Ele se importa

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Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo firme enquanto eu mexia no quintal com a minha mãe. O sol batia diretamente na minha cabeça queimando meu couro cabeludo e minha testa já brilhava de suor, mas eu estava determinada a fazer aquilo direito.

— Um pouquinho mais de delicadeza, filha — minha mãe indicou mexendo na plantinha ao meu lado.

Eu não tinha nenhum pouco de jeito com coisas manuais que exigissem delicadeza e movimentos mínimos, mas eu estava me esforçando.

Amanhã faria três semanas que eu havia me formado e ido para lá, e meu deus, os dias passavam muito devagar quando não se tem o que fazer, então eu simplesmente ajudava minha mãe no que quer que ela estivesse aprontando.

Talvez fosse a rotina eufórica que eu estava tendo antes de ir até ali que estava me fazendo sentir vazia, ou talvez fosse o buraco que a ausência, em todos os sentidos, que Charlie deixava em mim.

Falei com Kate algumas vezes naqueles dias, ela perguntava como eu estava e eu perguntava como Charlie estava, era um questionário forçado tanto para eu revelar meus reais sentimentos, quanto para ela me dizer realmente como Charlie estava.

Eu até poderia pensar que ela passava informações a ele sobre mim, bancando uma agente dupla, mas ela ainda reforçava que ele não saia de casa a não ser que fosse necessário, e quando por acaso conseguiu encontrar ele no elevador com as compras da semana, ele tentou sorrir e só disse que estava muito cansado, mas sabíamos que não era isso.

Eu não sentia mais aquela raiva que estava sentindo, e inconscientemente alimentando, nos primeiros dias. Agora eu sentia falta dele, como senti todos os dias daquele ano longe, mas ao mesmo tempo, não conseguia nem pensar em pegar em avião e ir até Los Angeles. Era uma droga de sensação que eu não sabia explicar.

Olhei para minha mãe e suspirei. Eles foram incríveis comigo todos esses dias e em nenhum momento tocaram no assunto, talvez fosse minha hora de pedir ajuda dela.

— Mãe — a chamei enquanto ela permanecia extremamente focada em suas plantinhas — acho que estou pronta pra falar do Charlie.

Ela ergueu os olhos imediatamente e me analisou alguns segundos antes de soltar suas ferramentas de jardinagem na grama.

— Quer entrar? — olhou para a porta.

Eu não me incomodaria de ficar ali, mas o sol estava me deixando meio mole.

Assenti.

Levantamos recolhendo as coisas e antes de entrar, molhei as mãos com a mangueira tirando os resquícios de terra dali, depois ajudando minha mãe a fazer o mesmo.

— Diga, meu amor — sentou à mesa da sala e eu me sentei ao lado dela devagar.

— Eu tentei chegar a alguma conclusão nesses dias, mas as coisas parecem muito confusas pra mim, talvez consiga me ajudar — ela assentiu, eu tinha certeza que ela poderia me ajudar, sempre ajudava.

— Pode começar contando o que aconteceu, e depois como se sente em relação a isso — ela sugeriu ao ver que eu estava tentando ver por onde poderia começar.

Assenti.

— Um tempo antes da formatura ele me ligou para avisar que não ia poder ir, porque tinha um congresso naquela semana — ela estendeu a mão por cima da mesa segurando a minha, me passando conforto — e não seria um problema se ele não tivesse dito explicitamente que a cerimônia não era algo "importante", justificando sua ausência como algo de certa forma tranquilo — engoli seco, lembrar daquilo ainda doía — e eu tentei ignorar isso e meio que fui arrastando esse sentimento até uma semana antes da formatura quando decidi tocar no assunto com ele. Bem, Charlie ficou bravo por eu ficar remoendo aquilo, ainda mais por não ter entendido que minha tristeza não era por ele literalmente não poder ir, mas sim por não entender que aquilo era importante pra mim e que me deixava triste ele tratar como se fosse algo irrelevante o suficiente para ele nem se setir mal por não poder ir.

O melhor amigo do meu irmão Where stories live. Discover now