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•DANIEL•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Meu coração não havia parado de pular feito uma puga desde que acordei nessa manhã, e tinha certeza que meu marido passava pelo mesmo que eu. Tinham tantas coisas passando por minha cabeça nesse momento que era difícil focar em um único pensamento.

Nicoly decidiu voltar para nossas vidas arrastando um furacão junto consigo e apesar do rancor que sentia pela loira, não podíamos deixar de apoia-la mesmo que seja contra nossa vontade.  Ela deve ter passado por um momento difícil nessa gravidez, algo provavelmente a afetou e se essa criança for de um de nós... Bom, seria difícil, mas ainda assim era apenas uma criança que tinha necessidades paternas como qualquer outra.

A mulher marcou um encontro em sua casa, queria fazer com que nós dois conhecesse o garoto e de início fomos contra, não queríamos criar algum tipo de vínculo com o tal menino sem antes ter certeza de tudo, mas fomos convencidos e aqui estávamos agora.

Isadora havia acordado ao nosso lado nessa manhã, agora era um costume nosso e seu cheiro já estava até mesmo impregnado em nossas roupas de cama. Ela já ocupava grande parte de nossa casa, nosso quarto e nosso coração, algo que eu ainda me sentia preocupado por sentir, mas tentava não pensar tanto.

Falando em pensar, também evitava lembrar do fato dela não saber o que estava acontecendo em relação ao menino, isso me fazia sentir culpa, mas tudo que eu queria no momento era fazer dá certo essa relação entre nós três, mas para isso seria necessário termos certezas de tudo.

Olhei para a porta e notei que já estávamos parados a algum tempo. Nenhum de nós dois teve coragem para se aproximar da campainha ou mostrar que já havíamos chegado. Parte de mim queria apenas voltar para o carro e ficar com nossa mulher e nossos filhos.

— Vai Daniel, bate na porta — Meu marido quebrou o silêncio mas estava tão paralisado quanto eu.

— Não consigo, vai você — Ele me olhou indignado.

— Não acha melhor remarcar isso? Sinto que vou vomitar — O ruivo parecia mesmo não está passando bem.

— De jeito nenhum, quanto mais cedo começamos com isso, mais cedo vamos terminar — Eu falava como se não tivesse um embrulho no meu estômago.

— Então eu bato — O homem se aproximou e apertou a campainha de uma só vez, segurei a respiração a todo segundo.

Sinceramente ainda queria acreditar que isso era um sonho, como eu queria.

Escutamos passos se aproximando, em instantes a porta foi aberta e fomos recebidos pela mulher que vestia roupas despojadas para nos receber. O rosto de Nicoly se iluminou ao nos vê.

— Meninos, pensei que tivesse acontecido alguma coisa, o porteiro disse que vocês haviam chegado mas demoraram tanto — Estávamos parados, refletindo as besteiras da vida.

— Desculpa — Foi a única coisa que eu disse, não queria muito papo com essa mulher.

— Podem entrar, ele está na sala brincando — Apenas a menção de sua existência me deixava meio tonto.

Entramos no apartamento e já senti meu coração pulsar de forma estranha. Jamais conseguiria passar por isso sem Gabriel ao meu lado, ele é meu conforto para tudo.

A mulher nos guiou pelos corredores e tentei não fraquejar minhas pernas que estavam mais bambas que o comum, estava pronto para cair nesse chão sem aviso. Assim que chegamos ao cômodo o loiro colocou sua atenção sobre nós, minha mente se expandiu com aquilo e não percebi em como estava segurando minha respiração. O garoto sorriu e se levantou.

— Vicente, lembra dos meus amigos que encontramos naquele hospital? Eles vieram te conhecer — Nicoly nos apresentou e vi ele ficar mais tímido.

— É um prazer, Vicente— Gabriel falou e vi o sorriso banguela do garoto.

— Por que vocês tem desenhos no braço? — Olhei para meus braços e uma risada escapou de nós.

— São tatuagens, você gostou? — O loiro correu até nós e sem nenhuma vergonha segurou minha mão.

— Posso pintar elas!? — Foi impossível não se contagiar com o garoto.

— Ah... Acho que sim — Quando desaprendi a falar com crianças?

O menino puxou nós dois e nos sentou no sofá como se fossemos seus melhores amigos, ele entregou um caderno que estava na mesinha de centro.

— Olha só, eu que pintei esses aqui — Vi a pintura estranha dele. Por que o cachorro era verde?

— Uau, são lindos — Gabriel falou agradando o menino.

— Por que seu cabelo é vermelho, moço? — Nós dois nos olhamos e sorrimos juntos.

— Porque eu sou uma fada — Vi os olhos do Vicente se arregalar com brilho nas pupilas.

— Sério?! — Ele me olhou como se realmente acreditasse.

— Sim, ele é uma fada — Confirmei e vi o garoto se animar todo com as palavras. Tão fofo.

— Onde estão suas asas?

— Elas ficam guardadas para que ninguém descubra meu segredo, mas quando um dente seu cair talvez eu apareça — Essa era a mesma história que ele contava a nossas crianças.

— Mãe, pode arrancar um dente seu?

Nós rimos e notei que Nicoly continuava no cômodo nos olhando, ela estava com um sorriso no rosto como se apreciasse o que estava vendo. Era tão estranho tê-la no mesmo ambiente, não me acostumaria com isso.

— Filho, antes de encher eles de perguntas, posso oferecer algo para eles beberem?

— Mamãe, ele é uma fada!

— Vou ter que roubar sua fada por alguns minutinhos, não vou demorar — Ela direcionou seus olhos para nós e percebi que a loira queria conversar — Vamos?

Levantamos do sofá com um certo desencorajamento e seguimos o caminho dela, durante a curta passada fui percebendo a decoração do apartamento, tudo era branco com detalhes em cinza, parecia bem confortável para que eles vivessem tranquilamente. Entramos na cozinha que tinha móveis semelhantes ao restante da casa.

— Obrigada por fazerem isso por ele, tenho certeza que os três vão se dá muito bem — O jeito que ela falava parecia que sabia o resultado.

— Ele é um garoto bom — Pelo menos na criação dele a mulher acertou.

— Querem alguma coisa para beber? Posso oferecer um chá ou suco — Por Deus, detestava a voz dela.

— Estamos bem — Respondi por nós dois já sabendo o quanto meu marido evitava abrir a boca para falar com ela.

— Gabi? — Ele olhou para ela.

— Dispenso, obrigado.

— Fiz bolo de cenoura hoje, lembrei que você gostava e preparei com amor, quer um pedaço? — Sua voz carregava um tom estranho.

Odiava isso nela, aliás, odiava tudo nela. Sempre em alguma briga de nós três Nicoly fazia algo para que Gabriel ficasse em suas mãos, era como se ela fizesse algum tipo de disputa sobre quem ganharia mais apoio. A megera sabia perfeitamente que ele era mais sensível a isso tudo, cobra.

— Nicoly, viemos aqui para conhecer o Vicente, não ficar de papo com você — Sua resposta foi surpreendente.

Olhei as expressões de seu rosto em um leve choque e me senti orgulhoso por suas palavras, a alegria tomou conta de meu peito.

Queria tanto que essa mulher conhecesse nossa babá para saber o quanto não chegava aos pés da morena, já estava com saudades da minha Isadora. Os problemas pareceram mais leves agora.

Nossa BabáWhere stories live. Discover now