56 - O último romântico

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- Beleza, sei que o senhor tem uma vasta experiência com helicópteros... - Falo através do rádio de comunicação com meu pai, que está pilotando. - Mas eu estou me cagando de medo. Não corro risco de morrer, né?

Mesmo totalmente equipado com os aparelhos de segurança e na companhia de Mário e do tio Marcos, que fizeram questão de me ajudar a despejar as pétalas de rosa e dar play na música quando Eloá aparecer, a ventania que adentra a aeronave parece que vai me levar embora a cada instante.

Meu pai tem licença para pilotar helicóptero e sempre me convidou para dar uma volta. Costumava recusar por conta do meu medo de altura, entretanto, esta é uma ocasião especial. Nunca me esforcei tanto por ninguém. Espero que Eloá goste.

Pensei em cada detalhe desse pedido de casamento, do qual Eloá jamais esquecerá. Mesmo que decida pelo divórcio no futuro, o que sinceramente espero que não, garanto que jamais encontrará alguém tão criativo e disposto quanto eu.

Está certo que me inspirei em uma novela, mas isso é um mero detalhe.

- Se é tão medroso, por que inventou de pedi-la em casamento de um helicóptero? Poderia ter feito como uma pessoa normal, em terra firme! - Mário fala alto para que eu possa ouvir. O vento atrapalha nossa comunicação, mas não a torna impossível.

- Porque sou o último romântico do mundo, priminho! - Zombo. - E ter medo significa que estou vivo. Desculpa se você é careta, eu gosto de viver todos os dias como se fossem o último, principalmente depois que pensei que perderia a mulher da minha vida.

- Ainda não me acostumei com você falando assim sobre a minha filha. - Tio Márcio se pronuncia enquanto entrega uma sacola repleta de pétalas para o filho. - Mas já consegui compreender que o amor de vocês não me diz respeito. E como te amo como filho, sei que aos poucos isso vai se tornar comum. - Fala reflexivamente.

Tinha combinado com Eloá de conversar sobre o avanço nada sucinto do nosso relacionamento com a família em conjunto. Entretanto, decidi abraçar o rojão sozinho, até porque, na minha cabeça, isso teria que ser abordado de maneira cautelosa com nossos pais. Principalmente com o tio Márcio, que foi o mais "confuso" com a situação.

Ele não nos perdoaria se chegássemos na frente de todos falando que nos casaríamos e dane-se. Tenho certeza que surtaria, afinal, nem cogitamos passar pela fase do namoro.

Mas até que ele aceitou... bem. Razoavelmente. Foi um dia estranho, o que tivemos a conversa. Sentamos eu, meus pais, tio Márcio e tia Dorotéia. O encontro foi no meu apartamento, enquanto Eloá ainda estava internada. Fiz questão de retirar todas as facas do alcance. Nunca se sabe a reação de um pai revoltado.

***

Há alguns dias

- Por Deus, você só pode estar de sacanagem. - Tio Márcio falou enquanto acendia um charuto. - Casamento, Lucca? É sério isso? - Questionou e deu um trago.

- Querido, eles se amam! - Tia Dorotéia me defendeu e eu finalmente consegui voltar a respirar após contar sobre o pedido de casamento.

- Dorotéia, eles ficaram anos sem se falar. - Meu tio rebateu e eu cruzei os braços, prestando atenção em cada fala dele. - Antes da merda toda estourar, Lucca passou MESES sendo AMANTE da Eloá. - Ele deu um trago demorado, tentando se acalmar. - Aí do nada, absolutamente do nada, os dois decidem se casar. Isso é impulsivo, igual a tudo que esse garoto faz. - Apontou na minha direção, me fazendo o encarar com tédio.

Até me ergo para rebater sua fala, mas sou surpreendido ao ser defendido pelo meu pai, última pessoa que jamais imaginei apoiar o relacionamento.

