Capítulo IV - Charlie? / Parte 1: Paul Thompson

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Tivessem os fatos ocorrido de outra forma, talvez capturássemos o covarde naquela mesma noite e fim, mais um caso de vingança malsucedida para as prateleiras da biblioteca. Glória para Edgar e honra para os que o acompanharam, como manda figurino hollywoodiano.

Tivessem os fatos ocorrido de outra forma...

A história, porém, mal se aproximava do fim e, como muitas outras vezes, Circodema se preparava para um banho de sangue. Temo que muitas cidades reivindiquem o mesmo sacrifício.

***

Nove horas; noite.

Entramos no bar para o qual fomos designados. Edgar primeiro, seguido de mim; ambos vestidos casualmente, como amigos comemorando a tão esperada sexta-feira. Nada chamava atenção no local e o mesmo valia para nós.

Sentamos junto ao balcão. A música estava baixa, abafada pelas várias vozes do lugar. Não demorou muito para o senhor Visco levantar dois dedos, pedindo uma bebida.

"Whisky", disse para o balconista.

"O mesmo", repeti. "Você realmente acha que isso é uma boa ideia, Edgar?", indaguei-o quando o balconista se virou.

"Estamos em um bar, mais precisamente em um balcão", ele sorriu. "Caso queira, peça sua Coca-Cola diet, policial."

"Eu estou de olho em você, Edgar. Não duvide em nenhum momento disso, infeliz", eu pensava, encarando-o, à medida que seus olhos corriam pelo local. Era como eu imaginava; ele não estava atento às pessoas ou buscando suspeitos, estava feliz por ter pedido uma bebida, feliz por ter a chance de arruinar a imagem da polícia circodemense uma outra vez. Onde você estava com a cabeça, George?

Os shots chegaram.

"Se não quiser, não beba", comentou, em tom arrogante, levando o pequeno copo à boca.

"Só não foda com tudo", pontuei, imitando seu ato.

Ele se virou para mim. "Eu não sei quem é você, meu chapa, e nem o motivo dessa birra toda...", abaixou o tom, sorrindo, "mas cansei de sua voz garoto. Se você fosse tão bom como imagina que é, eu não precisaria estar aqui. Céus, eu nem ao menos queria estar aqui, entende? Tenho uma linda mulher de quem estou noivo e podia estar fodendo agora até fritar meu maldito cérebro, mas estou aqui com um sujeito que parece não saber fazer nada além de encher a porra do meu saco", voltou os olhos para o ambiente. "Eu quero acabar com isso logo, acredite. Até lá, faça-nos um favor: beba e pare de testar a porra da minha paciência."

A minha vontade era de lançar a cabeça de Edgar Visco contra o balcão onde estávamos e socá-lo até seus miolos se esvaírem. Quem ele pensava que era? Garoto? Você está pisando em terreno perigoso, Edgar. No entanto, preferi não me delongar no assunto. Desentendimentos poderiam esperar; aquele com certeza não era o momento. Mas sua hora chegaria, Edgar Visco. Oh, sim, chegaria.

"Você", pigarreei, "você realmente acha que vai dar certo? Digo, hoje."

"É melhor que sim...", levou a bebida ao encontro dos lábios, mais calmo. "Por que se não, é tempo gasto e mais sangue derramado."

"Por que acha isso?"

"Não é sempre assim, afinal?", deu outro gole, checando o local, mais focado desta vez.

Sentia-me um pouco acuado com o fato de estarmos à espera de um assassino de sangue frio, mas Edgar estava calmo; era possível ver em seu rosto que estava calmo – talvez o seu grande mérito. Ainda pergunto-me: como ele conseguia?

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