Capítulo I - Ligados por Sangue / Parte 11: James Morris

4.4K 282 16
                                    

A noite já cobria o céu da cidade quando despertei. O vento silvava ao cruzar o estreito corredor de minha casa. À medida que meu sono se esvaia, vária vozes começaram a confabular em minha cabeça, discutindo entre si, gritantes. Sabia que o passo que dera levava-me para um final no mínimo incerto. Minhas expectativas diziam-me que tudo aconteceria como eu pensara ao longo dos últimos meses; mas você sabe o problema das expectativas: nem sempre se concretizam. E se tudo saísse do controle? E se? E se? E SE?

As vozes clamavam simultaneamente por atenção.

"Se você parar agora, talvez não o descubram". "Terminará morto!". "Você sabe o que fazem com garotos jovens e de boa aparência no cárcere?". "Não importam suas crenças, o inferno, com certeza, o aguarda". "O que aquele homem fez para você?". "Seria mais fácil se você simplesmente se matasse, por que não faz isso?". "Quando o descobrirem, ele rirá na sua cara". "Seu pai estava certo, você não passa de um moleque!". "Quem diabos é James Morris?!". "O que ela acharia disso?". "VOCÊ FOI LONGE DEMAIS!".

"NÃO!!!", gritei levando as mãos à cabeça, beirando um ataque de pânico. Tantas malditas vozes... Tantas malditas incertezas! Onde estava me colocando? "NÃO!", lágrimas corriam pelo meu rosto. Eu estava com medo. "Eu não posso...", insistia comigo mesmo, "Não posso..."

Todas as vozes se calaram e, em meio ao novo silêncio, uma nova voz surgiu.

"Lembre-se do motivo e não se desvie do caminho", esta disse, e as palavras ecoaram por minha mente e quarto em alto e bom tom. Senti-me presenciando um profeta pregando sua profecia. Como seria possível duvidar de tais palavras? Lembre-se do motivo e não se desvie do caminho... É claro!

"Sim", sussurrei em resposta. "Sim! Sim!", eu sorria, "Claro!"

Em um lapso de clarividência e certeza do que havia de ser feito, levantei-me, vasculhando o chão. Lancei folhas, roupas, malditas caixas de medicamento e maços vazios para todos os lados; mas encontrei o que queria: uma caneta de tinta preta, ponta porosa – o melhor tipo, se me pergunta. Sentei-me na beirada da cama, sentindo-me estranhamente aliviado, mesmo em meio ao caos ao qual me submetera, e, com o mesmo cuidado que tive com a seringa, comecei a escrever as palavras em meu braço.

Minha sina. Minha verdade. Meu motivo. Meu caminho.

"Lembre-se do motivo e não se desvie do caminho."

Se seguisse aquela voz, o destino se asseguraria do resto. Pude sentir isso da mesma maneira que sentia a fria tinta deslizando por minha pele... Da mesma forma que sentia uma dor que persistia há muito tempo em meu coração.

"Jane..."


Liberte-seOnde as histórias ganham vida. Descobre agora