- Impulsivo, Márcio? Você tem dúvidas em relação aos sentimentos desse garoto pela sua filha? Hoje é literalmente o dia em que Lucca mais esteve distante daquele hospital. Carlota me explicou a situação dos dois e, sinceramente, meu filho errou sim, mas não errou sozinho. E essa relação dos dois não é de agora, não foi algo que simplesmente surgiu do nada. - Refletiu e me encarou compreensivelmente. Eu assenti com a cabeça, como forma de agradecimento. - Eles só não estão juntos há anos porque foram infantis. Meu filho porque não podia ver uma mulher bonita e a sua filha porque não sabia conversar. E não chame Lucca de garoto, Márcio, porque desde o dia em que nosso neto partiu, ele tem sido um verdadeiro homem.

Minha mãe deu um sorriso e segurou na mão do meu pai, indicando que concordava com tudo que havia sido dito ali. Em contrapartida, tio Márcio engoliu em seco, completamente sem resposta.

- Ele está certo, querido. - Disse tia Dorotéia. - Lucca tem dado muito suporte à nossa filha. É injusto falar assim. Eles podem estar pulando etapas, contudo, é algo que os dois precisam vivenciar para entender. Só que não podemos intervir. É injusto e soberbo querer controlar os sentimentos alheios. - Ela acariciou a perna do marido, que tragou o charuto e bufou, derrotado.

- Ela quase partiu, Lucca. Eloá merece o melhor que a vida pode oferecer. - Tio Márcio direcionou a atenção para mim. - Apenas não magoe-a novamente, como fez durante a adolescência.

Respirei aliviado, pois estava com muito medo das coisas não se resolverem. O caminho é longo até que nosso relacionamento seja totalmente aceito, mas sei que posso falar por nós dois ao afirmar que estamos dispostos a enfrentar tudo isso.

Em circunstâncias normais, iríamos com calma. Mas, como o tio Márcio disse, Eloá quase partiu para o outro lado. Por que esperar?

- Pode confiar em mim, tio. Eloá está ao lado de um homem que seria capaz de atravessar o universo a pé, só para fazê-la feliz.

***

- Um dia acostuma, tio Márcio! - Falo enquanto observo minha família e os moradores do prédio se movimentando na área de lazer. Isso significa que Eloá estava chegando com a vó. - Serei o pai dos seus netos, queira ou não. - Debocho com uma risadinha.

Por mais que não esteja o encarando neste momento, sei que revirou os olhos.

- Você é abusado, Lucca. Tomara que meus netos puxem a mãe. - Ele rebate.

- O gênio é o mesmo, tio, o senhor sabe que sim. - Respondo, e Mário ri.

- Ele está certo, pai. - Meu primo afirma em meio a risadas. - Na verdade, o gênio da minha irmã consegue ser pior, nem adianta dizer que não.

Antes que meu tio falasse mais alguma coisa, meu pai se pronuncia através do radinho, dizendo que Eloá havia chegado e estava conversando com as gêmeas. Era o meu momento de pegar o megafone enquanto os meus dois comparsas se preparavam para despejar as pétalas e ligar o som.

- Mário, pode apertar o play. A música está pausada, é "Samba In Paris", do Baco. - Ele faz um sinal positivo com o polegar e prossegue com a ação solicitada. Logo, ouço as caixas de som da área de lazer tocando a melodia que pedi. Espero alguns segundos e, após meu coração palpitar de nervosismo, começo com minha declaração.

- Ei, Lolô! - Chamo minha prima através do autofalante.

Por mais que o helicóptero estivesse em uma altura abaixo do comum, a cena ao seu redor - a área estava repleta de pétalas de flores - era tão inusitada que Eloá nem tinha percebido, mesmo com o barulho.

Ela, que agora estava rodeada pelas mulheres da família, só olhou para cima, totalmente chocada, quando ouviu minha voz. Oa moradores do prédio estavam em êxtase. Eloá com certeza imaginava que eu fosse aparecer em algum momento, mas jamais de um helicóptero. Ponto para mim.

- Te falei que faria um pedido surpreendente e inesquecível. - Dou um sorriso largo. - Mas duvido que você tenha imaginado algo desse nível.

***
Nota da autora


Fiquem atentos. Teremos bastante emoção nesses últimos capítulos.
Nada como uma emoção extra, ? Afinal, Jonas está solto. Fica o spoiler.

Segundas Intenções ✔️Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang