Capítulo I - Ligados por Sangue / Parte 24: Linda Rivera

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O pedido fora bonito, com o toque de clichê que tais momentos costumam ter. Pessoalmente acho que um pedido de casamento é apenas um prefácio, sendo tudo que o segue o livro como um todo. Belos prefácios são atrativos e possuem seu charme, mas o livro é o que realmente importa; é o que se vive, é o que lembra... Minha esperança era de protagonizar uma bela história ao lado dele.

***

Após ele sentar-se à mesa, a moça dos cabelos loiros trouxe uma garrafa de champanhe.

"Um brinde?", ele disse, levantando a taça.

"Um brinde", repeti o ato.

"Ao agora, pois não há, na vida, momento melhor que este..."

"E ao futuro, por nos dar a chance de repetir tais palavras."

Sempre recitávamos esses versos que criamos em momentos especiais. Saíram, pela primeira vez, de forma tão espontânea que soubemos no exato momento que aquelas palavras nos pertenciam.

"Carpe vitae", repetimos, em uníssono.

As taças tintilaram e, em seguida, levei a bebida ao encontro dos lábios. "Aproveite a vida...", uma bela frase para ser dita antes de selar uma noite tão especial como aquela. A champanhe possuía um aroma perfumado de bálsamo e o gosto adoçado. Olhávamos um para o outro; sorríamos. A bebida passava suavemente por minha língua. Não digo que fiquei totalmente surpresa com o fato de algo ter tocado meus lábios ao final.

"O que é isso?", desviei os olhos para o fundo da taça, ao tempo que senti um toque em minha outra mão. Edgar estava ajoelhado perante minhas pernas; meus olhos umedeceram, como poderia ser diferente?

"Linda..."

Todos os olhos voltavam-se para a nossa mesa. Um homem ajoelhado frente à sua mulher é sempre algo que vale a pena ver.

"Que lindos!", uma senhora comentou com seu marido, próximo a mesa.

"Em um mundo de tantas incertezas, coisas perversas, onde muitos se perguntam por que viver... Acredite, eu mesmo já me perguntei", sorriu. As lágrimas corriam pelo meu rosto; apenas balançava a cabeça em resposta, com a mão segurada por ele trêmula de emoção. "Ainda me perguntaria se não tivesse a conhecido. Se estivesse vivo, por Deus!"

"Eddie...", postei a taça na mesa, deitando a mão sobre a dele.

"Deixe-me terminar", insistiu. Uma lágrima também surgia em seu rosto. "Se a elogiasse a todo instante, não seria o suficiente. Não sou digno de você; nunca fui...", as pessoas do lugar demonstravam comoção em seus semblantes. "Talvez nunca serei."

"Você é...", apenas movi os lábios.

"Mas não consigo deixar de te amar. De todos os pecados, perdê-la seria o pior..."

"Por que você não é assim?", outra senhora resmungou com seu cônjuge.

"Provavelmente o único que eu não cometeria...", ele sorriu. "Entendo por vida todos os momentos que estou contigo, e, por este motivo", puxou o ar; também estava com os sentimentos à flor da pele.

"Ela vai sair correndo!"

"Cale-se mulher!", o casal discutia.

A despeito dos murmúrios, todos os olhos fixavam-se na mesa onde estávamos. Até mesmo os garçons pararam de servir para observar o desfecho.

"Você, Linda Rivera, aceitaria..."

"Claro!", não o deixei terminar a frase, pulando para abraçá-lo. "Claro, claro, claro!", clamava, beijando-o.

Um filete de champanhe riscou o ar atrás de nós. Alguns até postavam-se de pé, aplaudindo-nos.

"Eu te amo...", ele mova os lábios.

"Eu também, meu Eddie..."

Ele pegou o anel, que incrivelmente ainda estava no copo, e colocou no meu anelar direito.

"Pensou que escaparia?"

"Bobo!", olhei o anel. Esmeralda! "É maravilhoso, Eddie! Maravilhoso!"

Ficamos mais um tempo no restaurante; Eddie parou de beber após alguns minutos - era o motorista da noite, afinal. Eu continuei mantendo o copo cheio; estava noiva!

"Linda Visco", pensava. "Posso me acostumar com isso!"

Fora do recinto, joguei-o na parede, enchendo-lhe de beijos ternos - do tipo que abstrai a noção de tempo e espaço.

Éramos adolescentes no primeiro encontro: apaixonados e extasiados.

***

Seguimos para minha casa. Eddie abraçava-me pelas costas, cobrindo meu pescoço com sua quente língua à medida que eu tentava abrir a porta. Abrindo-se esta, joguei-me sobre meu noivo que, carregando-me, adentrou o recinto, fechando a porta com um chute e jogando-me contra a parede mais próxima, apertando minhas coxas e seios, mordiscando meu pescoço e minha boca. Ele tentava desabotoar a camisa e eu o ajudava; não importava-me qual o preço daquela peça de roupa, queria mais que tudo seu peito desnudo encostando em meu tronco. Sua mão deslizava, descendo pela barriga, vagarosamente, encontrando, úmido, o meio de minhas pernas. Arquejei com o forte aperto em meus cabelos, sendo guiada para o meu quarto.

Próximos a cama, decidi tomar o controle. Desviei-me de seus braços e o empurrei sobre as cobertas. Seu olhar estava perdido; ele não desconfiava, mas eu quem o possuía. Sorrindo, subi meu vestido, revelando toda a pele de minhas pernas. Ele tentou se levantar, tentou agarrar-me, mas com o pé em seu peito, coloquei-o em seu lugar. Eu estava no comando; eu sempre estava no comando. Voltando a cama, desceu suas calças, sem tirar os olhos de meu corpo, agora coberto apenas por uma fina e provocante lingerie preta - meus seios ameaçavam saltar a qualquer momento, para o delírio de meu Eddie. Retirei o sutiã, postando meu braço para cobrir o que ele tanto queria e, com a mão livre, retirei a parte debaixo, aproximando-me dele. Eddie não podia mais resistir; agarrou-me, lançando-me na cama com euforia. Pertencíamos um ao outro e, no ápice do prazer, éramos os únicos no mundo; nada mais importava.

***

Fizemos amor como se fosse a última noite mundana. E, de fato, para milhares de pessoas que morriam naquele instante no belo, fantástico e cruel - excepcionalmente cruel com alguns - planeta que nós, humanos, insistimos em chamar de Terra e de nosso, era aquela a última noite. Em especial, para um embriagado senhor que, saberíamos depois, não se encontrava muito distante de nossos quentes lençóis. Mas, diferentemente de nós, não possuía uma noite banhada em prazer e êxtase, e sim em sangue... seu próprio sangue.

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