Luzinhas

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Eu previ que seria uma péssima ideia quando Kate sugeriu aquilo, mas mesmo assim aceitei por algum motivo.

Kate gostava de ler com luzes fracas e amareladas, e bem, eu também gostava, mas conseguia ler em qualquer tipo de iluminação que me permitisse enxergar as letras, com ela aparentemente não funcionava assim. Costumávamos usar uma espécie de abajur que ela tinha, todas as noites deixávamos a iluminação do quarto encarregada por ele, e Kate se deitava na cama com seus livros e assim ia até a hora que se cansava o suficiente para dormir.

Bem, o abajur quebrou.

Não tinha concerto e não o achamos em nenhuma loja, apesar de ter semelhantes ela queria aquele. Em uma das minhas buscas achei aquelas luzinhas que agora Kate pendurava no teto, eram maiores que luzinhas de natal, mas menores que uma lâmpada normal também, era um cordão cheio delas em tons de amarelo, e quando as liguei na tomada no escuro, Kate quase saltou de felicidade. A iluminação ficava bem semelhante a que estávamos acostumadas com seu abajur.

E agora eu tinha uma Kate sentada nos meus ombros enquanto colocava as luzinhas no teto.

— Kate, pelo amor de Deus — eu disse segurando suas pernas com força — você não é pesada, mas é um ser humano adulto e eu não sou nenhum exemplo de força.

— Calma, faltam cinco — ela disse — dá um passo pra frente.

Dei um passo respirando fundo.

Alguns toquinhos na porta, me virei para olharmos para lá.

— Sou eu — Abby disse.

— Entra — dissemos em uníssono.

Abby entrou despreocupada franzindo o cenho ao ver Kate nos meus ombros pendurando luzinhas no teto.

— Mais um dia normal — disse apenas indo até a cama de Kate e se sentando — precisam de ajuda?

— Quer segurar ela por mim? — perguntei já quase morrendo.

Abby deu de ombros, era quase do meu tamanho, ia dar certo. Suspirei aliviada enquanto Abby ajudava Kate a sair dos meus ombros, se abaixando um pouquinho ao lado da cama onde Kate subiu, depois subindo nos ombros de Abby.

Sentei as observando, sentindo meus ombros gritarem comigo pela ousadia de fazer aquilo com eles.

— Você é levinha — Abby sorriu segurando as pernas de Kate.

— Daqui quinze minutos não vai dizer isso — falei fazendo as duas rirem — precisa de algo? — olhei para Abby que desviou os olhos do teto para os meus.

— Ah, não — disse despreocupada — mas Sarah ta se comendo com o Nick e não queria ficar sozinha no quarto.

Ri.

— Nunca se incomodou em ficar sozinha — Kate disse.

O dom daquela menina de incendiar as pessoas às vezes me surpreendia, a tatuagem de unicórnio e a carinha de inocente não me enganavam há muito tempo.

— Ah eu to estressada e não quero ficar sozinha remoendo minha raiva sozinha — ela disse — conversar com vocês na maioria das vezes é agradável.

Ri “na maioria das vezes”.

— O cabeludinho da moto tá tirando seu sono? — Kate perguntou com um sorrisinho.

— Baker, está nos meus ombros, não me irritaria na sua posição.

Ri de volta.

— Isso foi um sim, obrigada por confirmar — ela disse colando a penúltima luz.

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora