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GABRIEL
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Não podia dizer que estava sendo fácil me adaptar a uma casa que não tivesse a Isadora dentro, com certeza nossa situação atual entrava em minha lista de piores momentos da vida.

Eu e Dani ficamos abalados com tudo isso, os dias têm sido cinza por nossa casa. As crianças estão frequentemente perguntando pela babá que foi embora sem se despedir, não nos concentramos mais no trabalho, as atividades em casa estão extintas e até nossa vida de casal tinha se alterado. Depois de Nicoly nunca mais tentamos mais nada sério com ninguém por justamente passar por esse abalo quando as coisas chegavam ao fim, mas agora era diferente, Isadora não tinha nos tinha dito quando voltaria, nem sequer falou que ia sumir de vez.

Tudo que estava ruim podia piorar e foi por esse motivo que agora estávamos aqui. Como se já não tivéssemos problemas o suficiente, a mãe do meu esposo ligou para ele a dois dias atrás e recebemos uma notícia nem um pouco boa.

Era fato para qualquer um que fosse minimamente íntimo de Daniel, sabia que ele não tinha o melhor relacionamento com os pais e isso tudo era devido a sua infância não muito legal. O moreno tinha sido criado em um lar exigente e pesado, seus pais que sempre foram a favor de uma criação atrasada e rigorosa, não colaborou nadinha para que os anos melhorassem seus vínculos, mas a situação agora era diferente.

O pai do meu marido não estava bem, a idade avançada já fazia peso sobre suas costas e apesar de todo o mal que ele já fez ao meu amor, ainda continuava sendo seu pai. Então aqui estávamos, na mansão dos Jackson's, localizada em um bairro chique e uma rua sossegada até demais.

Olhei para a casa em minha frente e tentei imaginar como foi crescer em um ambiente assim. Dani não se perdia quando era criança? Eu não consigo nem pensar a solução que eu criaria para não perder meus filhos dentro de cada cômodo enorme que devia ter alí dentro.

Tirei minha atenção ao lar e guiei meus olhos até meu marido, vi em seu rosto o quanto ele não estava bem diante desse lugar.

— Você sabe que não precisa me levar junto, não é? — Ele me olhou e precisou de alguns segundos para entender as palavras.

— Quero que a gente faça isso juntos, já passou da hora deles aceitarem e não sei se aguento encarar tudo isso sozinho.

— Dani, não quero criar uma situação de caos para você.

— Você não traz caos nenhum na minha vida, pelo contrário — Ele sorriu para mim e segurou minha mão — Mas se você não quiser...

— Eu quero! Você sabe que uma das coisas que eu mais gostaria é ficar próximo a sua família — Sua expressão triste me dizia que sua cabeça estava cheia demais — Vamos lá, quanto mais cedo começarmos, mais cedo vamos terminar.

Apertei sua mão com firmeza para que ele tivesse a certeza que ficaria ao seu lado o quanto fosse necessário e o puxei para a entrada da casa. Assim que toquei a campainha fomos atendidos por uma governanta que não parecia ter muitas expressões no rosto, mas que reconheceu meu companheiro.

Fomos levados em direção a uma sala de visitas e eu tentei manter minha mente concentrada onde devia, era fácil se distrair com a riqueza dos pequenos detalhes, tinha que confessar que a casa era muito bem decorada. Passos vieram do corredor e assim que as portas duplas foram abertas tive que me controlar para não cair duro naquele chão, ainda tinha algumas dificuldades em ficar sobre a presença dos pais dele.

— Oi, mamãe — O moreno ao meu lado não parecia muito alegre.

— Vejo que ainda faz rabiscos por todo o corpo — A senhora que transmitia riqueza levou seu olhar as tatuagens dos filhos e logo em seguida até meu rosto — E ele também veio.

— Olá, senhorita Fany — Meu coração pulava tão rápido que não dúvida que teria um infarto em breve.

