposta a ouvir, vambora, pode falar.

— A Anne me tira do sério! — Rosamaria gargalhou — Como ela pode ser tão lerda assim? Só falta eu me jogar em cima dela, meu Deus.

— Amiga — a outra começou, ainda em meio a risadas —, já pensou em, sei lá, falar com ela?

The brain's heartWhere stories live. Discover now