Capítulo °33

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Depois daquela longa e intensa conversa, Levi e eu decidimos caminhar na praia, à tarde não estava tão quente e isso foi bom, eu precisava caminhar um pouco e sentir um pouco de ar no rosto, e não tinha nada melhor do que fazer isso na praia, a minha avó morava um pouco distante dela, era uma caminhada tranquila que nós levava a um outro lado da praia onde tinha algumas pedras que as pessoas costumam estar para tirar fotos ou ver o por do sol, e por incrível que pareça, hoje estava vazio, Levi e eu ficamos lá, sentados mantendo um silêncio tão absurdo que estava me deixando agoniado, uma brisa fresca passou pelo o meu rosto ao passo que eu soltava um longo suspiro:

— Como você está? — Ele perguntou olhando para mim, o seu cabelo mexia conforme o vento passava por eles.

— Não sei dizer, aconteceu muita coisa em tão pouco tempo que está difícil de processar.

— Eu sei, eu realmente sinto muito — Falou ele olhando para o mar.

— A vida toda eu fui tratado como um lixo por eles, principalmente por aquele homem cujo eu chamei de pai. E eu sempre me perguntava o que eu havia feito para eles por me odiarem tanto.

— A culpa não é sua, Kev, agora que você sabe toda a história, não tem que achar que a culpa é sua.

— Mas dói... Dói saber o que a minha fez, dói só de lembrar tudo que passei naquela casa, e agora, eu não posso voltar.

— O que você fará a respeito disso? — Perguntou ele, estava ao meu lado e parecia muito preocupado.

— Eu não sei, acho que o plano de morar sozinho agora é mais real do que antes, vou correr esse risco e tentar me estabilizar em algum lugar rápido.

— Compreendo, eu suponho que o seu coração deva estar em mil pedaços agora, não?

— Eu não sei dizer, acho que para ele se despedaçar, eu tenho que sofrer algo que realmente sei que irá me machucar — Disse eu, e era verdade, com o tempo eu aprendi a controlar tudo o que me afeta, apesar de ser uma tarefa muito difícil, toda essa história me comoveu e está doendo, não posso negar, afinal, eu sofro de ansiedade e possivelmente depressão, por que muitas das vezes sinto um vazio tão grande que não consigo expressar, ao passo que sinto tristeza e vontade de sumir, e por muitas vezes, eu sentia a necessidade de me machucar para não pensar tanto.

— Eu estou pensando na possibilidade de ver o meu pai — Comentei, Levi me olhou.

— Tem certeza disso?

— Tenho, eu preciso vê-lo, saber como ele é, ele precisa saber que o filho dele quer conhecê-lo — Sinto o meu coração apertar, mas era algo que eu desejava no momento.

— Se é o que o seu coração deseja, vá! Você tem o meu apoio, e repito! Se preferir, pode passar um tempo lá em casa. — Ele me olhou, eu apenas assentei com a cabeça e abri um sorriso um pouco triste, ele percebeu isso com certeza.

— Escuta, independente de tudo o que houve, tem pessoas que se importam com você, e te amam de verdade.

— Amam? — Questionei — Olhe para mim, quem iria amar um moleque cheio de traumas, inseguranças e problemas mentais? — Perguntei, ele me olhou por um tempo com os olhos semicerrados e abriu um sorriso de canto.

— Eu! — Afirmou, a sua covinha apareceu, meu coração apertou e senti aquela frio na barriga de novo, por favor, não chore! Eu estava tentando, mas nesse momento estava difícil, receber um apoio como esse depois de uma manhã cheia, é realmente gratificante, e comovente, sinto o meu rosto corar, e mesmo que eu estivesse tentando, sinto os meus olhos lacrimejar.

— Ei? — Levi me chamou — Vem cá — Ele colocou o seu braço em volta do meu pescoço e encostou a sua cabeça na minha, eu não queria desmoronar, não ali, não agora, mas aquilo estava bom, era bom sentir aquele apoio.

— É bem legal isso que você está fazendo comigo — Disse eu para ele, viro o meu rosto de forma calma, ele me olhou.

— Você é o meu melhor amigo, eu quero ver você bem — Ele tocou o meu rosto e me deu um beijo na bochecha, aquilo me fez corar novamente, senti um embrulho  no estômago, mas foi muito confortante, apenas sorri para ele e permaneci ali.

No domingo de manhã, apesar de ser um fim de semana, fui até a minha antiga casa apenas para ter a certeza de que não havia ninguém, e realmente não havia, eles devem ter saído, fui apenas para pegar algumas anotações importantes que havia feito, e o essencial, o meu quarto estava do mesmo jeito, todo bagunçado e com tudo espalhado no chão, pego uma mochila e coloco algumas roupas, produtos de higiene e voltei para casa da minha vó, tentei entrar em contato com um rapaz cujo o número de telefone anunciava uma casa não muito longe daqui, e era uma casa bela com o aluguel acessível, não coloquei expectativas de ele me entender, afinal, era domingo, mas felizmente ele me atendeu, conversamos um pouco sobre a casa e tive a sorte de ele agendar uma visita amanhã mesmo depois do colégio.

Já começou bem, muito bem até! Contei a minha avó sobre o plano de morar sozinho, ela ficou feliz por saber que quero seguir a minha independência, claro que, para alugar uma casa aqui você tem que ser maior de idade, bom, completo 18 anos na semana que vem, então isso já é um avanço. Teria que planejar a mudança caso isso fosse dar certo, e eu espero que dê certo, pois pretendo realizar a mudança no dia em que a minha mãe, Jack e Francis, não estejam em casa, de preferência, em um fim de semana.
Eu já estava ansioso, isso era um problema, pois eu tenho o péssimo hábito de colocar muita expectativas nas coisas e no fim, quebrar a cara por não darem certo.

Se eu Ficar? Vol.1 (Concluído)Where stories live. Discover now