Capítulo 56 - E ela fez melhorar tudo que há

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"Será que ele... realmente pensa...? Será que ele também é tão atacado assim por tantos pensamentos, do jeito que acontece comigo?"

Martín se questionava sobre o que é que se passava na mente de Luciano enquanto observava o brasileiro terminar de esfregar rapidamente uma toalha pelo corpo, como se de fato o secasse, mas deixando a pele morena ainda brilhar com resquícios da água do chuveiro.

Os dois homens tomaram banho juntos, num preparo para recepcionar Luna e Mai para a noite de cinema proposta por Luciano.

Mas a razão para o questionamento aleatório do argentino acerca dos costumes reflexivos de Luciano se dava ao fato de que o próprio Martín encontrava-se terrivelmente aflito com as incontáveis perguntas que permeavam sua mente – não a ponto de desassossegá-lo de um jeito doloroso; mas, por óbvio, eram ponderações inquisitivas fortes o suficiente para causar-lhe incômodo.

Martín se questionava como era possível sentir-se tão impactado com a história de uma família que lhe era estranha – ou, ainda, como era possível sentir-se tão conectado a um pequeno ser com o qual ele mal tinha trocado algumas dúzias de palavras.

Seria pelo peso da tragédia que acometera a curtíssima vida da pequena Mai? Seria porque ele se via, de certa forma, nos olhos da garotinha, os quais ele julgava serem demasiadamente solitários? Seria porque assim são os seres humanos, apenas – se compadecem desse jeito na mais pura empatia?

"Não é como se você nunca tivesse sentido algo semelhante por qualquer outra pessoa em sofrimento", a voz da razão tentou argumentar com o argentino.

"Mas eu nunca fiz questão de me aproximar de verdade de qualquer outra pessoa em sofrimento", Martín se autoretrucava.

"Então talvez você esteja apenas se tornando mais humano, agora que decidiu dar uma chance real pros seus sentimentos, pra esse boludo...".

"Eu sempre fui bastante humano, do que você está falando-"

— Tu vai gastar um vidro inteirinho desse negócio que tu passa no rosto, é? – Luciano disse ao pé do ouvido de Martín, tocando-o levemente nas costas, na região mais baixa da cintura do argentino.

Martín encarou o vidro do sérum facial que era referenciado pelo brasileiro. Voltou o olhar para o reflexo dos dois homens no espelho, percebendo que seu rosto de fato brilhava bastante pela quantidade exagerada do óleo que esfregara sem perceber, enquanto se perdia em pensamentos.

O argentino passou os dedos umedecidos de sérum no rosto de Luciano, que fechou os olhos e aceitou a semi-massagem hidratante; terminando de espalhar, em seguida, o excesso de sua face até a região do pescoço.

— Quais são os demônios da tua mente que eu devo combater dessa vez? – o brasileiro perguntou, se afastando para colocar-se ao lado de Martín.

— Nenhum demônio que esteja querendo atrapalhar demais, não se preocupe.

Luciano levantou uma sobrancelha questionadora.

De verdad – Martín o assegurou, o encarando pelo reflexo do espelho. — Eu só estava me questionando sobre... coisas da vida... Tentando entender essas coisas.

O brasileiro espreguiçou os braços na frente do corpo, causando um barulho alto de estalo nos ossos em seus ombros.

— Isso é sobre Mai ainda, cariño? – o moreno, é claro, 'adivinhou' com precisão.

Martín virou o rosto para olhá-lo diretamente, mantendo a inexpressividade que lhe era típica em sua face, mas que parecia ter dado espaço demais a expressões de alegria e afeto nos últimos dias.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora