Capítulo 26 - Pra você guardei o amor que nunca soube dar

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— Sabe... O medo de acordar e perceber que tudo isso foi um sonho está cada vez mais real. Acho que mais real do que a noção de que isso está acontecendo mesmo.

As palavras de Luciano se misturaram com o barulho das folhas que os dois homens partiam com os pés enquanto terminavam a caminhada pra fora daquela área florestal.

A chuva tinha finalmente parado quando Martín acordou Luciano de um cochilo rápido que o moreno tirou deitado no peito do argentino, para que os dois pudessem voltar para a pousada.

— Tipo isso aqui – Luciano continuou, levantando as mãos dadas dele e de Martín. — Eu olho pra isso aqui e me pergunto: isso é real? Martín, "o Martín", aquele que passou anos e mais anos me rejeitando de todas as formas possíveis, está realmente me permitindo segurar a mão dele dessa forma? Isso só pode ser um sonho... Entende?

— Mas isso é um sonho. Não é? – Martín respondeu. — O seu primeiro sonho.

— Não, cariño. O primeiro sonho era apenas o de sumir do mapa, mesmo que de mentirinha. Isso aqui... está mais para meu terceiro sonho.

— Como assim-

— E isso aqui – o brasileiro o interrompeu, levantando um pouco as mãos dadas de novo, não conseguindo esconder sua intenção de impedir que Martín o questionasse mais sobre sua vontade secreta. — poderia facilmente ser tu me enganando só porque está tentando contribuir com a realização desse meu primeiro sonho. Não poderia?

Martín encarou Luciano com um olhar duvidoso, arqueando uma sobrancelha.

— Eu não tenho a mínima ideia sobre o que você está falando. E isso é muito raro de acontecer.

O brasileiro deu um sorriso zombeteiro.

— Está dizendo de novo que geralmente eu sou muito fácil de entender porque não sou muito inteligente?

— É claro. Ser direto com as palavras mais sujas sempre foi uma característica bem sua. Ou você nunca presta atenção nas coisas que me diz quando estamos... enfim...?

Luciano riu mais um pouco.

— Quando estamos o quê, neném? Somos os opostos perfeitos um do outro, não somos? Enquanto minhas palavras são simples, diretas e abusadas, as suas são sempre enigmáticas e às vezes elas nem saem... – o moreno levantou as mãos dos dois pela terceira vez, as levando para os lábios e dando um beijo na de Martín. — Tu não estava tão tímido assim algumas horas atrás...

Luciano o olhou com o mesmo olhar de um animal prestes a dar o bote em sua presa, o olhar que ele usou no dia anterior enquanto os dois homens estavam na banheira.

Martín balançou a cabeça, inconformado.

— Falando em palavras, será que "insaciável" tem como sinônimo "o brasileiro mais safado de todos" no seu dicionário?

— Tu disse que me quer de novo ainda hoje, gatinho.

O argentino balançou a cabeça mais uma vez.

— Isso é influência sua. Tem poucos dias que estou perto de você, e já estou desse jeito...

— Desse jeito como? Insaciável também? Sorte a minha, então. Teu cu querendo ser alimentado e meu pau com vontade de comer é só o que a gente precisa mesmo.

Santa madre de Dios...

Os dois homens continuaram trocando implicâncias provocantes quando chegaram ao percurso da praia que dava para a abertura dos quiosques e, enfim, para o sobrado no qual se hospedavam.

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Where stories live. Discover now