Nossa Babá

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•ISADORA•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Minha família sempre teve uma estranha união que me deixava surpresa, principalmente pela separação dos meus pais. Como eles podiam ser tão amigos mesmo depois de um divórcio? Não tô conseguindo nem superar ficante, quem dera ex marido.

Faz alguns dias que decidi que estava na hora de tomar um momento para mim mesma e desde então estou em uma viagem de ferias com minha família, tenho recebido um apoio excelente mesmo que eles não soubessem dos problemas que tenho vivido. Eu venho refletindo sobre muitas coisas, nada que tenha me dado muita paz. Minha cabeça só volta para o momento em que vivemos naquela cozinha, sobre o que eu descobri, penso constantemente nas crianças e as vezes me permito pensar nos meus chefes, mas só as vezes.

Senti a brisa gostosa que Long Beach nos proporcionava e todos os meus pelos arrepiaram pelo frio que me abraçou, meu vestido tentava acompanhar a ventania junto com meus cabelos que balançavam de acordo com o ritmo. Uma presença surgiu atrás de mim e me deparei com minha irmã me olhando.

— No que está pensando? — Isabel perguntou se juntando a mim na sacada.

— Em nada — Menti. Ultimamente tenho pensado em tudo.

— Sabe que não pode me enganar, não é? Cresci com você tempo o suficiente para saber quando está evitando um assunto, desembucha.

Eu não era a melhor pessoa em esconder mentiras, mas não podia tirar os méritos da minha irmã de perceber meus sentimentos, desde pequena era assim, era um porre quando adivinhava minhas emoções.

— Tô com saudade das minhas crianças — Faço um biquinho como se fosse um bebê e ela me abre um sorriso compreensível.

— Por que não liga para eles?

— Porque tenho que dá um tempo dos dois e não tenho cabeça para me estressar nesse momento.

— Sei que você se chateou pelo o que aconteceu, mas não acha que está sendo meio rigorosa demais com isso tudo?

Isabel era a única que sabia do meu relacionamento com meus chefes, a mulher que sempre me deu o apoio em tudo não julgou as atitudes que tomei, pelo contrário, ela faltou agradecer por eu finalmente ter me envolvido em um romance proibido. Segundo ela, eu era "puritana" demais.

— Não sei! As vezes me lembro da falta de confiança que eles tiveram e tenho vontade de socar a cara desses idiotas mesmo eles não tendo tanta culpa, mas aí eu começo a me lembrar dos bons momentos e tudo que quero é sair daqui e matar toda a saudade que tô sentindo, um porre isso tudo — Revirei os olhos e ela se aproximou de mim me abraçando de lado.

— Acho que você têm que seguir seu coração, tomar atitudes de cabeça fria e avaliar o que é melhor para você — Recebi um beijo em minha bochecha - Saiba que têm todo meu apoio independente das suas decisões.

— Como pude ficar tanto tempo longe de você? — Observei a morena que tinha uma grande semelhança comigo mudando apenas o formato do corpo. Apesar de termos praticamente o mesmo rosto, Isabel era muito mais corpuda do que eu, acho que era por isso que a maioria dos caras sempre chegaram nela e não em mim.

— Me pergunto o mesmo — Ela responde demonstrando seu ego alto.

Adorava esses momentos com minha irmão, quando só existia eu, ela e um amontoado de fofocas para atualizarmos. Podíamos continuar com esse momento, mas um par de passos vieram até nós e em instantes escutei a voz animada da minha mãe.

— Estava procurando minhas filhas lindas! — Kelly disse do seu jeito espontâneo de sempre e me virei em direção a loira que sempre estava com seu corte chanel intacto.

Bastava olhar por alguns segundos para minha família para descobrir que eu e minha irmã havíamos puxado a aparência de meu pai. O cabelo castanho, a boca de cupido, o nariz empinadinho, olhos de um caramelo escuro... Nem passava na cabeça dele fazermos um teste de DNA, éramos sua xérox versão feminina.

— Fico feliz que tenham gostado dos vestidos que fiz para vocês, estava com saudades de fazer roupas para minhas bonequinhas — Vi o brilho de orgulho que surgiu nos olhos da loira.

Sempre incentivamos nossa mãe a seguir o sonho dela como estilista e me deixava imensamente contente saber que ela têm realizado isso cada vez mais. Ela sempre fez roupas para gente de maneira perfeita, até mesmo no mínimo quilo a mais que ganhávamos ela notava e arrumava todas nossas roupas, sempre foi bem caprichosa em nos deixar vaidosas, mesmo que as vezes me desse roupas mais extrapoladas que fazia mais o estilo da minha irmã do que o meu. Elas diziam que eu precisava mostrar mais dos meus privilégios e na linguagem das duas isso significava vestir um decote avassalador, algo que não agradava nem um pouco o papai.

— Vinícius está terminando de preparar o jantar, pedi para que ele me deixasse ajudar mas o cretino nem me permitiu chegar perto das panelas, desde então ele já se queimou umas três vezes — Nós rimos juntas e senti o clima leve entre nós.

— Papai sempre quer as coisas do jeito dele, mesmo que não saiba fazer — Isabel comentou a pura verdade.

— Isso é falta de uma namorada, mas logo resolverei isso, já planejei alguns encontros para aquele ranzinza enquanto estamos aqui, ele vai ter que encontrar uma mulher que preste, claro que ela não vai me superar mas pelo menos têm que chegar perto — Olhamos para mamãe com divertimento.

Nossos pais eram tão opostos que eu até entendia o motivo do término, mas hoje em dia era engraçado o quanto Kelly infernizava o juízo do nosso genitor. O controlador não gostava nada disso.

— Devia deixar o papai em paz, mãe, a senhora está cansada de saber que ele surta com qualquer coisinha — Aconselhei tentando ajudar a situação do meu pobre velho.

— Não precisam se preocupar, deixem tudo comigo — Ela parecia ter um plano perfeito em sua cabeça — Mas agora me falem, como estão vocês?

— Ixi, tô fora, boa sorte, Isadora — Minha irmã fugiu antes que mamãe a enchesse de perguntas. Traidora.

— Então, mocinha e você? Já têm algum namorado novo?

— Mãe!

— O que foi? Estou curiosa sobre a vida da minha neném, faz tanto tempo que não vejo vocês e em breve terei novas viagens tudo de novo.

— Vamos mudar de assunto, minha vida não gira só em torno de homens, sabia?

— Então me fala sobre sua vida profissional, como vai o trabalho de babá?

— Piorou — Murmurei lembrando dos meus chefes — Vou descer, beijos.

— Isadora, para de ser igual sua irmã, eu só quero conversar! — A campainha tocou e vi o momento ideal para me livrar de suas garras intrometidas.

— Vou atender a porta, até mais! — Falei me afastando da mulher que estava sendo xereta como sempre.

Desci as escadas apressada e coloquei a melhor expressão no rosto, podia escutar o tilintar das panelas no outro cômodo, meu pai estava mesmo caprichando para nossa refeição.

Fui em direção a porta e passei a chave pela tranca pronta para abrir um de meus sorrisos meigos de sempre, mas assim que abri a única coisa que consegui mudar foi as expressões do meu rosto que ficaram mais em choque do que neutra. Vi as duas figuras masculinas na minha frente e meu coração disparou.

— Isadora? — Daniel e Gabriel perguntaram juntos e por um momento achei que estava dormindo. Isso só podia ser um pesadelo.