Capítulo 37 - Tu locura es mi ciencia

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"Este homem é tão belo que me faz querer chorar..."

Os pensamentos de Martín percorriam caminhos que pareciam estranhos ao argentino, caminhos que traziam de volta uma intensidade de sentimentos até então adormecidos e despertos depois de um longo sono, enquanto Martín observava Luciano parado próximo à cama.

O brasileiro mexia no celular distraidamente, cantarolava baixinho uma música que Martín desconhecia, dançando com os ombros e com a cintura de um jeito igualmente desligado. O moreno balançou os próprios fios de cabelo molhados depois de um banho recém-tomado, e o argentino viu mais uma vez um filhotinho na figura daquele homem enorme.

Martín, sentado à mesinha que compunha o conjunto de móveis do quarto, com um livro aberto no qual ele não conseguia se concentrar, olhava o moreno com extrema atenção, perdendo-se naqueles pensamentos e naquele brasileiro.

A noite caiu no final do segundo dia em que o brasileiro seguia respeitando, com extrema naturalidade, o pedido do argentino sobre querer ficar sozinho. No dia anterior, depois que eles voltaram da praia, foi Martín quem se sentiu inquieto no início, com um enorme receio de que o tédio e quietude de sua companhia fossem irritar Luciano de qualquer forma.

Mas o moreno não parecia nem um pouco entediado, mesmo depois de passar horas apenas deitado ao lado de Martín sem fazer nada enquanto o argentino assistia qualquer coisa num iPad, ou sentado ao lado do loiro enquanto ele lia.

Pelo contrário – Luciano tomou a iniciativa do que podia fazer dentro dos limites da solidão de Martín; se responsabilizando, por exemplo, pelo lanche, pela janta, pelo café da manhã e almoço do dia seguinte, acompanhando as rápidas e esparsas conversas do argentino, e não parando de tocá-lo com leveza sempre que possível.

Luciano dormiu durante a tarde deitado no peito de Martín, estirado no meio de suas pernas e abraçando-o pela cintura. Acordou meio atordoado, se desculpando por não ter percebido que tinha caído no sono. Deu um beijo rápido numa bochecha do argentino, e desceu para o andar de baixo da estadia, ficando lá por um bom tempo antes de anoitecer.

Martín se sentia incapaz de acreditar no quão naturais tinham sido aquelas quase quarenta e oito horas de paz, nas quais ele ficara sozinho e, ao mesmo tempo, muito junto de Luciano.

Enquanto ainda estudava a visão do moreno que parecia mais pacificamente alegre do que o normal, o argentino se questionou se Luciano tinha alguma noção do quão perfeito ele era, e essa noção não assombrava Martín, porque lhe era extremamente lógica: se existia alguma pessoa minimamente perfeita neste mundo, era Luciano. Por todos os motivos que o argentino listava em mente naquele instante.

Dos atributos físicos do brasileiro, à sincera devoção emocional que Luciano tinha para com tudo e todos aqueles a quem ele entregava seu coração, o moreno servia de exemplo para qualquer pessoa que intentasse se transformar num ser humano melhor. Mesmo com todas as histórias que Martín sempre ouvira sobre Luciano, sobre as aventuras do brasileiro dentro e fora de campo, até mesmo quando o moreno parecia perpetuar uma fama de moleque crescido, tais conversas sempre surgiam recheadas de um consenso geral de que ele era belo, bondoso e acalentador até demais.

Então essa era a lógica mais pura, Martín concluía: Luciano era perfeito, tão perfeito que o fazia querer chorar.

O argentino refletia sobre isso e sobre os últimos dias quando o brasileiro olhou em sua direção repentinamente, se surpreendendo ao encontrar Martín encarando-o com seriedade.

Também de modo repentino, Luciano levou uma mão à boca para tapar os lábios:

— Nossa, bebê, desculpa! Eu atrapalhei tua leitura? – o moreno exclamou, se dando conta de que fazia barulho com sua leve cantoria.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Where stories live. Discover now