Se eu Ficar? Vol.1 (Concluído)

Capítulo °3

— Cara... Você desenha muito bem! — Sussurrou Levi, pois a sala estava em silêncio fazendo a tarefa.

— Valeu... — Sussurrei de volta, eu estava copiando o desenho de "A noite estrelada" de Van Gogh, fiz em preto e branco por que foi a única cor que eu senti prazer em pintar, é claro que a cor azul é o charme do desenho, mas ainda sim, fui com apenas o lápis preto e sombra.

— Foi mal não te ajudar, eu sinceramente sou péssimo em desenhos. — Contestou ele rodando o lápis entre os dedos.

— Fica tranquilo, você é a minha dupla, então seu nome vai estar aqui. — Disse eu, ele abriu um sorriso enquanto terminava de copiar o texto. O sinal tocou pelo os corredores dando início ao intervalo, a professora se levantou no momento em que estávamos arrumando as nossas coisas.

— Turma? Vocês terão o fim de semana para me trazerem a biografia do artista que escolheram, quero na minha mesa na segunda feira de manhã, as mesmas duplas, caprichem! — Anunciou ela, me levantei e caminhei até a mesa dela, Levi estava ao meu lado, entrego o desenho para ela enquanto Levi, o texto.

— Minha nossa! Meus parabéns meninos, o preto e branco deixou um contraste suave e elegante, muito bom! — Ela sorriu, vejo alguns alunos retrucar.

— Na verdade, professora, Kevin quem fez o desenho.

— Kevin vai te ensinar tudo o que for preciso nessa aula, ele é um bom aluno. — Ela me lançou um sorriso, logo saímos da sala nos despedindo da professora. Levi foi comigo até o armário para guardar a mochila, e por mera coincidência, o armário dele era ao lado do meu.

— Pelo menos o armário ao lado é de alguém que eu conheço. — Comentou ele, abrindo o seu armário e colocando o seu material, fiz o mesmo.

— Isso me deixa mais seguro, sinceramente. — Sorri. — Bom, vamos lá, vou te apresentar o hospício. — Ele sorriu.

— Vamos nessa. — Disse ele. Caminhamos pelo os corredores que por sinal, estava vazio, metade dos alunos estavam no refeitório, Levi disse não estar com fome, muito menos eu,. portanto seguimos em frente, mostrei ao Levi onde ficavam os banheiros, o ginásio, a biblioteca e, o laboratório de pesquisas. Por fim, mostrei a ele o meu local "secreto"

— Bom, aqui é onde eu gosto de ficar, longe de toda a muvuca. — Ele olhou em volta, não tinha alunos por perto o que me dava felicidades.

— Eu gostei desse lugar. — Falou ele. — Não tem ninguém para encher o saco.

— E é por esse motivo que eu fico aqui. — Sentei me no chão encostando na parede, o local era fechado por árvores em volta, aluno algum ia para aquele lado, e dava para matar aula fácil, pois as câmeras de segurança não foram instaladas nesse lado. Levi se sentou ao meu lado, suspirando fundo, o clima mudou completamente e o sol apareceu deixando tudo abafado, até por que moramos em Surfside, aqui é uma cidade unida que abrange apenas uma milha quadrada, aninhada entre Miami Beach e Bal Harbour. Ou seja, tem praias aqui perto, e muitas vezes gosto de sair do colégio e vou caminhar na praia.

— Você tem muitos amigos por aqui? — Pergunto Levi, me tirando dos pensamentos, meu coração gelou pela pergunta.

— Não, eu não tenho amigos aqui. — Passei a língua nos lábios rapidamente. — Bom, eu sou bem na minha, e sozinho, acho que você já deve ter percebido isso.

— É... Eu percebi, por esse motivo gostei de você. — Ele me conheceu hoje! E disse que gostou de mim?

— Desculpa a pergunta, mas, gostou de mim? — Sorri de forma envergonhada, senti o meu rosto corar. — O que você viu em mim, pra ser sincero?

— Você é... Doara, legal, gentil, foi o único naquela sala que não me olhou de cima a baixo em forma de julgamento, eu vi uns cara me olhando como se eu fosse uma puta. Eu sinceramente me senti bem ao seu lado, portanto, eu gostei de você. — Ele me olhou no fundo dos olhos, isso me deixou completamente envergonhado e "com medo" pois nem os meus pais já me disseram algo assim.
Acho que a minha ração foi espontâneo demais o que fez ele perceber.

— Cara? Você está bem? Você ficou vermelho, ou é o calor? — Eu não sabia onde enfiar a cara, pois a vergonha mais a timidez me consumiu.

— Foi mal, é que eu não costumo escutar essas coisas de ninguém. Então eu fico com um pouco envergonhado.  — Ele sorriu em seguida.

— Eu também não costumo elogiar as pessoas, só quando eu gosto delas.

— E você, tem muitos amigos? — Perguntei olhando para ele.

— Não, eu apenas conheço pessoas, mas não tenho amigos, o que nos dias atuais está difícil de se encontrar, e além do mais, evita decepção.

— Eu tenho que concordar com você. Por isso eu sou apenas eu, e eu. — Olhei para o céu, suspirando o ar abafado.

— Acho que temos muito em comum. — Comentou Levi, quebrando o silêncio que ali ficou. — Eu vou ser o seu amigo, é claro que, se você quiser.

E mais uma vez, ele conseguiu me deixar completamente sem graça e, sem ter o que dizer, se tivesse um espelho na minha frente agora, com certeza eu veria o quão vermelho eu fiquei.

— Você tem o dom de deixar os outros com vergonha? — Brinquei enquanto abri um sorriso.

— Faz parte de ser eu. — Ele complementou enquanto mostrou o sorriso, seus dentes eram alinhados.

— Uau! — Permaneci sorrindo, até que ele perguntou mais uma vez.

— Iae, amigos? — Ele estendeu a mão, refleti por alguns segundos, isso está mesmo acontecendo? Eu estou prestes a fazer um amigo de verdade? Mas em meio a isso tudo, eu estava com medo de lá no futuro, eu acabar quebrando a cara, entretanto, tudo é experiência, boas ou ruins, arriscar e viver sempre é a opção.

— Amigos! — Levantei um sorriso de canto apertando a sua mão. E ficamos ali, sentandos e conversado sobre um pouco da vida dele antes de sair do último colégio, foi uma conversa tão boa que não vimos a hora passar, e logo já teríamos que retornar para a próxima aula.