Capítulo II: O Motivo e o Caminho / Parte 3: Paul Thompson

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Era cedo para afirmar, mas suspeitava de que se tratava de um mesmo assassino. Os bandidos seguravam seus ânimos, temendo a própria morte com a implementação da pena máxima; podia-se dizer que a cidade vivia tempos de paz, apesar de roubos e tráficos. Dois assassinatos em um curto intervalo de tempo era algo que afetava os nervos de todos, pois a maioria dos policiais havia ingressado recentemente e, afora pelas histórias, não haviam presenciado a crueldade do homem. "O que diabos está acontecendo nesta cidade", pensei, ao descer do carro, deparando-me com o corpo debruçado sobre o sangue.

Um bêbado saiu de um bar próximo, observando o corpo e nós, policiais, com certa curiosidade.

"Saia daqui, vagabundo!", gritei para ele, que entendeu o recado, saindo, trôpego, para o lado oposto. Detesto estes infelizes curiosos pela desgraça alheia; não viveram o que vivi, em que sempre que se visse um corpo, desviavam-se os olhos. Curiosos costumavam ser os próximos nomes na lista de pessoas que apareceriam mortas na rua.

Meus colegas aproximaram-se, mantendo três passos de distância atrás de mim.

"Desgraçado...", disse, após confirmar minhas suspeitas. Quem mais encravaria um maldito "2" nas costas de um sujeito? Não poderia ser coincidência, e nunca era. O número sangrava, molhando a velha camisa branca do senhor de cabelos ralos, manchada de amarelo pelo suor.

"O que faremos?", um dos policiais indagou, desviando o olhar do corpo.

"Dois de vocês façam a ronda no perímetro. Você", apontei para um deles, "espere aqui comigo."

Um corte como aquele não o teria matado. Aproximei-me, desejando virá-lo a fim de descobrir de onde saíra tanto sangue, mas recuei, sabendo que Rachel odiaria que eu fizesse isso, atrapalhando seu trabalho. Eu não gostaria de irritá-la, tampouco gostaria de acordá-la em tal momento da noite, mas era preciso.

Saquei o celular, afastando-me um pouco, pois o sangue aproximava-se de meus coturnos recém-engraxados.

"Vamos, vamos, vamos", o telefone tocava.

Os dois policiais que designei para a ronda entraram na viatura e deram início à caça, procurando qualquer bastardo que estivesse usando uma camisa "cor de vinho de mangas longas". Nenhuma descrição física. Como inferno a mulher não notara se ele era preto ou branco? Às vezes surpreendo-me com as pessoas.

"O bar parece aberto, senhor", o que acompanhava-me pontuou. "Irei até lá fazer algumas perguntas." Assenti com a cabeça, voltando minha atenção para a doce voz que provinha do telefone.

"Rachel!", disse, em tom mais feliz que gostaria. Era difícil manter uma voz diferente ouvindo-a. "Me desculpe, mas é que...", calei-me. "Sim, outro assassinato. Como sabia?" Tivera a mesma sensação que tive quando pedi o plantão para o tenente George. Sabia que alguma coisa aconteceria, sabia que algo estava errado na cidade. "A caminho? Você tem certeza?" Aguardei novamente. "Tudo bem", disse, passando a ela o endereço. "Não precisa se apressar...", disse, novamente soando mais doce do que gostaria. Mas Rachel apareceria rapidamente, conhecia-a suficientemente bem para saber disso.

Havia outra ligação para fazer, uma um pouco mais delicada e para uma voz um pouco menos agradável de se ouvir; contudo, tanto quanto ou mais importante que a anterior.

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