Informante

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Enrolei quase dois dias até contar para minha mãe que eu ficaria ali mais do que apenas "alguns dias”. Talvez era pelo fato de eu ter certeza que eles não iriam se incomodar, ou talvez, o medo das perguntas que seguiram a notícia.

Meu pai saiu para trabalhar cedo naquela segunda, e ao me deparar com minha mãe sozinha na cozinha, preparando o almoço, me senti na obrigação de ser sincera. Afinal, era minha mãe, nunca deixou de me apoiar em nada e não seria agora que o faria.

— Bom dia, querida — ela sorriu reconfortante quando me ouviu na escada.

Tentei sorrir de volta da forma mais verdadeira possível.

— Oi, mãe — fui até ela a abraçando, beijando sua bochecha.

— Conseguiu descansar? Parecia péssima ontem.

A soltei e respirei fundo me sentando na bancada, puxando as pernas para cruzá-las. De repente me veio um déjà vu de quando eu voltava da aula e sentava na bancada para conversar com ela enquanto preparava o jantar.

— Filha?

Pisquei voltando para a terra e direcionei meus olhos para os seus. Agora ela parecia meio preocupada.

— Eu tenho algo para te falar — olhei para o chão de volta — eu e Charlie tivemos uma discussão feia há pouco mais de uma semana e... eu pensei em ficar aqui alguns dias — ela me olhou atenta e eu pisquei com força sentindo meus olhos marejarem — eu não sei se vou pra lá mais, mas se eu decidir não ir, prometo que me viro em algum lugar e não fico enchendo vocês, mas eu preciso de um tempo para me organizar e... — fui interrompida com um abraço forte, e quando menos percebi estava chorando no ombro da minha mãe.

— Você jamais nos encheria, fique o tempo que precisar, um mês, um ano, vinte anos — ri em meio as lágrimas a apertando mais forte.

— Obrigada, mãe.

Ela me soltou para olhar meus olhos e rapidamente limpou minhas lágrimas, eu sentia a dor dela de me ver daquele jeito, eu não tinha filhos, mas imagina como deveria ser.

— Quer me contar o que aconteceu?

— Eu não quero falar dele pelos próximos dias — respirei fundo tentando me recuperar — vou querer te ouvir sobre isso, mas não agora.

— Claro, meu amor — tentou sorrir reconfortante acariciando meu rosto.

— Pode falar com o papai depois? Eu não quero ter que...

— Claro, converso com ele depois — arrumou meu cabelo  — então vai me fazer companhia durante as tardes? — ela perguntou contente.

— Vou — sorri limpando o último resquício de lágrimas do meu rosto — sinto falta de sentar aqui e conversar com você.

— Eu também sinto — ela me olhava tão profundamente que não precisava expressar em palavras para eu saber o quanto aquela mulher me amava — você e seu irmão quebrando essa casa de formas diferentes toda semana, o silêncio que vindo de vocês nunca era boa coisa... sinto falta de tudo.

Ri um pouco a fazendo sorrir abertamente.

— Não acho que fomos perfeitos, mas fizemos um trabalho perfeito com vocês — sorri também — não poderia pedir filhos melhores.

A abracei de volta deixando que seu calor me confortasse.

— Foram perfeitos para nós, é tudo que importa — sussurrei.

* * *

O restante da semana foi estupidamente calma. Minha mãe conseguia me distrair o dia inteiro, e quando meu pai chegava no fim da tarde, me ocupava em ouvir as histórias de família que ele sempre contava para mim e Carter quando éramos menores, mas na época não dávamos importância.

O melhor amigo do meu irmão Where stories live. Discover now