Capítulo V - Um Espectro Ronda Circodema / Parte 9: Edgar Visco

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Paul Thompson sentava-se na cadeira de George.

"Parece que Circodema possui um novo tenente", ironizei, sentando-me no sofá de couro ao lado. "Quantos repórteres...", pontuei, massageando o pescoço.

"Sim", ele respondeu. "Eu não sei o que fazer em relação a eles. Se ao menos George estivesse aqui... Pelo menos ele já está fora de perigo, graças a Deus."

"Não se preocupe", sorri. "Eu disse a eles que estava de volta e que pegaria o bastardo." Bocejei. O sono se aproximava.

"Você o quê?"

"Tudo ficará bem, meu caro amigo... Tudo ficará bem...". As pálpebras pesavam.

"Você não tinha o direito!", colocou-se em pé. "Quem você pensa que é?", esbravejou, seguindo para a porta.

Eu não entendi bem sua reação, visto que resolvera seu problema. Aconchegado no sofá, apenas dei os ombros.

A última coisa que ouvi antes de me entregar para o sono foi o brusco bater da porta.

***

A brisa do oceano acariciava meu rosto e o doce quebrar das ondas deleitava meus ouvidos. Olhei para a imensidão azul, notando o sol se pondo – estava há oeste de algum continente; não me importei em como chegara em tal lugar; a única coisa que importava era que estava ali. O vento re¬frescante, a areia sob os pés descalços, o som das ondas, gaivotas, o infinito e belo azul... até os que se dizem não muito fãs de praias concordariam que não havia lugar mais lindo no mundo do que aquele. Fechei os olhos. Queria mais do que sentir aquele momento, queria ser aquele momento. Lembrei-me de quando era menino, correndo em uma praia – não tão linda como aquela, teria que admitir, mas as lembranças douram as coisas, tornando-as mais belas –, buscando con¬chas, sorrindo para meus pais, que me observavam de longe, acenando.

Um toque no ombro despertou-me.

"Eddie!", Linda sorria. Usava um leve vestido branco, os cabelos esban¬javam perfeitos cacheados naturais e possuía uma flor na orelha direita – não saberia dizer qual – e algumas pulseiras praianas. Voltei os olhos para o próprio corpo, não notara até então que estava vestindo camisa azul claro aberta – feita da cor do próprio oceano – e uma espécie de calça clara tecida em um tecido bem leve. Voltei os olhos para minha amada, minha Linda. O vento levava seus cabelos, como se fossem feitos um para o outro. Estava sem palavras. "Vamos, Eddie! Já está na hora!", puxou-me pelo braço em direção oposta às ondas.

Olhei para trás uma última vez.

"Hora de quê?", sorria, acompanhando-a. E como não sorrir estando no paraíso?

"Do casamento, bobo! Vamos!"

Chegamos a um oásis no meio da mata, um pedaço do céu perdido no meio do nada. Várias plantas cercavam o local, respeitando o seu raio; velas dis¬persas por todo o lugar, exalando um doce cheiro. Uma pequena ponte, decorada de tecidos brancos e rosas claras, levava a uma minúscula ilha, cercada de água cristalina, que corria sobre pedras abaixo da ponte. Um rapaz sorria no meio da ilha, com um grosso livro em mãos.

Tive a estranha sensação de que o conhecia de algum lugar.

"Vamos, Eddie! Vamos!"

Estupefato e sem palavras, sentindo-me abençoado, olhei para trás no mo¬mento em que ele pisou na ilha. Daquele ponto era possível ver o oceano, que adquiria um tom alaranjado pelo crepúsculo. Não havia no mundo lugar mais belo, logo soube.

"Estamos aqui reunidos...", o misterioso e estranhamente conhecido jovem começou.

"Pare!", Linda sorria, segurando meu braço com ambas mãos. "Como o combinado, sem brincadeiras." Olhou, sorridente, para mim. Eu estava errado, havia sim um lugar mais magnífico no mundo. Apenas um, porém.

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