Capítulo 1 - La luna está llena, mi cama, vacía

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— Se você sentar na minha cara e esfregar esse teu cu no meu rosto todinho, talvez meu humor melhore.

Martín se engasgou com a água que tomava, cuspindo sem querer um pouco dela ao ouvir as palavras de Luciano.

"Tipicamente vulgar, como sempre".

O argentino olhou para o rosto do brasileiro como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir, apesar de saber perfeitamente bem que era provável que o moreno falava sério.

Luciano continuou encarando a televisão do bar, aparentemente despreocupado, bebericando a garrafa de cerveja com uma preocupante velocidade. Era evidente que o homem já estava relativamente bêbado, e Martín sabia que o acharia neste estado quando se propôs a encontrá-lo naquele lugar para que os dois pudessem conversar.

A ideia inicial do Argentina era apenas tentar consolar o colega de profissão, porque os rumores e fofocas que se espalhavam nos bastidores eram nefastos o suficiente para machucar qualquer pessoa que já estivesse passando por algum tipo de crise intrapessoal.

Era como se o mundo do futebol estivesse presenciando Brasil, o Rei deste esporte, perder seu reinado aos poucos. A morte do maior de seus ídolos, a repentina aposentadoria do ex-Menino Neymar, o sonho de uma Copa que por duas décadas já não se realizava, e a recente penalidade imposta pela FIFA em decorrência do comportamento geral dos jogadores brasileiros em campo...

Tudo isso era a receita perfeita para que o sempre brincalhão Luciano finalmente sucumbisse a um estado de depressão.

E o brasileiro não conseguia esconder isso de Martín, apesar de estar claramente tentando transparecer que estava tudo bem.

— Eu não tô brincando, mi amor – Luciano virou-se para encarar Martín, percebendo o silêncio que se arrastava entre os dois.

— Eu sei que não está. Mas pra você me falar esse tipo de coisa tão abertamente assim, é porque já bebeu demais mesmo. Sem brigar antes? Sem ofensas, sem ataques? Direto assim?

— Direto assim. Hoje tô cansado pra ficar de treta contigo. Eu só quero te comer mesmo.

— Luciano... – Martín disse num tom de aviso, encarando Brasil ferozmente.

— Martín, delicioso Martín... – Brasil virou-se ainda mais na direção do argentino, girando na cadeira do balcão do bar.

O brasileiro usava uma camiseta preta exageradamente colada em seu corpo, o colar dourado que sempre estava em seu pescoço brilhava no local mal iluminado. Por um brevíssimo instante, Martín teve memórias de uma guerra que acontecera há menos de três meses no Catar – uma guerra da qual ele saiu perdedor, debaixo de Luciano, com aquele mesmo colar dourado se esfregando em seu rosto, misturado com o suor do brasileiro que pingava copiosamente de seu peito nu.

Martín fechou os olhos e balançou a cabeça para tentar tirar aquela memória de sua mente, mas ao encarar Luciano mais uma vez, quase pôde sentir de novo as sensações daquela noite por todo seu corpo, ao ver o sorriso cínico e sarcástico do brasileiro.

Só que dessa vez, Martín notava algo naquele sorriso que realmente o desagradava.

— O que me diz? O prédio aqui do lado é um hotelzinho, podemos pegar um quarto agora.

— Luciano – Argentina repetiu. — Eu realmente não vim aqui pra isso. Eu vim porque a Colômbia me mandou mensagem pedindo pra que eu servisse de companhia pra você por algumas horas. Será que você não pode conversar feito um homem normal pelo menos uma vez na sua vida, e não como um bicho que está eternamente num cio descontrolado?

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Where stories live. Discover now