Capítulo 58 - Pra acabar de vez com essa disritmia

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O nome de Luciano ficou preso na garganta de Martín porque o argentino não encontrava forças para falar quando finalmente alcançou o extenso jardim à frente do sobrado no qual os dois homens se hospedavam.

Mas não foi necessário que Martín gritasse pelo brasileiro, porque Luciano estava deitado num dos bancos da varanda do imóvel, balançando uma perna tranquila, parecendo estirado numa rede imaginária.

Assim que o moreno ouviu os passos de Martín, ergueu-se com a ajuda de um cotovelo e mudou as expressões de seu rosto pelo menos duas vezes em questão de segundos: de animado feito criança que aguardava ansiosamente por sua pessoa favorita, à preocupado com o esbaforimento do loiro, à verdadeiramente tenso por notar a ansiedade do argentino.

Luciano se levantou ligeiro, sem ao menos calçar os chinelos, andando apressado até descer os poucos degraus da varanda – e Martín diminuiu a distância entre os dois homens num impulso só, usando o ínfimo restante das forças em suas pernas para correr de novo e se jogar nos braços do moreno, no colo do moreno.

O brasileiro se esforçou para não cair para trás com o impacto do corpo masculino demasiadamente robusto que se jogou contra ele, mas o moreno prontamente agarrou Martín – que já tinha passado braços e pernas ao redor do pescoço e da cintura de Luciano – em segurança.

O argentino apertou Luciano com excessiva força naquele abraço, sentindo-se retirar o ar diretamente do peito do moreno – que, apesar disso, ninava Martín com evidente carinho enquanto acariciava as costas molhadas de suor do loiro.

Luciano falava qualquer coisa, perguntava qualquer coisa (que Martín achava ser na linha do "o que foi?", ou "o que aconteceu?"), mas o argentino parecia não conseguir ouvi-lo.

Martín afagou os cabelos negros do moreno, beijou o que conseguia alcançar da cabeça de Luciano; e um mantra interno, intenso, que pedia aos céus para que as palavras daqueles comentários nefastos sumissem de sua mente de uma vez por todas era a única coisa que o argentino conseguia escutar.

Luciano se apressou para voltar para a varanda do sobrado, indo diretamente à porta da casa, entrando e fechando-a desajeitado com o pé.

Só quando os dois rapazes já estavam sala de estar adentro é que Martín enfim decidiu descer do colo de Luciano.

O argentino agarrou os dois antebraços do brasileiro, fincando vigorosamente as unhas na pele morena, ainda ofegante de toda aquela corrida, e notou-se ficando mais aflito quanto mais ele provocava aflição nos olhos negros que o fitavam preocupados.

Aos poucos, a voz de Luciano começou a fazer sentido nos ouvidos de Martín, mas o argentino perguntou antes que pudesse responder a qualquer pergunta do outro homem:

— Luna e Mai...?

— Elas já foram embora. Acho que Luna estava prestes a ter um aneurisma, de tão incomodada com essa intimidade toda da nossa latinidade, eu diria – Luciano respondeu, balançando a cabeça como se quisesse dizer que aquele não era o assunto ideal para o momento. — Martín, meu bem, o que foi? Aconteceu alguma coisa?

A resposta automática da cabeça de Martín, que disse um 'sim' balançado, agravou a preocupação nos olhos de Luciano.

— Me desculpe... por te abraçar assim, com esse suor todo – o argentino disse, sem perceber que suas palavras pareciam querer auxiliá-lo numa fuga do assunto principal.

Luciano balançou a cabeça em negativa de novo. Levantou as mãos (desajeitadamente porque Martín ainda fincava os dedos na pele morena) e levou as duas até o pescoço úmido do argentino.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum