Capítulo V - Um Espectro Ronda Circodema / Parte 10: James Morris

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Circulava pela cidade já havia algum tempo. Observando os rostos das pessoas nas ruas, tentava imaginar o que seria um ato marcante, o que ficaria para a história. Algumas coisas faiscavam dentro de mim, mas nada à altura do que queria. Precisava de inspiração. Inspiração... a palavra trouxe-me a imagem de Linda. Lembrei-me do estado que ela fora deixada junto ao velho no chão próxi¬mo ao cemitério. Deixaria as ideias amadurecerem, precisava vê-la.

Direcionei meu carro para o Bom Apetite; sabia que ela trabalhava lá. Sabia de muitas coisas.

Na rua ao lado, vislumbrei-a pelo vidro. A morena conversava com outra mulher, igualmente maravilhosa, dona de lisos cabelos negros. Decidi que aguardaria. Ficaria em meu carro, esperando as ideias tomarem forma, observando, como muitas vezes o fiz. Liguei o rádio, procurando algo que agradasse. Deparei-me com um rock antigo e pensei o quão Daniel apreciaria aquele som. Talvez também o estivesse ouvindo.

Puxei um cigarro do bolso e o acendi, apreciando o ritmo marcante de Bob Dylan.

***

Passara algum tempo até que Linda finalmente resolveu sair daquele lugar. Já estava entediado; tive que desligar o som para a bateria do carro não acabar e já havia perdido a conta de quantos cigarros tragara. O sono se aproximou em alguns momentos, mas aquela não era a hora de dormir ou descansar. O caminho afunilava. As horas tornavam-se preciosas e eu não sabia quantas mais eu teria.

Vendo-a caminhar com um semblante triste, tive, por uma curta fração de segundo, a imagem do final de minha jornada; o final perfeito! Mas a ideia sumira da mesma forma que aparecera. Tudo bem... No momento certo ela voltaria; o destino não permitiria que a história terminasse de outra forma.

Quanto àquela noite, em especial, tudo estava arquitetado em minha mente. O tempo ocioso mostrara-se produtivo – o segredo dos grandes filósofos gregos! – e, em tempo oportuno, tudo ocorreria como planejado.

Não pude deixar de notar quão estrelada estava a noite. A lua aproximava-se de seu ápice.

Linda entrara em um táxi e, antes que pudesse notar, iniciava mais uma perseguição para somar em minha extensa lista.

Liberte-seOnde as histórias ganham vida. Descobre agora