10 - Usa o dedo, minha filha

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Os fogos de artifício iluminavam o céu e todos se abraçavam ao meu redor

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Os fogos de artifício iluminavam o céu e todos se abraçavam ao meu redor. Agora vamos brindar com champanhe à beira-mar. Estão todos aqui, inclusive Eloá e Jonas, que trocaram o primeiro beijo do ano quando o relógio bateu meia-noite. Ótimo para eles. Um brinde à felicidade.

Que este ano seja diferente dos anteriores. Melhor, assim espero.

Tio Márcio ficou emburrado a noite inteira, apesar das inúmeras vezes em que sua esposa tentou acalmá-lo.

Assim como o restante da família, ele definitivamente não está acostumado com a filha provocando situações caóticas. Não o julgo, afinal, é a princesinha dele. Só que o mesmo precisa entender que Eloá cresceu e agora faz o que bem entende da vida. Por mais que seja uma situação extremamente adversa, é algo que o mesmo precisa compreender.

A sorte é que esse problema não é meu e estou pouco me fodendo com o que Eloá fez nesta noite e fará no decorrer da madrugada. Até fiquei incomodado com as memórias que vieram à tona, mas que se foda, eu que não vou ficar me prendendo às frustrações do passado, principalmente após a decepção que ela me provocou. Minha querida prima é viciada nisso: me magoar. Portanto, não vou estragar um momento de diversão focando em gente que não merece.

Ainda bem que a parte boa da noite está prestes a começar, pois já não aguentava mais tanto estresse.

Os artistas de que gosto vão cantar no palco montado na área central da praia. Por fim poderei aproveitar esse Réveillon e a embriaguez a que fui obrigado a abraçar para aguentar a Eloá com essa roupa sem infartar. O primeiro será ninguém menos que Baco Exu do Blues, o meu favorito. A animação finalmente voltou a tomar conta do meu corpo.

Estava quase conseguindo sair despercebido, mas Jonas, de mãos dadas à Eloá, decidiu me abordar e chamar a atenção de toda a família. Filho da puta. Se estivéssemos a sós, juro que o xingaria até a morte por isso. Talvez faça depois, se lembrar.

— Vou ao show do Baco com Lolô, está bem? — O fato dele usar o apelido que dei para a Eloá quando éramos mais novos quase me faz revirar os olhos. Para quem daria um fora na minha prima há algumas horas, a relação deles está ótima. Estou enojado com tudo isso.

— Não precisa me dar satisfações sobre o que vai fazer com a minha prima, mano. — Respondo rindo. — Vocês são maiores de idade, têm total responsabilidade dos atos. — Dou de ombros.

— Estou falando porque quem me convidou foi você, idiota. — Jonas rebate e eu dou de ombros.

— Tanto faz. Divirtam-se e usem camisinha. Baco costuma provocar sensações estranhas nas pessoas. Falo por experiência pessoal. — Encaro Eloá e ela desvia a atenção para outro foco, pois sabe que estou falando do incidente do chuveiro.

— Filho, não fale essas coisas! Sua prima vai ficar envergonhada. — Minha mãe me repreende.

— E ele está errado, Carlota? — Tia Viviane, que chegou pouquíssimos minutos após a virada, questiona. — Tem que usar camisinha mesmo, principalmente no show desse homem. — Ela dá uma golada no champanhe. — Eu e Maria já transamos muito ao som de Baco. — Dá de ombros e as gêmeas arregalam os olhos em sincronia.

— Mãe, pelo amor de Deus! — Lúcia repreende. — Não fica falando essas coisas!

— Ah, para né, Lúcia! — Tia Maria responde. — Você acha o quê? Que eu e sua mãe fazemos o quê? Brincamos de pique-pega? A gente transa também, ué!

— O ASSUNTO NÃO É ESSE! — Beatriz corta a mãe. — Pelo amor de Deus, gente, parem de falar sobre sexo. Já entendemos que vocês transam, que eles transam e que todos aqui transam. — Ela vai apontando para todos enquanto fala.

— Eu sou muito nova para ser bisavó, Eloá. — Vó Conceição se pronuncia. — Se quiser transar, usa camisinha. Ou só o dedo. O dedo por hoje tá bom, minha filha. Está todo mundo bêbado, vocês podem esquecer, ou algo do tipo. Se fizer direitinho, fica bom. Seu avô sabia fazer. — Ela começa a refletir e eu dou uma gargalhada. Meu Deus, essa família é caótica demais.

Tio Márcio está muito próximo de ter um surto psicótico. Nunca o vi fumar tantos charutos na vida. Meu pai e Mário estavam tentando acalmá-lo, mas a conversa entre as mulheres começou a ter novos desdobramentos, então o mesmo decidiu se afastar.

Mas não antes de passar ao meu lado e segurar levemente meu braço. Viro em sua direção e ele aponta com a cabeça para a tenda, onde, no momento, não há ninguém.

Entendo o recado de imediato e o sigo.

***

— Tio, o senhor vai me perdoar, mas não posso servir de babá para a Eloá. Tenho uma extensa lista de motivos, inclusive! Primeiro que ela não me suporta... — Começo a falar, mas sou interrompido imediatamente.

— Lucca, eu, de coração, não entendo o que aconteceu para que a amizade de vocês se tornasse ódio mútuo, até porque viviam colados. Só que ela não está bem, não vê? Minha filha não é assim! Aquela que está ali não é Eloá. Não quero que ela tome alguma atitude de que se arrependa amanhã ou depois. Caso decida continuar nessa energia mais ousada depois que o surto passar, tudo bem, terá meu apoio. Só que... — Ele respira fundo. — Pelo amor de Deus, ela está com os mamilos de fora.

"É, tio. Eu percebi muito bem", sinto vontade de dizer, mas o poupo de mais esse estresse. Bêbado? Sim, mas não o suficiente para ser um babaca.

— Vai ver ela só quis ousar um pouco, não sei. — Tento justificar o injustificável. Ele está certo. Ao que tudo indica, minha prima está surtando. — E Jonas é um bom rapaz. Jamais faria algo que ela não queira.

— Não consegue entender que essa é a questão, Lucca? Ela vai querer de tudo do jeito que está e eu conheço a minha filha, ela vai se arrepender disso logo em seguida. Se estivesse fazendo algo de cabeça leve, mas... — Questiona um pouco exaltado e respira fundo. — Se o ódio de vocês for tão grande que até mesmo apagou o significado da tatuagem que fizeram na costela juntos, faça isso por mim.

Ele pegou pesado agora. Levo a mão até a costela e lembro perfeitamente do dia em que fizemos essa tatuagem. O que não sou capaz de fazer por você, Lolô?

Nossa amizade era tão linda e éramos tão unidos. Vivemos tantos momentos inesquecíveis. Ódio eu tenho é de guardar com tanto carinho nossas vivências e aprendizados, mesmo que não mereça. Mas jamais odiarei Eloá, por mais que queira e tente com todas as minhas forças.

O carinho que guardo no peito por ela sempre será maior.

Jurei que a protegeria de situações ruins quando tentaram machucá-la uma vez, não seria diferente hoje. Sempre serei sua pessoa, independente de tudo.

— Está bem, tio Márcio. Farei isso pelo senhor. — Minto. — Mas terá que me pagar um ingresso para o show do Baco, porque esse não vou aproveitar um minuto.

Ele sorri satisfeito e assente.

— Feito, pode me cobrar.

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