18 - Hoje, no meu apartamento

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Minha prima chorando me desarmou por completo, especialmente quando ela revelou o que a incomodava: ser ela mesma

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Minha prima chorando me desarmou por completo, especialmente quando ela revelou o que a incomodava: ser ela mesma. Como se isso fosse um problema. Eloá não sabe, principalmente por conta dos anos que estivemos afastados, mas é uma das melhores pessoas que já conheci.

Fiquei tão desnorteado que, antes que percebesse, já havia aceitado ajudá-la com aulas de sedução. Droga, no que estava pensando? Qual a probabilidade de isso dar certo? Daí, nem fiquei no bar. Saí dali diretamente para um bordel e esqueci da vida.

Caralho, se Jonas descobrir, com certeza vai me matar! E com razão! Digo isso porque, se fosse o contrário, com certeza eu faria isso.

Apenas perdi a compostura no momento em que ela saiu do banheiro. Quis gritar pelo erro, contudo, como não pude, soquei a parede logo depois que a porta se fechou, imediatamente arrependido do sim que lhe dei. E agora, não tenho mais como voltar atrás.

Foram dois dias de pânico e autorreflexão até começar a agir em relação às "aulas". Fiquei irritado comigo mesmo por ter cedido, mas como já o fiz, tenho que entrar no jogo. Agora, como um bom professor que escolhi ser, estou no shopping, em uma loja de lingeries, escolhendo as mais sexy para ela. Isso mesmo, comprando peças íntimas para a minha prima, porque nossa família é extremamente convencional.

Já havia escolhido várias, mas ainda não estava satisfeito, pois queria encher o armário de Eloá.

O problema é que ficar muito tempo nesta loja me deixa um pouco acanhado, porque a região onde moro só tem um shopping decente. Ou seja, o local é frequentado por todos que conheço, inclusive meus familiares. E, droga, odiaria ser flagrado por algum parente enquanto compro calcinhas.

Mas a vida parece adorar me sacanear, já percebi isso. O destino sempre se encarrega de me colocar nas piores e mais constrangedoras situações possíveis. Já deveria estar acostumado, mas não consigo me adaptar a esta confusão da vida.

Eis que enquanto estou na dúvida entre uma lingerie de renda branca ou vermelha, sou interceptado por ninguém mais, ninguém menos que minha avó e tia Maria.

— Eu gostei mais da branca, mas acho que não sustentaria meus peitos muito bem. Com a idade a gente começa a precisar de algo mais resistente, se é que me entende. — Dona Conceição fala com as mãos nos seios e eu dou um pulo por conta do susto.

— A senhora não deveria abordar as pessoas assim. — Coloco rapidamente as peças nos cabides. — E se eu fosse cardíaco? Teria ido com Deus muito facilmente. — Repreendo, ainda nervoso.

— Não sei qual o motivo de tanto drama, está fazendo alguma bobagem por acaso? — Tia Maria pega as peças que eu estava olhando e sorri enquanto as admira. — São lingeries bonitas, a mulher que irá ganhá-las é muito sortuda. — Declara sorridente e as coloca novamente em minhas mãos.

Respiro fundo e seguro a vontade de rir. É óbvio que estou fazendo besteira, senão não seria eu. E com certeza minha tia não falaria essas coisas com um sorriso tão grande no rosto se soubesse que a sortuda é, na verdade, minha prima. Para ser sincero, acho que tia Maria entraria em colapso.

— Por favor, gente. — Devolvo novamente as peças para os cabides. — Estava no meio de uma situação extremamente pessoal aqui. Não me sinto confortável em fazer isso na presença das duas. Será que poderiam me dar licença? — Tento me afastar do carrinho que já estava repleto de outras lingeries. Por sorte, as duas não percebem.

— Se for coisa de fetiche sexual, o tamanho tem que ser maior, meu filho. Aquela calcinha não tampa pau nenhum, por menor que seja. — Minha avó fala mais alto que o necessário, chamando a atenção das pessoas ao redor. Uma mulher, inclusive, não consegue segurar a risada. — Tem que ir na seção XG.

Eu e tia Maria arregalamos os olhos, extremamente envergonhados.

— Vó, pelo amor de Deus. — Falo entre dentes. — Isso não é o tipo de coisa que se fala em público, principalmente alto.

— Ué, meu filho, qual o problema? Seu avô usava minhas calcinhas, às vezes. — Sorri, como se estivesse lembrando da cena. — A gente se divertia horrores. E como você não arruma namorada, pensei que poderia ser para isso. — Dá de ombros.

— Mamãe, acho melhor irmos embora. — Tia Maria fala em meio a uma risada. Neste momento, nem eu, no ápice da minha vergonha, aguentei me segurar diante da revelação. — Independente do destino das lingeries, o problema não é nosso.

— Ah, mas eu adoraria que ele arrumasse uma namorada, Maria. — Minha avó responde. — Até Eloá, quietinha daquele jeito, arrumou o Judas. — Fala orgulhosa e eu solto uma gargalhada.

— Judas, vó? É Jonas. — Dou outra gargalhada e tia Maria me acompanha. — Hoje a senhora está cheia de pérolas.

Ela revira os olhos, agarra o braço da tia Maria e responde.

— É, meu filho, Judas ou Jonas, que se dane, pelo menos ela está namorando, e você? — Dá uma risadinha diabólica e eu fecho a cara na hora. — Agora vamos, o menino precisa de espaço para continuar com a baixaria, independente de qual seja.

— Como tem tanta certeza de que se trata de "baixaria", vó? — Pergunto antes que as duas vão embora.

— Vindo de você, meu filho? Ou é putaria ou é algo que vá te levar para a delegacia. Como avó, espero que seja a primeira opção. Não estou disposta para perder o resto do dia aguardando para saber se você será liberado ou, de fato, preso. Agora, meu filho, preciso ir. Estou com fome.

Não respondo à última afirmação, porque acabou mexendo comigo, por mais que esse não fosse o objetivo.

Sei que posso ser inconsequente na maioria das vezes, mas não me resumo a isto. É péssimo saber que as pessoas que amo têm esta imagem sobre mim, mas não posso fazer muita coisa sobre isso. Eu que não vou mudar meu modo de viver para agradá-los ou fazê-los enxergarem quem verdadeiramente sou.

A essência que vale e é sobre isso.

Por fim, nos despedimos e elas saem. Em seguida, pego o celular e envio uma mensagem para Eloá.

Lucca: Hoje, no meu apartamento, às 22h.

Eloá: Ok. Devo levar algo?

Lucca: Não precisa, o que mais tenho em casa é vinho. Apenas vá com uma roupa sexy. Tenho muito a te ensinar hoje.

Eloá: Ansiosa. Te vejo logo mais.

Guardo o celular, pego as duas lingeries que estava na dúvida, coloco no carrinho de compras com todas as outras e concluo a compra. Espero que tudo dê certo. Por mais que não queira admitir, estou ansioso.

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