Capítulo II - O Motivo e o Caminho / Parte 6: Paul Thompson

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As três horas aproximavam-se, o horário preferido para cachorros solitários latirem e casais felinos se encontrarem. Alguns olhares curiosos e insones surgiam nas janelas com o movimento policial. Do outro lado da rua, um grupo de jovens embriagados, bebendo direto da garrafa, passava. Cantavam alguma coisa, mas nada que eu conhecesse – alguma espécie de rock dos anos 80. Caso tenham notado o que acontecia naquele local, passaram sem dar a menor atenção; o que talvez tivesse relação com a ponta de maconha que compartilhavam. Maconha nunca foi algo com o qual me importasse; não que eu fosse usuário, mas, sinceramente, no mundo de hoje, onde armas nucleares são desenvolvidas, homens da lei oprimem os que estão às margens da cidade, o poder mostra-se cada vez mais corrupto e o homem ingerindo cada vez mais álcool e comprimidos para tudo, maconha sequer é um problema. Dói lembrar-me que muitos jovens morreram carregando a droga sem sequer terem-na utilizado uma só vez, apenas por não terem opção.

Os jovens saíram de vista e os prédios da esquina foram iluminados pelos faróis de um carro que se aproximava.

"É o carro do tenente", alertou o policial ao meu lado, segurando a cintura. Dissera-me que os que estavam no bar mal ouviram algum barulho do lado de fora, quanto mais tiros. "Essas coisas já não acontecem mais, você sabe", disse-me que um havia destacado. Creio que as pessoas sempre irão matar, por mais que você as ameace de morte por isso; mas esta é a minha opinião.

Rachel estava lá há algum tempo, um pouco abalada pelo que vira. Havia revelado os tiros no corpo ao virá-lo. Três tiros. O desgraçado agora estava armado. Eu alternava o olhar entre ela e o carro, que já estava sendo estacionado próximo a nós.

Enfim, George desceu do automóvel, caminhando ao nosso encontro.

"Senhores." Calou-se por um momento ao ver o corpo e o montante de sangue, em especial o que notei após alguns minutos encarando o corpo: uma maldita perfuração no pescoço, tal como a da coxa do último infeliz. "Não parece ser o mesmo...", ele começou a dizer, e, de fato, não havia semelhança; eram três tiros no tronco, diferentemente do último caso.

Mas Rachel virou o corpo de costas, revelando a enigmática marca.

"Deus...", George levou a mão à boca.

"Alguém quer chamar a atenção", a ruiva disse, torcendo o lábio. "A perfuração no pescoço também é idêntica à que encontramos no último assassinato. Uma agulha fina foi usada para fazê-la, talvez como uma espécie de marca. Este cara é um caralho de um lunático!"

"E os tiros?", ele questionou.

"A queima roupa. O homem mal teve a chance de se defender."

Ao tempo que George chegou, já possuíamos uma identificação. "Senhor", chamei-o. "Temos um nome: Arthur Desert. Este carro", apontei para o velho carro ao lado, "pertence a ele."

"É como se a paz insistisse em não visitar esta cidade, por Deus. Você fez bem em", George começou a tossir, "fez bem em...", a tosse se agravou, ao ponto de que ele não conseguia falar.

"Senhor?"

"Você está bem, George?", Rachel aproximou-se.

O tenente levou a mão ao peito, apertando-o e continuando a tossir. Eu e Rachel o ajudamos a se sentar.

"Chamem uma maldita ambulância!", gritei, ao passo que o segurava, agachado.

"Não...", George respondeu. "Eu estou..."

"Mas senhor..."

"Não!", ele insistiu. "Eu estou", pigarreou, "estou bem. Vamos, me ajudem a levantar desse chão imundo."

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