Capítulo 44 - Cê não sabe, mas eu 'tava exatamente aqui, olhando pra você

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Se Martín cochilou por apenas algumas horas durante os três dias que se seguiram ao diagnóstico de gripe de Luciano, o argentino considerava isso o suficiente.

Além de ocasionais dores de cabeça, ele não sentia o restante de seu corpo reclamar pela falta de sono.

Mas a necessidade de dormir o vencera em pouquíssimos e rápidos momentos durante esses dias, depois de muito lutar contra a obstinação do argentino, que se negava a sequer fechar os olhos enquanto cuidava de Luciano.

O brasileiro teve um péssimo dia e uma noite ainda pior após a visita do médico. Praticamente não comeu, a altíssima febre não dava trégua, e gemeu de dores por um longo tempo, apesar de não expressá-las em palavras.

Martín se sentiu quase em desespero neste primeiro dia, só se acalmando um pouco depois de a voz mais velha da experiência de Samak lhe garantir que o fato de Luciano estar suando em bicas pela febre era um bom sinal, indicando que o vírus da gripe atuaria pesado nos primeiros dias, e logo deixaria o corpo do moreno em paz.

O argentino permaneceu ao lado de Luciano o tempo inteirinho neste primeiro dia. Também não quis comer, não foi ao banheiro, não dormiu.

Só no segundo dia deste estado gripal do brasileiro é que ambos os homens fizeram algo de diferente do que ficar deitados na cama, com Luciano envolto em suas dores, e Martín envolto em sua preocupação.

O brasileiro conseguiu comer um pouco da sopa cuidadosamente preparada por Luna, e Martín o acompanhou naquele pouquinho de comida ingerida. Luciano pediu para ir ao banheiro, envergonhado por deixar implícito no pedido que precisaria da ajuda de Martín para se levantar e se locomover, já que se sentia fraco demais para se manter em pé sozinho; e Martín prontamente o auxiliou com uma naturalidade que escancarava a desnecessidade de pudores entre os dois homens.

Neste segundo dia, os dois conversaram pouco, mas só o fato de trocarem algumas palavras foi o suficiente para tranquilizar o argentino, que não conseguia assimilar como uma ideia plausível a daquele brasileiro, sempre tão faladeiro, estar tão fraco a ponto de não ter forças para falar, como ele estava no dia anterior.

Luciano tentou fazer suas típicas piadinhas fora de hora e de lugar, mas a fraqueza da gripe ainda o afligia, causando intensa rouquidão em sua voz e uma tosse que parecia não ter fim.

O brasileiro, quando se notou incapaz de continuar conversando, pediu para que Martín não ficasse muito próximo dele para evitar se contaminar com aquela gripe, ao que o argentino o negou sem pensar duas vezes.

Pediu, então, para que Martín pelo menos usasse uma máscara em proteção, ao que o loiro também se recusou a fazer.

Martín queria que Luciano tivesse um rosto familiar ao seu lado, a todo instante. Uma máscara iria impedir que o brasileiro o enxergasse de verdade.

O argentino tentava assegurá-lo de que estava tudo bem, que Luciano não precisaria se preocupar porque Martín tinha uma imunidade praticamente inabalável.

Sem força alguma para retrucar, o brasileiro deu-se facilmente por vencido, e fez um terceiro pedido – para que Martín o abraçasse enquanto os remédios o derrubavam mais uma vez num sono profundo.

— Já que tu não quer se proteger, então corra todos os riscos por completo, o que acha? – Luciano disse; e a resposta de Martín, recostado contra a cabeceira da cama, foi se ajeitar ainda mais, abrir os braços numa oferta clara ao brasileiro, e esperar que o moreno se arrastasse dificultosamente para se deitar em seu peito, jogando todo o seu peso ali assim que seu rosto encontrou o refúgio dentro dos braços do argentino que o aguardavam.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Where stories live. Discover now