53 - Pra sempre

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Meus tios já entraram no quarto de Eloá há aproximadamente trinta minutos

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Meus tios já entraram no quarto de Eloá há aproximadamente trinta minutos. Sei disso porque estou contabilizando o tempo. Pode parecer egoísta querer que os dois saiam logo, mas não é. É apenas a ansiedade de encarar os lindos olhos esverdeados de Eloá me observando novamente, afinal, minha pequena passou tanto tempo dormindo.

Por Deus, vi o coração da garota que amo parar de bater. Mais do que ninguém nesse hospital, preciso vê-la acordada, sorrindo, com o coração batendo em ritmo estável. Caso contrário, terei uma crise nervosa e quem precisará de atendimento médico serei eu.

Mamãe percebe a minha ansiedade através das inúmeras batidas dos meus pés no chão e toca meu joelho docilmente, chamando a minha atenção para si. Paro os movimentos e observo seus olhos, que estavam inchados de tanto chorar.

Todos nós choramos, tanto de medo pelo estado grave de Eloá, quanto de alegria, quando o doutor nos deu a notícia de que ela havia resistido, apesar da gravidade do seu caso. Ele nos deu uma prévia de que minha prima precisará ficar internada durante um tempo, mas que o útero dela foi preservado e a mesma poderá ter filhos no futuro.

— Você realmente a ama. É nítido nos seus olhos o sentimento. Isso é tão lindo, meu filho. — Ela acaricia minha pele e eu sorrio.

— Demorei tempo demais para entender meus próprios sentimentos. — Respiro fundo e dirijo a atenção para o chão, pensativo. — Quando era mais novo, procurava em outras garotas o que queria com ela. Evitava contatos mais íntimos e, principalmente, me aproximar sentimentalmente. Acho que por medo do que a família poderia achar.

Em resposta, minha mãe segura levemente meu rosto e o vira na sua direção. Ela sorri carinhosamente enquanto fita os meus olhos.

— Ah, meu querido... Apenas uma pessoa extremamente insensível não seria capaz de perceber a sintonia entre vocês. Era algo que a família já esperava. Ou melhor, quase toda. Os homens cujo sobrenome é "Oliveira" são muito lentos para entender certas coisas. — Minha mãe ri. — Todos, até mesmo Mário, ficaram surpresos. Mas isso não me impressionou nadinha.

— E por que a senhora nunca conversou sobre isso comigo? — Questiono com uma das sobrancelhas erguida. — Porque todos ficaram muito curiosos pelo nosso afastamento repentino, mas jamais procuraram saber além. Ninguém nunca me procurou para falar sobre a nossa relação. Acho que o mesmo com ela.

— Oh, meu querido. Se você não se sentia confortável para compartilhar algo tão íntimo comigo, por mais que seja sua mãe, jamais o forçaria a ter esse tipo de conversa. É fácil falar hoje em dia, mas adolescentes são esguios. Você não gostava de falar conosco sobre assuntos íntimos, então me restava agir por fora, te dando suporte quando necessitava. — Minha mãe respira fundo e acaricia minha bochecha, pensativa. — Nossa, lembro muito bem como ficou quando ela decidiu se afastar. Foi horrível, nunca te vi sofrer tanto... Passei noites em claro te consolando, sem saber o real motivo por trás, apesar de imaginar.

Desvio o olhar e observo a porta do quarto de Eloá. Nenhuma movimentação aparente. Respiro profundamente. Odeio falar sobre esse momento da minha vida, porque realmente foi muito doloroso, afinal, nem eu mesmo entendia que estava sofrendo por amor.

Foi a época em que mais escaralhei e acabei ganhando a fama daquele que mais "faz merda" da família. Eu bebia, fumava e transava desenfreadamente, procurando algum tipo de conforto. Entretanto, quando chegava em casa, antes de dormir, chorava até não aguentar mais. Foram meses nisso.

— Realmente... Demorei a me recuperar, entretanto, na época, ainda não entendia meus sentimentos, por mais que Eloá já provocasse borboletas no meu estômago. Quando ela me procurou recentemente, jurava que não passaria de algo carnal. — Dou um sorriso irônico e encaro a minha mãe. — Pois bastou um encontro para que meu coração errasse a batida. Eloá demorou mais tempo para se abrir sentimentalmente pra mim de novo, mas não tenho o que dizer sobre. Quando era mais nova, ao contrário do bonito aqui, ela entendia seus sentimentos, o que a fez sofrer muito pelas minhas atitudes. — Desabafo.

Ela sorri de volta e eu me sinto aliviado por estar falando sobre meus sentimentos abertamente. Lúcia tem nos sustentado em relação a isso nos últimos tempos, mas deve ter sido um grande fardo ter escondido esse grande segredo do restante de nossos familiares.

Se isso que minha mãe está falando é verdade, deve ter sido extremamente difícil ter omitido a verdade das tias e, principalmente, da Beatriz, tendo em vista que são gêmeas e vivem coladas. Mas ainda bem que toda essa fase de mentiras e omissões chegou ao fim.

— Então, meu filho... — Ela aponta para a porta, que começa a abrir. — Aproveite o agora. Não deixe para depois. Independente dos problemas que viveram nos últimos meses e dos erros que cometeram um com o outro, não deixe Eloá partir novamente. — Levanto ansioso ao perceber que meus tios estavam saindo. — Ei, querido. — Encaro a minha mãe e ela sorri. — Use bastante sabedoria nessa conversa de vocês. Lembre da dor que sentiu ao imaginar perdê-la para sempre.

Lanço um sorriso de lado para dona Carlota. Será que ela imagina que, após tudo isso que aconteceu, eu cogitaria largar a mão do amor da minha vida?

Ela quase morreu gerando em seu ventre o fruto do nosso amor, jamais a deixaria, independente de tudo. Sei que precisamos conversar depois que ela melhorar e tenho toda a certeza do mundo que ela vai ficar extremamente puta quando ficar sabendo sobre Clara. Mas é um problema que precisarei enfrentar para que possamos começar do zero.

Só que isso é tão pequeno diante de tanta merda que passamos, que acredito firmemente que ela me perdoará.

Por fim, lhe dirijo um sorriso sereno.

— Jamais deixaria a mulher da minha vida escapar novamente. Tenha certeza disso. Cometi esse erro uma vez e foi péssimo. No que depender de mim, daqui pra frente, é pra sempre. — Falo e ando na direção do quarto.

Cumprimento meus tios e, em seguida, adentro o cômodo frio. Sinto meu coração acelerar como nunca. Mal posso esperar para ouvir a voz de Eloá novamente.

Muita coisa aconteceu em pouquíssimos dias, mal tive tempo para digerir, quem dirá ela. Contudo, agora estou aqui, disposto a ajudar no que for possível. Diferente daquele merdinha do Jonas, agora Eloá tem um homem de verdade ao seu lado.

Assim que entro, vejo a garota deitada na cama, enrolada nas cobertas, com um fraco sorriso no rosto. Assim como os meus, seus olhos brilham ao me encontrar.

— Você chegou... — Fala alegre se dirigindo a mim.

Eu sorrio de volta, caminhando até ela.

— Lolô, querida, eu sempre estive aqui.

Segundas Intenções ✔️Where stories live. Discover now