O momento de afeto – rápido e repentino – que sempre ocorria quando Luciano e Martín se perdiam um no outro geralmente acontecia na segunda ou terceira "rodada" durante a noite de prazeres dos dois.
Dentro daquele avião, porém, esse momento tinha acontecido no final, quando ambos já tinham terminado, quando já estavam se abraçando e esperando as sensações sexuais finalmente abandonarem seus corpos.
As palavras ditas por Luciano pareceram pegar tanto o brasileiro quanto Martín de surpresa. Os dois permaneceram na mesma posição em que estavam sentados ao chão, agora abraçados, escutando nada além das respirações um do outro e do insistente barulho do avião.
Ambos estavam sem reação. O receio que sentiam de um encarar o outro era quase palpável no ar.
Não era como se Luciano tivesse dito algo absurdo, ou um crime, Martín pensava. O argentino sabia que existiam algumas regras implícitas naquele estranho relacionamento que eles mantinham, e dentre tais regras estava o máximo de respeito na cama, na medida do possível de suas personalidades – Luciano com sua infindável liberdade luxuriosa respeitava os limites de Martín, e Martín com toda a sua agressividade se permitia entregar-se e suavizar-se diante do brasileiro.
Martín escolheu por interpretar as palavras do colega de profissão como palavras que apenas confirmavam esse respeito que se assemelhava a afeto, porque os dois já compartilhavam boa parte de suas vidas juntos – era impossível, afinal, não terem construído uma história que beirava exatamente o mais puro afeto.
Um pouco de camaradagem, um pouco de cumplicidade, um pouco de amizade, um pouco de confidencialidade... "Sí, tenemos um poco de tudo".
A dúvida sobre o porquê de os corações dos dois homens continuarem palpitando em seus peitos, num ritmo conjunto quase perfeito, era o que preenchia o ar.
Luciano sussurrou algo sobre como provavelmente faltava menos de uma hora para que eles fizessem a escala em Dubai. Passariam quase um dia inteiro lá, e então continuariam a viagem até Bangkok.
Os dois se levantaram desajeitados, colocaram suas roupas desajeitados, seguiram até o banheiro ainda sem jeito um com o outro.
Limparam o que dava pra limpar de seus corpos naquele lavabo apertado e, quando saíram do local para voltarem às poltronas, foi Martín quem tomou a atitude para poder mudar aquele clima estranho que tinha ficado entre os dois.
O argentino segurou a mão de Luciano, as duas mãos úmidas pela lavagem recente. O brasileiro o encarou surpreso, e deu um sorriso verdadeiramente tímido, algo que Martín viu poucas vezes nesses mais de dez anos que o conhecia.
Martín se perguntou se deveria soltar aquela mão morena, mas Luciano respondeu silenciosamente que não, entrelaçando os dedos dos dois ainda mais.
Eles chegaram à Dubai calados. Pela primeira vez durante toda aquela conturbada relação, eles não sabiam o que deveriam falar um para o outro.
Tanto Luciano quanto Martín agradeceram aos ares quentes de Dubai pela distração que lhes causou, retirando-os daquele sentimento estranho que flutuava entre eles.
Martín soltou a mão de Luciano assim que a comissária os avisou da aterrissagem, mas foi só a mulher sumir da vista dos dois para que o brasileiro passasse o braço pelos ombros do argentino, abraçando-o forte enquanto o loiro sentia o estômago querer sair pela boca com os movimentos bruscos que o avião fazia ao pousar em terra.
Não demorou muito para que Martín se desvencilhasse de novo de Luciano.
— Dessa vez você não pode nem chegar perto demais, Luciano. Não se esqueça de que estamos num país que provavelmente nos condenaria à morte caso sentissem o cheiro, e creio que eles podem sentir esse cheiro de longe.
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Private Dreams (BraArg) (PT-BR)
Fanfiction"Eu não acho que será possível para o Brasil conseguir se reerguer de todo o vexame futebolístico que ele tem enfrentado nas últimas décadas. Esse maluco deveria simplesmente desistir do papel de melhor do mundo, porque ele realmente não é mais". Es...