17 - Eu vou te ajudar

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— Amiga, é sua vez

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— Amiga, é sua vez. — Clara fala e eu nego com a cabeça compulsivamente. — Para de bobeira, você canta tão bem!

— Eu tenho vergonha, você sabe! — Respondo em um cochicho enquanto nossas amigas me encaram. — Não vou subir naquele palco, nem que me paguem. Só o fato de estar aqui já é uma grande vitória, se contentem com isso. — Afirmo e dou uma golada demorada no drink alcoólico que pedi.

— Por favor, Lô... — Clara implora e eu sorrio constrangida. — Sua voz é tão linda! Estou com saudade de te ouvir cantar.

Respiro fundo e finalmente assinto. Isso porque estou bêbada o suficiente para concordar com uma ideia dessa. Minha melhor amiga sabe como sou envergonhada, mas, mesmo assim, insiste em me colocar nessas furadas.

A sorte é que o bar não está cheio, sendo a maioria do público minhas amigas. Até chamei Jonas para vir, mas ele está atrasado, como sempre. Geralmente me estresso com a falta de compromisso dele com horários, entretanto, hoje estou agradecendo a todas as entidades existentes no mundo.

Depois de terminar o drink, levanto-me e sigo em direção ao palco. Antes, paro e informo ao garçom que irei cantar a música "Melhor Sozinha", da Luísa Sonza. Ele assente e sorri receptivamente, me deixando ainda mais envergonhada.

O ritmo da música toma conta do ambiente e eu fecho os olhos, ignorando a presença de todos à minha frente.

Eu gosto tanto de você
Mas isso tudo me dá
Frio na barriga demais
Longe de casa e dos meus
Só tem você minha paz
Mas eu não sei confiar

Em ninguém, até sei que você me quer bem
Sei que tu quer me ganhar, meu bem
Sei que eu também não sou de ninguém
Tu só me ganha no olhar, no jeito de amar
Tu ainda canta bem
Sei que sempre que eu chamar, cê vem
Sei que sempre que еu pedir, tu tem

Abro os olhos e percebo que Jonas está na entrada do bar karaokê, ao lado do meu primo. Não fazia ideia de que o mesmo havia sido convidado, ou seja, eles devem ter combinado durante o churrasco mais cedo.

Na verdade, pela feição de Lucca, acredito que não tenha sido um convite propriamente dito, e sim uma intimação. Ao que tudo indica, o fora que levarei de Jonas está mais próximo do que nunca.

Respiro fundo e prossigo com a música.

Pra me dar amor logo toda manhã
Baby, mе guarda, que eu volto amanhã
Você me guarda, que eu também te guardo
E me beija com a boca de hortelã
Escreve mais um som, que tu é tão bom
Toda vez é pra mim, quero mais um
E eu não sou qualquer uma
Tu não é qualquer um

Eu sou bem melhor sozinha, sabe
Mas talvez tem um cantinho e cabe
Um pouco, quase nada
Eu não sou de fazer sala
Então pensa, então tenta

(...)

Todos me aplaudem depois que termino, então desço rapidamente do palco, com o objetivo de não receber tanta atenção, e corro em direção ao banheiro, pois sinto uma vontade horrível de chorar. Ao menos paro para cumprimentar Jonas, que ficou me encarando confuso.

Que merda, eu realmente estou gostando dele. Não queria, mas gosto. Esse afastamento está me fazendo mal, já não sei o que fazer, pois todas as minhas atitudes parecem desagradá-lo.

Sinto o choro entalado na garganta começar a sair assim que fecho a porta do banheiro. Deve ser o álcool me permitindo admitir sentimentos que não imaginava que sentiria novamente por alguém.

Apoio as mãos na pia do banheiro, tentando me acalmar, e ouço a porta se abrir.

— Desculpe, está ocupado. — Afirmo sem olhar e ouço a porta fechar novamente.

— Eu sei, segui seus passos até aqui, imaginei que poderia não estar bem, ou algo do tipo. Não que seja problema meu, mas ainda te conheço melhor que a mim mesmo, por mais que odeie isso. — Lucca fala e anda até o meu lado.

— Veio rir da minha cara? Pergunto porque tenho certeza que Jonas contou o fiasco que foram esses dois meses ao meu lado. — Fungo e limpo os olhos. Lucca suspira e me encara.

— Jonas me contou que você é maravilhosa. Só é diferente do que ele está acostumado. Sinceramente, não vejo problemas nisso, nem todas as mulheres são iguais, cada uma tem suas peculiaridades. — Pontua. Essa deve ser a primeira conversa decente que temos em anos.

— Estou saturada, Lucca. Saturada de nunca ser correspondida ou das coisas não darem certo na minha vida amorosa. Eu gosto dele. Não imaginava que sentiria isso por alguém de novo depois de você, porque na época era como se meu coração tivesse sido arrancado do peito. Doeu demais. Não quero perdê-lo, só que ao menos sei como começar a conquistá-lo. — Explico e começo a chorar novamente.

Lucca vira meu rosto em sua direção e limpa as lágrimas que estavam escorrendo.

— Antes de qualquer coisa, Eloá, coloque na sua cabeça que ele gosta de você. E, já que é tão importante mudar sua forma de levar as coisas por conta de uma outra pessoa, por mais que eu discorde totalmente disso, concordo em te ajudar. — O encaro e arregalo os olhos, incrédula com o que acabei de ouvir.

— Mentira? Está falando sério? — Pergunto e ele assente com a cabeça.

— Mas precisa saber que sou totalmente contra o fato de você mudar seu jeito para que alguém permaneça contigo. Não há nada de errado em ser como é, muito pelo contrário. Entretanto, te conheço o suficiente para saber que vai se martirizar até a morte se não tentar todas as alternativas possíveis antes de desistir, então está bem, eu vou te ajudar.

Dou um sorriso largo e, pela primeira vez em sete anos, o abraço espontaneamente.

— Quando começamos? — Pergunto ansiosa.

— Vai saber quando eu mandar mensagem. Agora, por favor, vá falar com Jonas. Ele ficou preocupado com sua saída repentina, assim como suas amigas. — Lucca responde e eu concordo.

Estava prestes a sair quando ele segurou meu braço e me encarou no fundo dos olhos.

— Não vai agradecer? — Pergunta com aquele sorrisinho sacana de sempre.

— É o mínimo que você poderia fazer por mim depois de tanto sofrimento, Lucca. Não fique se achando e veja se não estraga tudo dessa vez. — Ordeno e saio do banheiro, um pouco mais segura sobre o futuro do meu relacionamento do que antes.

***

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