— Oi — Seu olhar de desprezo me deu uma leve dor no peito — Seu pai não vai ficar nada satisfeito com isso, mas vamos logo.

A mulher andou na direção em que tinha saído e a acompanhamos com rapidez. Subimos uns bons lances de escadas até chegarmos onde queríamos, a um quarto grande que estava mal iluminado devido as cortinas fechadas. Charles estava deitado sobre a cama e alguns aparelhos o acompanhava em volta.

— Querido, Daniel está aqui — Fany foi em direção ao senhor e tocou em seu ombro fazendo com que ele abrisse os olhos. O velho estava mesmo mal.

— Filho... — Sua voz era quase um sopro jogado ao ar — Se aproxime.

— Oi, papai — Dani foi até ele e segurou sua mão — Não parece muito bem.

— Todos sabemos que em breve eu irei morrer.

— Charles Jackson, não fale isso! — A chefona repreendeu o marido.

— Como têm passado? — Ele não parecia muito consciente das coisas.

— Tudo está bem, seus netos querem te conhecer, sabia? — A cara do velho se fechou e vi o aparelho apitar de forma mais constante — Gabi também está aqui.

— Bom dia, senhor Charles — Não me aproximei muito.

— Ora, precisava mesmo trazer esse homem!? — Ele me olhou como se sentisse nojo da minha presença.

— Pai, não fale assim com ele!

— Como acha que eu deveria falar? Não posso acreditar que trouxe esse... Esse verme!

— Eu sabia que não deveria ter vindo aqui — Daniel largou a mão de seu pai e se afastou — Tinha mesmo que reagir assim?!

— Não grite com seu pai, Daniel!

O barulho do bip longo foi acelerando cada vez mais e por alguns segundos pensei que mataria esse homem agora mesmo. Mas apenas fui guiado pela emoção e vi o moreno sair do quarto apressadamente, o acompanhei e quando vi já estávamos do lado de fora. Ele entrou no carro e sua frustração foi aparente.

— Você está bem? — Minha preocupação transbordava por todos os meus extintos.

— Não, eu não estou bem! — Uma lágrima caiu de seus olhos — Eu voltei a fumar, Gabi, não quis te contar porquê fiquei com medo de que você também caísse nessa desgraça comigo, mas eu não tô bem.

— Por que não me contou? Dani, eu não te julgaria por isso — Coloquei minha mão em seu rosto e fiz com que ele olhasse em meus olhos — Sabe que pode contar comigo, não é? Sou a pessoa que está do seu lado desde quando você acorda, até a hora de dormir... Você não pode guardar tantos sentimentos dentro de si, eu quero te ajudar.

— Eu queria ela com a gente, sinto que só vou ficar bem quando tiver os dois, mas essa porcaria está doendo mais do que devia — E foi aí que eu entendi o problema.

As vezes me sentia culpado por achar que sempre era eu o emocional da relação, pensava que acabava pressionando Dani por isso e fazendo com que ele se entupisse com suas emoções profundas. No fundo meu marido só tinha muitos sentimentos guardados.

Respirei fundo e estendi minha mão para pegar algo que estava guardado na mochila que eu deixei no carro. Tirei o livro que tinha trazido.

— O que é isso?

— Isadora deu esse presente para as crianças a alguns dias atrás, é um livrinho que guarda sua voz lendo a história — Apertei o botão e a doce voz feminina encheu o carro — Acabei pegando para mim e só consigo dormir quando escuto a história.

Ele me olhou surpreso e por um tempo tudo o que ficou entre a gente foi a voz apaixonante de nossa garota. Precisei de um tempo para me recuperar do soco em minha barriga que as lembranças eram guiadas junto ao som.

— Eu também quero ela, Dani — Limpei suas bochechas molhadas — Acho que sei o que podemos fazer para isso acontecer.

Nossa BabáWhere stories live. Discover now