Capítulo VIII - Liberte-se / Parte 13: Edgar Visco

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"Edgar...", uma voz feminina me chamava. "Edgar!"

Acordei em um pulo. A última coisa de que me lembrava era de estar em queda livre.

"O que houve?!"

"Você estava dormindo. Há um telefonema para você". Rachel quem me acordara.

"Não está mais no laboratório?" Esfreguei os olhos, levantando-me.

"Não há muito o que se fazer... Enfim", soava desanimada.

"Entendo. O telefone..."

"Pode atender pelo do George, meu querido. Vou pedir para transferirem." Ela saía.

"Rachel!" Ela se virou, segurando a porta. "Era Linda?" Minha voz ecoou triste, mas eu não entendia bem o porquê. Algo a ver com uma montanha, um precipício, e havia uma pessoa... Glenn? Não conseguia lembrar-me bem o que era.

"Não...", ela levou a mão ao queixo. "A voz era de um rapaz, mas ele não disse quem era."

"Rachel!", veio o chamado da outra sala.

"Oi?", ela disse, olhando pela porta. "Já vou!", virou-se para mim. "Me desculpe, Edgar." E fechou a porta.

Por um momento, encarando o telefone, fiquei paralisado e, como quando terminei de ler aquele verso "ligados por sangue", ouvia apenas meu coração palpitar. Vozes emergiam de mim. Coragem, Edgar! Não se acovarde! Mas o tempo... O tempo se acabou... Mas acabou-se para quê?! Eu não quero descobrir. Por favor, não me faça descobrir. Não me faça... ATENDA A PORRA DO TELEFONE. E quem está ligando? Você sabe, Edgar. Você bem sabe...

Sempre soube.

A temperatura de meu corpo despencara. Meus passos não poderiam ser mais vacilantes.

"Edgar aqui, com quem falo?".

"Olá, Edgar..." Senti-me morto por um momento. Como poderia ser diferente? A despeito da tensão, mantive o tom da voz firme.

"Quem é você e o que quer de mim?".

"Acho que chegou o momento de nos confrontarmos, meu caro Edgar. Precisamos confabular."

"Eu te matarei, desgraçado."

"Bom, isso veremos! Você é e sempre foi um grande conhecedor dos bares de Circodema... Venha até o Ponto Final. Nome sugestivo, não?"

"Por que eu deveria ir?"

"Porque tenho algo seu".

"O que você fez, infeliz?! O QUE..."

"Venha sozinho".

"ESPERE!", gritei, mas já não havia ninguém do outro lado da linha.

A porta do escritório se abriu. Rachel.

"Edgar, está tudo bem?"

"Sim, sim...", menti. "Tenho que sair. Apenas avise o tenente caso o veja e diga que já estarei de volta."

"Você tem certeza de que está tudo bem? Parece que..."

"Sim", interrompi-a.

Ela me encarou por um instante, mas assentiu, fechando a porta.

Para o bem ou para o mal, eu me encaminhava para minha última missão. Sozinho. O grande dilema da prepotência do herói. Sempre buscando a maldita glória – mesmo que de forma inconsciente e imprudente – para si. Mas estaria a glória me esperando?

A voz insistia dentro de mim. "Tome cuidado, Edgar. Tome MUITO cuidado."

***

Deus. Ouça-me, por favor. Se o Senhor de fato existe, se por algum momento nesta minha medíocre vida com a qual Você me abençoou eu signifiquei algo para Sua onipotente, onisciente e onipresente existência... Por favor... Faça o que quiser comigo... Mas... Por favor... Não...

Não ela.

Sempre soube.

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