Capítulo V - Um Espectro Ronda Circodema / Parte 15: Linda Rivera

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Seguia para casa com a cabeça escorada no vidro do solitário e pequeno táxi vermelho. Questionava-me o que estava acontecendo com meu relacionamento, minha vida, meu noivo... Ele com certeza precisava de ajuda. Pelos céus, demitir-se, voltar para a antiga profissão, a mesma que ele acusava tê-lo jogado no fundo do posso. Isto claramente era um pedido por ajuda e...

"Aquele não é o carro dele?", pensei, afastando-me da porta.

"Senhor, senhor!", chamei o taxista, que arqueou as sobrancelhas em resposta. "Você pode parar aqui por um momento, por favor?". Ele assentiu, levando o carro ao meio-fio.

Rota 62. Lembrava-me deste nome de alguma conversa que tivemos; certamente não era boa coisa.

No momento que adentrei o local, avistei o canalha. Sorri. O típico sorriso que apenas uma dama vendo o cafajeste, seu cônjuge, com outra a menos de um palmo de distância consegue esboçar. A máscara – e a casa – caiu, filho da puta! Como ele pôde fazer isso comigo? Como teve a ousadia? Edgar, seu maldito filho de uma rapariga.

"Cretino... desgraçado...", insultos brotavam em minha cabeça.

Um frio tomava meu estômago e meu peito à medida que uma onda de calor e raiva coravam minhas bochechas. Tive que segurar as lágrimas – por orgulho – seguindo em direção ao desgraçado do meu noivo da mesma maneira que um carro-bomba segue para seu alvo: pronta para explodir.

Sorrindo, o infeliz virou o rosto, mas, ao me ver, o sorriso se esvaiu.

"Lin..."

Minha mão em sua face foi a resposta. Sua acompanhante se afastava, boquiaberta. Todos os olhos daquele maldito lugar se voltaram para nós. Até o velho balconista parou de passar o pano nos copos para nos observar.

"Desgraçado... Infeliz! Eu preocupada e você...". Não consegui mais segurar as lágrimas. "Você... você..."

"Linda...", ele insistia em tentar falar.

"Cala a boca! CALA A BOCA!", gritava e gritava e, perdida nas palavras, virei-me, saindo do bar a fortes passos com as mãos cobrindo o rosto.

"Linda!", ouvi o grito e então apenas silêncio no local.

Novamente roubávamos a cena. O desfecho, porém, não seria o mesmo.

Edgar Visco, seu desgraçado... Por quê? Por quê?!

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