Capítulo 41 - Enquanto essa confusão não morrer, enfim, eu insisto

4.5K 273 970
                                    


Martín sentia as mãos de Luciano brincando com seus pés despreocupadamente.

Os dois homens estavam deitados, Luciano estirado na ponta oposta da cama, Martín próximo à cabeceira, recostado em alguns travesseiros e mexendo no celular.

— Não existe um significado diferente para 'te quiero' nessa tua língua maravilhosa? – o brasileiro perguntou, e Martín não precisaria nem mesmo olhá-lo para conferir o nível de cinismo no sorriso do moreno.

Mas o argentino o olhou de qualquer forma, apenas para revirar os olhos.

— Não existe. Significa 'te quero'. Só isso – o loiro respondeu, engolindo a própria mentira com dificuldade.

O sorriso de Luciano se abriu ainda mais.

— Nem se tua vida dependesse disso, tu conseguiria mentir. Tu sabe que esse é um talento necessário às vezes, não sabe? Esconder a verdade. Mas tudo bem, cariño, eu sei que tu não me falaria certas coisas se realmente não tivesse a intenção de dizer...

Luciano beijou um dos pés de Martín, repousando os lábios por um tempo contra a pele do argentino.

Martín mexeu os próprios dedos do pé em resposta automática, o que fez com que a boca do moreno subisse por toda a extensão daquela parte do corpo do argentino, até alcançar as pontinhas dos dedos, beijando-o arrastadamente mas sem deixar para trás um rastro molhado de saliva.

O loiro se mexeu mais uma vez. Usou dos dedos para virar o rosto de Luciano de um lado para o outro, e o brasileiro se permitiu ser controlado pelo pé do outro homem, com um permanente sorriso sacana na face. Encarando-o com aqueles olhos negros, e recebendo de volta a mesma intensidade no olhar azul, o moreno pareceu tão interessado nas ações de Martín quanto o próprio argentino estava nas reações de Luciano ao ato de ser tocado tão simples e intimamente daquela forma.

Os dois homens permaneceram por um brevíssimo momento naquela troca de carícias silenciosas, entre pés que eram beijados e rosto moreno que era tocado de volta, até que o brasileiro disse:

— Apesar de que existe uma coisa sobre a qual eu penso que tu mente pra mim, mas eu não posso dizer isso com certeza.

Martín levantou uma sobrancelha questionadora.

— Teu primeiro beijo – Luciano continuou. — É provável que eu esteja projetando o meu desejo de que eu tenha sido o primeiro, eu gostaria de ter sido o primeiro. O que me deixa em dúvida é o fato de que aquele nosso beijo, falo do primeiro também, foi tão... Tão gostoso, que me faz questionar se eu realmente fui tua primeira experiência nisso. Eu lembro direitinho. Não parecia mesmo que tu já não tinha uma prática quase que profissional em beijar. Tu me tirou do chão naquele dia.

Martín permaneceu em silêncio, voltando a atenção rapidamente para o celular que ainda segurava, sem de fato olhar para o que quer que fazia com o aparelho antes de se distrair com a conversa de Luciano.

Havia um número considerável de assuntos sobre os quais o argentino sentia receio de abordar com o outro homem, e que ele notava, de certo modo, ser um receio recíproco da parte de Luciano.

Como se os dois quisessem evitar brigas e discussões que seriam impossíveis de se resolver sem passar pela infantilidade de sentimentos como ciúmes ou pequenos arrependimentos do passado.

Martín não queria dar o braço a torcer quanto ao fato de que Luciano estava certo sobre essa mentira.

Ou, se o argentino fosse sincero, quanto ao fato de que Luciano permanecia sendo o primeiro e o único homem com quem Martín dividira intimidades em toda a sua vida.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Where stories live. Discover now