Capítulo 27 - Vidrado no teu sorriso, com a cara de besta que sou

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"Eu tenho que concordar com esse boludo... Isso só pode ser um sonho..."

Martín tentava enxergar toda aquela situação como um devaneio de sua imaginação, mas não um que o atacasse na forma de uma ansiedade que lhe cortava a respiração, como acontecia naquele instante. O argentino sentia-se tão autoconsciente da sua mão na de Luciano, que ele não conseguia pensar em mais nada.

— Boa tarde, Senhores. Como têm passado? Espero que a Ilha esteja lhes tratando bem até o momento – a voz do velho Samak soou extremamente amigável e suave, o que pareceu acalmar um por cento da inquietação de Martín, já que indicava que o senhorzinho aparentemente não se importava de fato com a cena que presenciara.

— Estamos muitíssimo bem, obrigado! – Luciano respondeu, animadamente.

Martín olhou pra cima, procurando o rosto do brasileiro, e notou que o moreno estava mesmo animadíssimo – como uma criança que acabara de ganhar o brinquedo dos sonhos, sorrindo abertamente, os dentes brancos e perfeitos formando uma fileira tão ordenada que fazia todo o conjunto da obra parecer um verdadeiro Sol.

Isso também acalmou um pouco a ansiedade de Martín. A imagem daquela felicidade cristalina de Luciano atuou como um antídoto para a palpitação que o argentino sentia em seu peito, dando-lhe a impressão de que seu coração queria desesperadamente pular pra fora.

— Fico feliz, meus Senhores. Eu vim até aqui agora porque preciso resolver com os Senhores sobre alguns requerimentos que foram feitos enquanto acertávamos a viagem com suas equipes pessoais. Alguns pedidos sobre pontos organizacionais da Ilha, apenas burocracia para termos a certeza de que estamos proporcionando o melhor serviço.

— Samak, tu apareceu na hora certa. Eu tenho outros requerimentos a fazer, e com um pouco de urgência – Luciano respondeu, o que atiçou um pouco a curiosidade de Martín. Os olhos azuis do argentino o olharam mais uma vez.

— Claro, estou pronto para ouvi-lo. Mas, antes disso, meu Senhor, se me permite, – o velho disse, pela primeira vez aparentando estar um pouco alarmado. — os Senhores já devem ter conhecido minha pequena neta, Mai? Eu a trouxe hoje porque... Bom... Sinto-me terrivelmente envergonhado por estar atrapalhando as férias dos Senhores com isso. Acreditem, nossa família tem um regramento bastante estrito sobre o convívio com os hóspedes da Ilha, e Mai nunca, absolutamente nunca saiu dos limites do nosso setor, mas... Não sabemos o que está acontecendo com essa menina. Ela ficou a tarde inteira chorando porque queria vê-lo, Senhor Luciano. E Leon me garantiu que o Senhor não se importaria se eu a trouxesse...

— De jeito nenhum, Samak! Não me importo nem um pouco, eu também estava com saudades da pequena! – Luciano continuava sorrindo sincero, agora afetuoso.

O brasileiro levantou a própria mão que segurava a de Martín para coçar a sobrancelha, numa performance tão falsamente casual que denunciou para o argentino que o moreno estava era fazendo de propósito, já que ele olhava para Leon que segurava a criança em seu colo.

— Quer brincar com o Tio um pouquinho, meu anjo? – Luciano perguntou para Mai, que tinha o rosto parcialmente escondido no pescoço de Leon.

O brasileiro esticou o braço que estava livre na direção do rapaz tailandês, pedindo-lhe silenciosamente para que ele lhe entregasse a criança.

Mas foi Mai quem se agarrou mais forte ao pescoço de Leon, virando o rosto para longe da visão dos dois homens turistas.

Luciano ficou visivelmente decepcionado.

O rapaz tailandês falou com a menina na língua deles, fazendo um carinho no bochecha dela. Mai, no entanto, permaneceu calada.

— Oh céus, que vergonha que esta criança está nos fazendo passar! – Samak ficou ainda mais apreensivo. — Primeiro quase nos enlouquece porque queria vê-lo, e agora faz isso!

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora