Capítulo XXIV

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O único indício de que elas ainda estavam juntas na cama era o fato de suas mãos estarem se encostando, esticadas sobre o lençol claro de Caroline.

Elas não dormiram numa posição, exatamente, confortável para nenhuma das duas. Caroline não podia se mexer muito, pois, apesar da alta do hospital, precisava tomar cuidado com sua incisão que ainda cicatrizava e seu braço continuava dentro da tipóia de cor azul escuro.

No começo da madrugada, Rosamaria estava enroscada no braço direito da loira mais velha, com a cabeça apoiada em seu ombro. Mas assim que cochilou pela primeira vez, e sabendo que não era tão comportada em seu sono, ela resolveu se afastar o máximo possível da namorada, a fim de não machucá-la.

A tela do celular de Rosa mostrava que eram sete e meia da manhã. Aparentemente ela havia desligado o primeiro despertador, que devia ter tocado trinta minutos antes de ela, de fato, abrir os olhos no sábado. Não estava atrasada, mas gostaria de ter acordado no horário planejado. Contudo, sem lamentações, ela levantou e partiu para o banheiro.

A água gelada com que ela lavava o rosto espantava o sono ao mesmo que trazia à tona todo o peso daquele dia. O peso de anos de estudo sendo distribuídos em apenas algumas horas de prova. Enquanto escovava os dentes, com a escova que trouxera consigo no dia anterior, ela desejou fortemente que aquilo tudo fosse uma experiência única.

Depois de fazer tudo o que precisava, saiu do banheiro, voltando ao quarto, e deu de cara com Caroline deitada sobre o lado direito de seu corpo e olhos meio abertos. Caminhou até a cama e passou sua mão pelo braço que estava esticado.

Ao seu toque, Carol abriu somente um de seus olhos e encarou a mulher sentada.

— Te ajeita aí — Rosa falou. — Ainda não pode dormir de lado, tu sabe.

Carol voltou a fechar os olhos, formando vincos entre as sobrancelhas dessa vez. Ela levou alguns segundos até obedecer e rolar de barriga para cima novamente. Com algum esforço e ajuda de seu braço inteiro, a mulher sentou-se na cama, ficando de pé logo em seguida.

Rosa esperou, sentada na cama e com os braços apoiados atrás de si, até que Caroline voltasse do banheiro. Quando aconteceu, a catarinense precisou segurar uma risada.

— Por que é que tu tá' com essa cara de brava essa hora da manhã? — perguntou, admirando a cena.

Carol estava emburrada, as sobrancelhas franzidas e o cabelo, além de bagunçado, estava molhado em algumas partes que grudavam em seu rosto.

— Dormir em uma posição a noite inteira dói e foi muito difícil lavar meu rosto com uma mão só — respondeu, com a voz rouca. — E o que que cê' tá' falando de cara feia de manhã? É a rainha disso, uai.

Rosa riu.

— A coluna já não é boa, né?

Carol estalou a língua e não respondeu. Virou seu corpo em direção à porta do quarto e caminhou até a cozinha. Com o auxílio de Rosamaria, elas conseguiram fazer um café da manhã decente para começarem o dia. Durante a preparação, Gattaz lamentou o fato de não ter reabastecido seu estoque de Coca-Cola zero, fazendo com o que Rosa lhe desse todo um sermão de como não deveria tomar "essas coisas com gás" enquanto não estivesse totalmente recuperada da cirurgia do abdômen.

As duas comeram enquanto assistiam qualquer coisa na televisão e, em seguida, conversaram sobre como seria o fim de semana. Rosamaria contou que iria para casa após a prova escrita, pois precisava se concentrar muito mais para o domingo e preferia ficar sozinha. Carol não contestou e, quando a catarinense perguntou se ela ficaria bem, respondeu que ligaria para Renata se precisasse de ajuda.

The brain's heartWhere stories live. Discover now