História pra dormir

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Acho que nunca corri tão rápido em toda minha vida. Eu odiava deixar as coisas pra última hora, mas ultimamente eu não tinha como não fazer isso.

Entrei na sala derrapando e o professor me olhou em advertência, ergueu o pulso para olhar a hora e voltou a me olhar.

— Quarenta segundos de antecedência, impressionante — ele disse estendendo a mão.

— Mil perdões — tirei a pasta da bolsa e entreguei o trabalho a ele — está pronto há mais de um dia, mas esqueci de entregar antes.

Ele assentiu guardando meu trabalho com os demais.

— Começe a anotar o que entregou — sugeriu.

— Sim, senhor.

Sai da sala ofegante, e quando sentei no chão, meu celular tocou. Vi a foto de Kate e fechei os olhos atendendo.

— Vai me falar que Charlie está me traindo e eu tenho que ir ai dar na cara dele? — perguntei sorrindo.

Kate riu.

— Não que eu saiba— rimos de volta — Abby me disse que você está entrando em parafusos, decidi ligar.

Ri de desgosto.

— Eu quis fazer muita coisa e não to dando conta, é a verdade.

— Parece que a mulher maravilha também cansa, não é? — ri revirando os olhos — participando de quantos projetos?

— Seis.

— O que?— ela riu e eu acabei rindo de volta — tá maluca?

— Acrescenta no currículo e todos pareciam tão interessantes.

— SEIS?— ela gritou de volta e eu ri juntando forças para me levantar.

— Três deles terminam esse semestre, então vou ficar só com três daqui um mês.

— Três ainda é loucura — ela disse — eu arrastei dois até o fim na pura força do ódio. Você é doida.

Ergui os ombros, mesmo que ela não pudesse ver.

— Estou tentando ocupar minha cabeça.

— Entendo— ela respirou fundo — Charlie fica suportável depois de falar com você todos os dias.

— Suportável? — ri.

— É, deve estar notando que ele anda bravinho, aparentemente tem alguém insuportável no trabalho e...

— É, eu soube — respirei fundo — ele disse que iria se virar, mas acho que não está dando certo.

— Nenhum pouco— ela concordou — mas e a senhorita? Fora a correria está bem?

Era difícil responder aquilo, porque não considerava que estava bem, mas também não havia nenhum embasamento para dizer que estava mal.

— Estou, eu acho — me encolhi dentro da blusa enquanto andava calmamente em direção ao dormitório.

Abby estava me ajudando bastante no quesito não me sentir sozinha, mas aqueles meses estavam sendo bem incômodos. Era diferente do intercâmbio, lá eu também estava sozinha, mas agora era como ter um buraco nos meus dias.

Às vezes eu passava em frente a antiga casa dos meninos. A fraternidade havia pintado de branco e feito alguns símbolos vermelhos em volta, e mesmo estando completamente diferente, eu ainda lembrava de Jack arrumando a moto com Nick, eu e Kate jogadas no jardim para tentar absorver um pouco de vitamina D.

E Charlie, no quarto lendo algum livro em voz alta para treinar sua dicção nos seminários.

— Daqui a pouco vai estar aqui — Kate disse suspirando — e no final do ano vai ser minha vizinha definitivamente, e eu vou fazer da sua vida um inferno.

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora