Capítulo VIII - Liberte-se / Parte 4: George Hoff

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Os policiais estavam espalhados pela rua com suas lanternas. Buscavam aquilo ao qual Edgar se referira como a peça fundamental, o vértice do quebra-cabeças.

Apalpei meu peito. Estava tudo bem – foi o que me disseram e era o que eu gostava de pensar –, mas o fazia de forma involuntária, como que para ter certeza de que o coração ainda se mantinha no lugar. A despeito da insistência – eufemismo – de Gisele, tinha que participar do fechamento desse caso. Participei do campeonato todo e queriam me tirar da final? Não! Jogaria contundido, não havia problema! Um último esforço. Um último esforço que eu esperava que não me matasse.

"George!", a pequena Rachel me chamou e fui ao seu encontro.

"O que encontrou?"

"Sangue...", seus olhos brilhavam. Eureca! "Assim como Edgar disse", frisou, levantando-se. "Aqui!", acenou para os colegas.

Devo admitir que era um alívio Edgar Visco, em quem apostara mesmo contra a vontade de alguns, ter acertado essa. Meus ombros ficaram mais leves.

"Paul!", chamei-o, ele estava junto a uma viatura.

O policial se aproximou. "Senhor."

"Já está tudo pronto, Rachel?", perguntei.

"Acho que sim...", recolhia a amostra. "Creio ser o suficiente."

"E será! Paul, leve-a para a estação, por favor. Rachel, faça o que puder para termos esses resultados o quanto antes".

"Senhor", ele assentiu.

"Claro, George." Segurava o plástico que continha a amostra de sangue.

"Tenho o pressentimento que o tempo não está a nosso favor...", notei-me falando em voz alta. "O que estão esperando? Vão! Vão!", gesticulei.

Os dois assentiram e saíram.

"E onde diabos está Edgar?", questionava-me.

Ao som das sirenes, senti-me um pouco frágil. Lembrei-me da voz de Gisele. Nunca pensei que fosse me sentir assim em algum momento da minha vida. Bom, creio que é apenas mais uma das vaidades do meu mais antigo amigo tempo querendo me vencer. Creio também que a esta altura do campeonato ele estava vencendo. A mão, automaticamente, foi a altura do meu peito, com os pensamentos. A vida é de fato uma terra de desconhecidos; ninguém sabe o que acontecerá no próximo passo. É sábio, porém, precaver-se.

Olhei para o céu e soube: a noite seria longa. Sabia disso da mesma forma que quando acordamos e sabemos se o dia será ou não um grande dia. No fundo, todos nós somos agraciados com um pouco do dom da vidência.

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