Capítulo V - Um Espectro Ronda Circodema / Parte 8: Linda Rivera

1.8K 168 3
                                    

Tive que parar um táxi para poder chegar ao restaurante.

Não conseguia digerir ou compreender a atitude de Edgar, meu noivo! A estranha noite anterior somada ao que ele fizera com o velho senhor; o que diabos estava acontecendo com ele? Teria a morte de seu colega o afetado de tal forma? Estaria ele carregando a culpa? Dias difíceis; dias muito difíceis! Precisava de um pouco de normalidade, um pouco daquela sensação de que nada nunca irá mudar. O que melhor para trazer-lhe isso do que o próprio trabalho? A rotina... Não importa o que você faça; os dias passam e a inércia continua: você se vê sempre no mesmo lugar. O que poderia ser mais normal do que isso? Meu pai uma vez me disse que um preso liberto muitas vezes sente falta de sua cela, amedrontado pelo novo mundo. Creio que esse estado me definia.

***

Fornecedores, elogios, críticas... Como chefe, o trabalho manual nunca era requerido; sentia-me entediada por este motivo às vezes, fato que me fazia correr até a cozinha. Mas não me senti assim após o dia tão turbulento; à medida que assinava papéis, atendia telefonemas e lia sugestões, a rotina fazia sua mágica, despertando a falsa sensação de normalidade – como o almejado. Partindo da premissa que todos os dias eram como aquele, logo ele seria como todos os outros e tudo voltaria ao bom e aconchegante cotidiano. Mas não era o que o futuro me reservava. Não naquele sábado em especial.

A doce sensação de segurança proveniente do "normal" passou quando a pequena televisão que havia na parede de meu escritório mostrou meu noivo, meu futuro, abrindo os braços para as câmeras e anunciando sua volta para as forças da lei com um insano sorriso.

"Por que ele está fazendo isso?!". Sem que eu percebesse, as lágrimas caíram sobe a folha. Até mesmo a minha pressão caiu, produzindo um frio suor no alto de minha testa. "O que está acontecendo com você, Eddie? Por Deus...".

"Estas foram as palavras de Edgar Visco, ao vivo para vocês, diretamente do sete!", a âncora disse.

Saquei o celular no mesmo instante, tentando contatá-lo. Ele estava perdido e precisava de mim. Uma vez. Duas Vezes. Três vezes! Merda, Eddie! Merda! O irritante toque insistia, aumentando minha ansiedade a cada repetição.

Desisti após perder a conta de quantas vezes ligara, deixando o celular sobre a mesa e cobrindo os olhos com as suas mãos. O que podemos fazer quando não conhecemos aqueles para os quais já nos entregamos? Senti as lágrimas es¬quentarem minhas palmas. Qualquer pessoa que se aproximasse naquele momento conseguiria ouvir meu choro.

"Eddie..."

Liberte-seOnde as histórias ganham vida. Descobre agora