Capítulo 15 - É uma loucura, a gente esquece, não tem hora e nem lugar

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O fato de Luciano ter passado o resto da viagem até Bangkok sem tentar enfiar aquele armamento enorme que ele chamava de pênis dentro de Martín preocupou o argentino.

Em verdade, Martín sentia-se dividido entre a estranheza de ter Luciano ao seu lado, colado por mais quinze horas, sem nenhum tipo de avanço físico-sexual da parte do moreno; mas o loiro também estava agradecido pelo conforto de não ter que atingir as expectativas sexualmente inalcançáveis de Luciano, pelo menos por enquanto.

Martín sabia que era provável que o brasileiro estava apenas respeitando o medo e o espaço dele. O problema era que eles estavam prestes a completar vinte e quatro horas sem nenhum tipo de investida mais direta por parte do moreno sedento, e isso era anormal para os padrões de Luciano.

O que tranquilizava Martín era a constatação de que, por mais que Luciano não tomasse nenhuma atitude libidinosa naquelas últimas horas de viagem até o destino final, o brasileiro continuava não se desgrudando do argentino em momento algum.

Alguns dedos morenos ficaram a viagem inteira se enrolando nos fios dourados de Martín, uma perna grande e grossa passava por cima das pernas do argentino, um cochilo tirado mais uma vez no ombro do loiro. Martín não conseguiu nem mesmo ir ao banheiro sem Luciano em seu encalço, parado à porta do lado de fora como um cão de guarda.

Eles conversaram pouco, tentaram assistir a alguns filmes juntos (sem sucesso da parte do brasileiro, que tinha foco e atenção de um menino de nove anos), discutiram a respeito de algumas memórias da infância sobre as quais eles tinham versões bem diferentes.

Martín se questionava se o sentimento difícil de decifrar que parecia ter criado uma morada dentro de seu peito era unilateral. Ele observava Luciano, que demonstrava estar sempre sereno, com expressões que não denunciavam nenhum tipo de preocupação, o que fazia com que o loiro começasse a achar que talvez as sensações incomuns que sentia eram apenas ilusões de uma mente que trabalhava demais.

Por um breve instante, Martín desejou ser mais como Luciano: viver obedecendo a seus impulsos naturais, escutando suas ânsias mais sinceras e simplesmente realizando-as. Talvez ele conseguisse aproveitar ainda mais tudo o que Luciano tinha para lhe oferecer (especialmente no sexo), se fosse menos frígido, mais pragmático.

Esse desejo de ser mais como aquele brasileiro devasso logo passou quando Luciano, nunca perdendo uma oportunidade se quer, sugeriu que eles "brincassem" um pouco no banheiro do aeroporto de Bangkok, quando o avião finalmente pousou mais uma vez em terra.

________

— Quais são as chances de que talvez a gente esteja indo para um encontro direto com uma organização criminosa internacional especialista em tráfico de órgãos humanos?

Martín e Luciano faziam um último trajeto até a Ilha de Sunnhai, dessa vez de carro (à pedido de Martín, que não aguentaria passar nem mais um minuto com os pés fora do chão).

O argentino fez a pergunta retórica numa demonstração de ansiedade. Ele mesmo tinha pesquisado mais a respeito da ilha, pedindo para sua equipe empresária que fizesse uma investigação sobre a veracidade e procedência do lugar.

De fato a ilha existia, era realmente voltada para os super-ricos que queriam fugir do mundo por algum tempo, e uma temporada nela custava muito mais do que um avião comercial fretado (um detalhe que Martín não conseguia deixar passar).

A ansiedade de Martín dava-se mais pelo desconhecido – de estar num país sobre o qual ele conhecia pouco, e indo para um lugar que tinha inevitavelmente uma aura de mistério – do que por qualquer outra coisa.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant